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Gil Santos
Publicado em 9 de novembro de 2023 às 11:12
Um trabalho em conjunto entre a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) mapeou as organizações criminosas que atuam no estado. O mapeamento traz dados sobre as áreas de atuações das facções. >
A informação é do diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, que está em Salvador nesta quinta-feira (9), participando de um evento sobre mudanças climáticas. Segundo ele, foi feito um georreferenciamento no estado.>
"O superintendente deve entregar essa semana um trabalho que foi feito em conjunto com a secretaria. É um mapa detalhado de área de influência de cada uma das organizações. Esse mapa vai permitir colocar outras camadas de dados para ir melhorando o enfrentamento. Um trabalho de georreferenciamento", explicou Corrêa. Ele destacou que há uma boa relação entre a agência e o secretário da Segurança Pública, Marcelo Werner.>
Facções tocam terror na capital e no interior da Bahia>
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho deste ano, a Bahia aparece no topo do ranking nacional da violência. Com um total de 6.659 mortes intencionais em 2022, o estado é o segundo no ranking do mais violento do país, atrás apenas do Amapá.>
Recém-chegada do Rio de Janeiro, o Terceiro Comando Puro (TCP), além de DPM, Raio A, Raio B e o BDN (Bonde do Neguinho) são alguns exemplos de organizações criminosas que espalham o terror no interior da Bahia.>
“Recentemente começaram a circular aqui em Jacobina, vídeos e áudios de pessoas ligadas a facções criminosas e que estavam chegando para invadir a cidade, exigindo respeito dos empresários, dos moradores, das comunidades. Nas imagens, eles mostravam armas pesadas e diziam que ia morrer muita gente. Entre julho e setembro aconteceram algumas mortes, que deixaram a população apavorada”, relata uma moradora de Porto Seguro ao CORREIO, que se mudou para o interior há dois anos, com medo da violência em Salvador.>
As ações de enfrentamento da polícia concentradas na capital ao longo dos anos abriram espaço para a chegada de organizações nacionais e também possibilitaram o surgimento de novos grupos locais, conforme explica Wagner Moreira, do Ideas Assessoria Popular e do Fórum Popular de Segurança Pública da Bahia.>
“Esta não é uma dinâmica exclusiva da Bahia. É uma dinâmica das regiões Norte e Nordeste do país. A estratégia de enfrentamento ostensivo ignorando a demanda pelas drogas fez o mercado se reorganizar. A disputa por hegemonia nestes novos territórios contribui significativamente para o quadro de violência atual, que não se acomodará no curto prazo”, declara Moreira.>
O especialista em segurança pública, professor Luiz Lourenço, do Laboratório de Estudos Sobre Crime e Sociedade (Lassos) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), acrescenta que o cenário se deu também em decorrência do “intercâmbio do crime” no sistema carcerário.>
“Essa consolidação vem acontecendo de maneira contínua há pelo menos oito anos. Antes do RDD (Regime Disciplinar Diferenciado, regime com maior grau de isolamento e restrições de contato com o mundo exterior), tivemos a presença de lideranças importantes de São Paulo que ficaram custodiadas no interior da Bahia”, explica.>
Com informações do repórter Bruno Wendel>