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Millena Marques
Publicado em 31 de janeiro de 2024 às 05:00
A primeira coisa que o cliente pede na barraca de Sérgio Silva, 59 anos, em Piatã, é uma água de coco bem gelada, um dos itens mais queridos pelos amantes de praia. Neste verão, no entanto, o produto, que já costuma aumentar tão logo começa a alta estação, inflacionou e está sendo vendido até pelo dobro do preço. Com o acarajé, iguaria preferida para acompanhar a água de coco ou a cerveja gelada, acontece a mesma coisa. O quitute, que antes era vendido por R$ 10, saltou para R$ 15 no tabuleiro da baiana. >
Em outubro de 2023 os clientes pagavam R$ 3 por um coco gelado na barraca de Sérgio. Hoje, cada unidade sai por R$ 6, ou seja, 100% de aumento. A justificativa para o aumento de preço é que no Verão, a mercadoria também custa mais para o comerciante, entre R$ 3 e R$ 3,50, o que representa um aumento de até R$ 2,50 por unidade, já que o produto saoa por R$ 1 para revenda antes do começo da alta estação.>
“Tem que vender porque não tem jeito, o cliente pede o produto. Aqui em Piatã o coco custa R$ 6 e todo mundo vende nesse valor. Talvez o cliente encontre de R$ 5, a depender do tamanho do coco”, diz Sérgio. >
Seguno ele, não há uma previsão de queda do preço do produto. Isso porque os distribuidores já informaram que a tendência é aumentar ainda mais até o Carnaval. Além do encarecimento na distribuição do coco, Ségio revela preocupação também com o preço do gelo. Um saco de 20kg é adquirido por, no mínimo, R$ 13, valor que também deve sofrer alterações e passar para R$ 15 até o Carnaval. >
“Você coloca o gelo no coco e dentro de uma hora e meia já derreteu tudo e tem que comprar outro saco”, afirma o comerciante. Por dia, Sérgio compra, em média, cinco sacos de gelo. Se trabalhar todos os dias da semana, tem que desembolsar R$ 455 só com gelo durante o mês.>
Em Amaralina, Alessandra dos Santos, 38, que trabalha com uma barraca de bebidas na praia há 10 anos, também teve que aumentar o valor da água de coco de R$ 4 para R$ 5 em razão do aumento no distribuidor. Além de desembolsar um valor mais caro por cada unidade de coco, a comerciante sai de Amaralina semanalmente para comprar o estoque de sete dias no Comércio, o que gera um gasto de R$ 100 com táxi.>
Um dos itens mais consumidos dentro e fora das praias, o acarajé de Carmen, em Amaralina, custava R$ 10 em outubro e agora custa R$ 15. O aumento também foi registrado para a venda das porções. Um prato com 13 bolinhos, que custava R$ 20, agora vale R$ 25.>
A filha de Carmen, Rosana dos Santos, 39, que também trabalha no tabuleiro, afirma que o aumento é resultado da alta demanda e da elevação nos custos com os ingredientes primários da iguaria, como o feijão, o quiabo e o camarão. “Tudo aumenta no verão, desde o feijão até o azeite. Além disso, a cidade é turística, vem muita gente para cá, e isso também influencia”, afirma.>
Taís Divino, 18, trabalha na barraca de acarajé de uma amiga, em Piatã. Lá, o aumento também foi de 50% para o bolinho único, com vatapá, caruru e salada. Antes da alta estação, a unidade era vendida por R$ 10. Hoje, o cliente leva o quitute por R$ 15. A porção com 12 bolinhos ficou R$ 7 mais cara, saiu de R$ 15 para R$ 22. Na barraca, a porção da passarinha também ficou mais cara e subiu de R$ 18 para R$ 22.>
A explicação também é o aumento no fluxo de clientes e no preço dos ingredientes. “Nesse período, a praia fica mais cheia e é nesse momento que nós aproveitamos para fazer um dinheiro extra e temos a oportunidade vender. Além disso, tem o encarecimento do material do acarajé”, diz Taís. >
Nem o caldo de cana escapa da inflação. Ainda em Piatã, Idelbrando da Natividade, 62, que trabalha com a bebida há 24 anos, diz que o aumento da iguaria deve ocorrer em fevereiro, com um acréscimo de 20% em todas as unidades. Hoje, os copos de 300ml, 400ml, 500ml e 770ml são vendidos por R$ 5, R$ 6, R$ 8 e R$ 12, respectivamente. A partir do próximo mês, cada dosagem ficará R$ 1 mais cara.>
O economista Denilson Lima, coordenador da Pesquisa de Índice de Preços ao Consumidor da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), explica que o acarajé, a água de coco e o caldo de cana encarecem por conta da época do ano.>
“Provavelmente, esses produtos ficam mais caros por causa do aumento da demanda. Muitas pessoas tiram férias nessa época, muitos turistas estão em Salvador e é um período pré-Carnaval. Isso contribui para maior uma disponibilidade de consumidores”, explica.>
Segundo ele, o aumento dos produtos segue a clássica lei da oferta e da procura: quando a demanda por um produto aumenta, o ofertante, ou seja, p vendedor, aumenta o preço, pois é o momento de obter maior lucro. “Muito provavelmente, outros produtos consumidos nesta época, como refrigerantes e cervejas, também ficam mais caros”, comenta o economista.>
*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo>