Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Dias mais quentes atrapalham vendas na Avenida Sete, de acordo com ambulantes
Millena Marques
Yasmin Oliveira
Publicado em 15 de novembro de 2023 às 12:00
Ainda não é verão, mas o calor na capital baiana faz parecer que sim. A pouco mais de um mês para a alta estação, o soteropolitano tem certeza de uma coisa: a cidade nunca esteve tão quente como agora. Vendedora ambulante há 32 anos, Maria Valdelice de Santana, mais conhecida como tia Val, mantém uma rotina de trabalha árdua, que piora com o sol escaldante de novembro.
Aos 69 anos, a moradora do Centro arma sua barraca de domingo a domingo na Avenida Sete, sem dia de descanso. "É uma dureza, o sol está muito quente. Às vezes fico aqui agoniada, mas a gente precisa vir. Desde que eu entendo por gente, eu nunca faltei um dia sequer", diz a ambulante.
Tia Val conta que, em mais de três décadas de trabalho na Avenida Sete, nunca fez tanto calor como agora. Para amenizar a situação, a única opção é beber muita água. Antes das 12h desta terça-feira (14), a ambulante também já tinha adquirido um geladinho. "Tem que ser na base da água e do geladinho, para gente aguentar esse sol escaldante", pontua.
Do ponto onde tia Val vende água, cerveja, vassoura, pano de prato e conjunto de vasilhas, dá pra ouvir as reclamações do povo quanto ao calor. "Tá muito abafado, não é possível, um sol para cada cabeça", exclama um. "Já é verão em Salvador", diz outro. O fato é que a cidade está mais quente.
A aposentada Eliza Maria de Oliveira, 79, caminhava segurando um guarda-chuva pela Avenida Sete, não para se proteger dos pingos d'água, mas do sol. "Quando está muito quente, o jeito é abrir a sombrinha e tomar bastante água", disse.
Mesmo com o sol escaldante, a aposentada não deixa de sair casa. No entanto, ela busca sair sempre antes das 10h, para evitar o calor. "Está fazendo calor como nunca fez antes. Isso é uma das consequências do desmatamento, das mudanças climáticas, esse calor, com certeza, é resultado disso", pontua.
Colega de calçada de Maria Valdelice, Roberto Galvão, 37, relata uma rotina cansativa, principalmente por causa do clima. "Esquentou demais. Os dias estão mais quentes do que em outros tempos. A gente vem trabalhar nesse sol, porque é necessário. Tem que enfrentar de qualquer jeito", diz o vendedor de itens eletrônicos, que trabalha como ambulante há mais de 20 anos.
Galvão conta que o calor impacta diretamente nas vendas. Segundo ele, a maioria dos clientes vai à Avenida Sete com o objetivo de compra em mente. Dificilmente, as pessoas vão parar em muitas barracas, para procurar produtos que não são necessários no momento. "Ninguém para por causa do calor, porque não tem local para se esconder do sol", diz.
A rotina dos moradores da capital também foi alterada pelo maior uso dos eletrodomésticos que refrescam, como o ar-condicionado e o ventilador. Com o uso destes aparelhos se tornando parte da rotina para conseguir uma noite melhor de sono, a conta de luz do motorista de Uber, Alef Ryan, aumentou em 150%.
"Passei a usar mais ventilador e o ar condicionado junto para tentar dar uma refrescada. Antes só usava o ventilador, porque o ar condicionado gasta mais, mas agora, tendo que usar os dois juntos, a conta foi de 80 reais para 200 reais nesse mês. Só esse momento da noite que ligo já consegui perceber a diferença", relata Alef (23).
A estudante de 22 anos, Ester Oliveira, já utilizava o ar-condicionado durante os dias de calor, mas agora aumentou a frequência. O aparelho, que era somente ligado uma vez ao mês, passou a ser utilizado duas e até mesmo três vezes por semana, o que fez sua conta saltar de R$ 60,00 para R$120,00. "Eu me esforço para não usar, mas acabo usando bastante ar condicionado. Esses últimos dias está fazendo bem mais calor que antes, então eu estou usando consequentemente também mais ar condicionado. O ventilador fica praticamente sempre que eu estou em casa ligado. É muito difícil ele ficar desligado, mas isso já era comum antes. Mas o ar condicionado ligado durante uma noite é o que mais afeta o valor da energia lá de casa", relata a estudante.
Até mesmo as pessoas que não possuem ar-condicionado em casa, sentiram a diferença na conta de luz. A estudante Laís Apresentação (21) tem apenas um ventilador em sua casa, mas o uso intenso do aparelho durante a noite fez com que a sua conta de luz aumentasse de R$46,00 para R$76,00 no último mês.
Em nota, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) registrou um aumento na carga elétrica utilizada no país. A principal razão, segundo o órgão, para este comportamento da carga é a significativa elevação de temperatura verificada na maioria do Brasil.
A Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) informou em nota que o aumento do consumo de água está ocorrendo de forma proporcional ao aumento da temperatura e quantidade de pessoas que a cidade recebe durante a alta estação. Com a chegada da primavera e do verão na Bahia, a Embasa estima um aumento de consumo da ordem de 13% em relação ao consumo da baixa estação.
A Neoenergia Coelba foi procurada para informar se houve um aumento gerado pela empresa e a média de consumo de energia pelos baianos no último mês, mas não houve retorno.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro