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Moyses Suzart
Publicado em 3 de dezembro de 2025 às 05:00
A viagem entre Ilhéus e Salvador foi como entrar num mundo desconhecido, incerto e cheio de perguntas sem respostas. Afinal, por quê? A viagem de Maxsuel não era a passeio. Estava levando seu filho Maicon, de apenas cinco anos, para seu primeiro tratamento de radioterapia oncológico no Aristides Maltez (HAM). A criança, quietinha, se escondia atrás de uma máscara de rosto e o pai segurava as emoções. Até que o Papai Noel apareceu com um boneco de super herói. Enquanto o pai tentava, em vão, segurar as lágrimas, o jovem Maicon abria um sorriso tão intenso que dava até para ver atrás da máscara. Ele foi uma das crianças em tratamento oncológico na unidade infantojuvenil do hospital que recebeu presente e afeto do Bom Velhinho, que distribuiu bolas, bonecas, jogos, entre outros brinquedos muito mais representativos que um simples objeto. >
“Cheguei sem saber o que iria encontrar aqui, e fomos recebidos com presente. É algum aviso que vai dar tudo certo, né? É Deus mandando a resposta que eu estava perguntando durante toda a viagem”, disse Maxsuel, que naquela hora já não segurava o choro. Desde 2015, a Braskem leva magia de Natal para crianças em tratamento oncológico e nesta terça-feira (2) não foi diferente. Cerca de 100 presentes foram distribuídos para crianças e adolescentes, inclusive acalmando o coraçãozinho revoltado de algumas crianças. >
“Estou chateada que minha mãe comprou uma boneca na Shopee, demorou e chegou toda quebrada, um horror. Agora ganhei minha boneca aqui, linda, vou brincar”, conta Jéssica, vestida de princesa, com um chapéu rosa que ela também comprou na internet. “É de ir para praia, mas princesa também usa”, disse a paciente de 8 anos, empolgada em brincar com o presente do Papai Noel. “Ela até esqueceu da viagem que fizemos de Tucano até aqui. Chegamos há pouco tempo e devemos voltar ainda hoje. Não vai desgrudar desta boneca”, conta a mãe, dona Catarina. >
No Brasil, somente em 2024, mais de 8 mil casos de crianças e adolescentes com câncer infantojuvenil foram registrados. Entre os mais comuns estão a leucemia, os tumores do sistema nervoso central e os linfomas. No Aristides Maltez, cerca de 35 crianças com algum tipo de câncer são atendidas, por dia, sem contar as internações nos 18 leitos disponíveis. E são pacientes de todo estado, como Jéssica e Maicon, que moram no interior. Imagina como ganhar um presente se torna representativo para ela e toda família. >
“Às vezes uma bola, uma boneca dá um fôlego a mais para elas. Muita gente não tem noção de quanto isso é representativo. Muitas vezes não é nem o presente em si, mas a presença das pessoas, o carinho, o olhar. É se sentir visto. Esse momento onde as pessoas se mobilizam para estar junto com eles traz realmente um gás muito maior. Eles se sentem muito mais especiais com isso”, garante Naara Esmeraldo, gerente de enfermagem e coordenadora administrativa da oncopediatria do Aristides. >
O presente, inclusive, se amplia para os pais, familiares e os próprios funcionários do hospital. “Não é todo mundo que consegue. Realmente é muito difícil, não vou dizer a você que é algo fácil. Mas, curiosamente, é muito prazeroso trabalhar com oncologia pediátrica. A gente vê esses meninos passando por um processo tão doloroso, mas sempre com um sorriso no rosto. A gente precisa dar uma atenção especial àquela criança e à família como um todo, porque muitas mães e pais abandonam o seu lar, saem da sua cidade, do conforto da família, e precisam viver uma nova história durante esse tratamento. E a figura do Papai Noel tem esse poder, né?”, completa. >
Todo ano, a Braskem convoca colaboradores e parceiros para a ação. As pessoas escolhem cartinhas com pedidos padrões, como carrinhos, bonecas, jogos, entre outros. Lá, com a presença do Papai Noel, as crianças chegam e dizem ao Bom Velhinho o que gostariam de ganhar entre os presentes que chegaram. Os pacientes internados recebem nos leitos. O resto, é só alegria. Voluntários também são selecionados para passar este momento no Aristides, distribuindo não apenas brinquedos, mas carinho e atenção também. >
“Por mais que seja difícil, por mais que esteja todo mundo no fechamento do ano, naquela correria, todo mundo encontra um tempinho para comprar um presente, adotar uma criança e fazer o bem. Acho que existe um sentimento de solidariedade muito maior que fica potencializado nessa época do natal; A gente fica muito feliz, enquanto empresa, de poder contribuir e estimular que mais pessoas façam isso, sejam picadas pelos bichinhos do amor, da solidariedade e do voluntariado, conta Ruth Oliveira, analista sênior da Brakem. Ela faz trabalho voluntário há mais de 20 anos.>
“Às vezes é muito simples. Às vezes é uma boneca, uma bola. Pode ser o primeiro brinquedo que aquela criança ganha na vida. Isso parte o coração, porque a gente acha que é pouco, mas aquilo transforma”, completa Ruth.>
Larah Alves ganhou damas. A felicidade era plena e contagiava qualquer pessoa que passava ao seu lado. “Quando passei por tudo isso, dei mais valor ao simples respirar, olhar a natureza, sorrir mais e amar ganhar presente. É lógico que acredito em Papai Noel, assim como acredito na vida”, disse Larah, que adotou o “h” no fim do seu nome, como um novo nome para alguém que renasceu. >
“O caso dela era muito delicado e difícil de reverter. Na cirurgia, se falava na espera de um milagre, pois ela possivelmente não sobreviveria ou ficaria com fortes sequelas. No dia da cirurgia, todos choravam, menos ela. Entrou sorrindo e dizendo para se acalmarem. E está aí, emanando alegria e sem sequelas. Você está olhando o próprio milagre”, disse Eva, mãe de Larah. “Agora não fala outra coisa. Vai ser médica pediatra”, revelou. Sua cirurgia foi este ano, em abril. O caso dela foi um Meduloblastomas, tumor maligno no cérebro comum em crianças. Que ela venceu. >
Num ambiente que não é fácil, o espírito natalino se fez presente e o significado do natal, o verdadeiro, contagiou a todos. Enquanto as crianças esperavam sua vez de ganhar o abraço do Papai Noel, Maicon, já com seu presente, arrancava o embrulho para ver qual o herói estava lá. Ele tirou a máscara, em momento raro, para contar ao pai. “É o Homem de Ferro, pai. Poderoso igual a mim”.>