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Maysa Polcri
Publicado em 20 de novembro de 2023 às 17:00
O jornalista Manoel Soares não quer voltar à televisão. Pelo menos não por enquanto. Depois da saída conturbada da TV Globo em junho deste ano, o apresentador de 44 anos admite que combater o racismo dentro de grandes empresas é tarefa árdua e cansativa. Durante um evento em Salvador no dia da Consciência Negra, celebrado nesta segunda-feira (20), ele falou sobre o que caracteriza como “indústria da lágrima preta”. >
“É uma indústria que nos exila porque quando denunciamos as injustiças que sofremos, geramos lucro para essa indústria. Mas, se não denunciarmos, seremos conivente com ela”, falou o jornalista durante painel no Festival Afrofuturismo, no Pelourinho. Ao longo da conversa, Manoel Soares fez diversas referências ao tempo que ficou na emissora, chegou a dizer que foi demitido e disse que pretende se manter afastado da televisão por “um tempo”. >
“Quando você denuncia uma situação de racismo, você luta contra ele e, ao mesmo tempo, atesta publicamente o poder do seu opressor. E isso é muito delicado e nos coloca em uma sinuca de bico [...] Temos que saber como sair desses lugares”, completou Manoel Soares. O apresentador participou dos programas ‘Encontro com Patrícia Poeta’, da TV Globo, e do ‘Papo de Segunda’, do GNT.>
O painel ‘Inovação, Tecnologia, Educação e Políticas de Equidade a serviço da Redução das Desigualdades’ contou ainda com as participações da intelectual Bárbara Carine e Angel Vasconcelos, líder de Equidade do IFood. Para Manoel Soares, buscar se livrar das armadilhas imposta pelo racismo passa pela colaboração entre pessoas negras. >
“Existe algo chamado de técnica avançada do colonizador, que consiste em colocar um contra o outro e depois tocar o terror. Precismos lutar contra isso [...] Mas não é fácil estar dentro de uma grande estrutura, eu não pretendo voltar tão cedo”, afirmou. >
Durante a conversa, Bárbara Carine, fundadora da Escola Maria Felipe, a primeira de matriz afro-brasileira do país, ressaltou como preparar os mais novos para o combate ao racismo. “Crianças não precisam acessar as dores que acessamos. Precisamos pensar, em uma perspectiva educacional, que quando a dor chegue, as crianças estejam empoderadas para enfrentá-la de forma diferente”, disse. >