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Aldeia Hippie vira o 'Paraíso do Tráfico': moradores são obrigados a esconder armas e hospedar traficantes

Facção está na região há cinco anos e usa a aldeia como ponto estratégico para apoio logístico

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 30 de junho de 2025 às 05:00

Aldeia Hippie vira refúgio do CV e polícia faz operação contra o tráfico
Aldeia Hippie vira refúgio do CV e polícia faz operação contra o tráfico Crédito: Ascom PC

Entre as dunas que separam o mar do Rio Capivara, está um espaço para quem buscava um estilo de vida mais sustentável e que existe desde a década de 60 em Arembepe, no Litoral Norte. Isso porque os bons ventos que traziam o turismo, agora viraram apenas tormenta. A Aldeia Hippie, que em seu auge já recebeu personalidades como Janis Joplin e Mick Jagger, hoje é refúgio do Comando Vermelho (CV), onde os traficantes obrigam os moradores a esconderem armas e a hospedá-los.

Arembepe está a cerca de 30 km de Salvador e a Aldeia Hippie surgiu nas décadas de 1960 e 1970, quando jovens idealistas buscavam liberdade e uma vida mais simples. No entanto, a aldeia, composta por cerca de 40 chalés e que ficou conhecida por ser um dos centros mais importantes do movimento hippie no Brasil, tem sido o refúgio para o CV há pelo menos cinco anos, segundo o delegado Antônio Sena, titular da DH de Camaçari.

“E desde então, vinham obrigando os moradores a esconder armas e drogas. Quem se recusava era ameaçado. Algumas pessoas deixaram o local com medo”, declara o delegado. Sena aponta outro agravante: os donos de pousadas eram obrigados a hospedar traficantes. “Obrigavam a dar guarida, principalmente quando a polícia fazia operação lá. Coagiam, ameaçando de morte”, diz o delegado.

As investigações na região começaram desde 2023, com o triplo homicídio. As vítimas foram sequestradas na Praça de Arembepe e levadas para a localidade de Parque Real, em Serra Verde, em Camaçari. “Eles foram levados e mortos porque acreditavam (CV) que os três tinham ligação com o outro grupo”, relata o delegado sobre o Bonde do Maluco (BDM) que o ocupa a metade da localidade de Emissário de Arembepe. Com a permanência do tráfico, a região registrou dezenas de homicídios.

A reportagem conversou com dois moradores, que vivem do turismo na aldeia. Ambos foram unânimes em relatar como o tráfico impôs mais que o medo. Trouxe prejuízo para a comunidade. "Não vem mais ninguém visitar a gente. Quem é daqui, da Bahia, não vem mais. Foi forte. Quando vem, é um desavisado", diz um artesão sobre a fama recente do local. "Sem exagero, perdemos 90% do turismo", emenda outro. A reportagem procurou a diretoria de comunicação da Prefeitura de Camaçari na quinta, 26, e  sexta, 27, mas ninguém respondeu. 

Para o CV, a região é estratégica. “É uma região de charco numa mata; por isso, é de difícil acesso. Outro local onde eles se escondem é a Morada Ecológica, um local de mata fechada, que é próxima à Aldeia Hippie. De lá, eles conseguem monitorar os passos da polícia, mas a gente não consegue vê-los. Por isso usamos os drones na operação”, declara Sena, fazendo referência à operação no último dia 13.

Operação

No dia 13 de junho, a Polícia Civil fez uma megaoperação contra o tráfico de drogas em Arembepe. A ação teve como alvo a Aldeia Hippie e o Emissário e alcançou seis integrantes do CV – quatro deles entraram em confronto com policiais, foram baleados e não resistiram. Outros dois traficantes tiveram os mandados de prisão cumpridos durante a ação batizada como ‘Capitães da Areia’. Entre os mortos está Jackson Santana da Silva, o ‘Babidi’, uma das lideranças. Após o óbito, um ‘toque de recolher’ foi imposto no comércio local pelos traficantes.

Em um dos casos de prisão, uma ocorrência com refém foi registrada na tentativa de fuga. Um dos alvos do mandado de prisão preventiva recebeu a equipe policial a tiros, houve confronto e, após ferido, o criminoso tomou uma mulher como refém em um imóvel. Policiais da Coordenação de Operações e Recursos Especiais (Core) fizeram a negociação e o criminoso se entregou, libertando a refém.  

Durante as ações, que também cumpriram 21 mandados de busca e apreensão, foram apreendidos uma granada, dois revólveres, uma espingarda, três pistolas com seletor de rajada, carregadores alongados e em caracol, drogas, embalagens e equipamentos utilizados no tráfico de entorpecentes.

Entre os crimes investigados estão os homicídios dos irmãos percussionistas do grupo Malê Debalê, Gustavo Natividade, de 15 anos, e Daniel Natividade dos Santos, de 21, assassinados em outubro de 2024. Como informado pelo Correio em reportagem anterior, os jovens artistas foram mortos após posarem para uma foto com sinal associado a uma facção.

Outro crime atribuído ao grupo é a morte de Victor Guilherme Pereira de Souza, ocorrido na madrugada de 17 de abril, na região de Galo Assanhado, em Areias. A vítima foi executada em uma ação coordenada por cerca de vinte homens armados. O caso está relacionado à disputa entre grupos criminosos pelo domínio do tráfico de drogas na região.

Segundo informações da polícia, um inquérito policial identificou a utilização do Emissário e da Aldeia como ponto estratégico para apoio logístico.

Luxo

‘Babidi’ é irmão de Djavan Santos Conceição, o ‘Edcity’, o então líder do grupo.  'Edcity' foi preso em novembro do ano passado, durante a Operação Nexus realizada em Cuiabá, pelas Forças Integradas de Combate ao Crime Organizado (Ficco) da Bahia e do Mato Grosso.

Ele passava por empresário, morava em uma casa de luxo, em bairro nobre, e mantinha rotina de alto padrão na capital mato-grossense. De lá, ele determinava a execução de rivais e abandono de corpos em Lauro de Freitas e Camaçari.

As investigações apontam também que Djavan era responsável pelo envio de fuzis, pistolas, carregadores, munições e drogas para a Bahia. Todo o material ilícito era negociado na Bolívia. Ele era procurado por homicídios, tráfico de drogas e armas, corrupção de menores, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, uso de documento falso e associação criminosa.

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