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Gil Santos
Publicado em 18 de julho de 2024 às 06:30
A decisão do governo federal de ampliar a vida útil dos veículos usados pela autoescolas dividiu opiniões em Salvador. Para as empresas, a medida foi sensata já que, com o reajuste ocorrido nos últimos anos nos preços dos carros, motos e caminhões, ficou mais difícil substituir a frota. Já os alunos temem que os veículos usados nas aulas fiquem sucateados. >
Na prática, a ampliação foi de três anos para Categoria A. Agora, motocicletas, motonetas e triciclos podem ser usados nas aulas por oito anos. O tempo começa a ser contado a partir do ano seguinte após a fabricação. Então, uma moto fabricada em 2024, por exemplo, poderá ser usada até 2032. Antes, o prazo era de no máximo cinco anos para fazer a troca. >
Já carros (categoria B) passaram de 8 para 12 anos, e os veículos agrícolas, de carga e de transporte de passageiros (categorias C, D e E) subiram de 15 para 20 anos. O motorista por aplicativo Flávio*, 36 anos, tirou a CNH há cerca de dez anos. Ele fez a matrícula em uma autoescola de Salvador, naquele época as aulas teóricas eram apenas presenciais e o jovem conseguiu ser aprovado na primeira tentativa, mas fez algumas observações.>
"Eu já sabia dirigir, porque usava o carro de meu pai algumas vezes para pequenas distâncias. A autoescola foi importante, porque me ensinou detalhes da legislação que eu não conhecia, mas lembro que fiz aula em um carro considerado velho. Como eu já tinha prática no volante, não tive problemas, mas vi alunos que tiveram dificuldade", contou. >
Essa também é a preocupação de Davi Silva, 24 anos, que pretende fazer a CNH no próximo ano. "Estou me organizando para isso e fiquei pensando: com essa decisão, carros que deveriam ser aposentados vão continuar rodando. Acho preocupante", disse. >
Para o educador de trânsito e Observador do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), Rodrigo Ramalho, essa preocupação é desnecessária. Ele lembrou que os veículos usados pelas autoescolas passam por vistorias frequentes, inclusive no dia da prova do Detran. >
"No dia da prova prática, se o examinador verificar que o veículo não está em condições de ser usado, ele chama o instrutor e manda recolher o veículo. São muitas triagens e muitas vistorias. A prova disso é que é muito raro ver um carro de autoescola apresentando problemas mecânicos. Não há esse risco de sucateamento", frisou. >
Ele chamou a atenção para a necessidade de pensar locais adaptados e seguros para os instrutores trabalharem. Lembrou que a falta de um espaço adequado obriga profissionais e alunos a fazerem as aulas em áreas improvisados, inseguros e, às vezes, insalubres. E aconselhou os candidatos a trabalharem o psicológico. "A falta de controle emocional interfere no resultado", afirmou. >
Segundo a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), a Bahia lidera os estados do Nordeste em número de habilitados. Até maio, eram 1.803.436 motoristas nas cinco categorias com CNHs no estado, sendo seguidos por Ceará (1,5 milhão) e Pernambuco (1,3 milhão). Entre os baianos, a maioria dos condutores tem categoria A e B (1,4 milhão) e categoria E (227 mil), e 1,4 milhão deles são homens e 386 mil são mulheres. >
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A ampliação da vida útil dos carros usados nas autoescolas foi uma mobilização das empresas. O presidente do Sindicato das Autoescolas e Centros de Formação de Condutores do Estado (Sindauto Bahia), Wellington Oliveira, explicou que a medida foi importante para garantir a sobrevivência dos negócios. >
"Depois da pandemia ficou praticamente impossível ficar renovando com frequência a frota, devido ao aumento no preços dos veículos. Por exemplo, uma moto, em março de 2020, custava R$ 7,5 mil. Hoje, custa R$ 18 mil. Um Fiat Mobi custava R$ 39.990. Hoje, custa quase R$ 70 mil. Um microonibus custa quase meio milhão de reais. Então, essa medida foi importante, mas também por conta das liminares", disse. >
O presidente explicou que, sem recursos para trocar a frota durante a pandemia, empresas do Distrito Federal, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo acionaram a justiça e conseguiram liminares que suspenderam a substituição dos veículos por tempo indeterminado. As entidades temiam que a falta de parâmetro colocasse em risco o serviço e, por isso, trabalharam para a aprovação dessa nova medida. >
A Lei nº 14.921, que estabelece a idade máxima dos veículos destinados à formação de condutores, foi sancionada pelo presidente Lula e publicada no Diário Oficial da União no dia 11 deste mês. Sobre o receio dos alunos de terem aulas em equipamentos sucateados, o presidente informou que a rodagem dos veículos das autoescolas geralmente é menor do que os carros e motos usados como passeio ou em viagens. >
"Dificilmente uma autoescola vai usar uma moto por oito anos. Normalmente, no meio da vida útil do veículo já é feita a troca. Mas, com esse prazo a autoescola pode programar melhor essa substituição da frota, a empresa pode fazer um consórcio e fazer uma renovação planejada", explicou Wellington Oliveira. >
Segundo o sindicato, são cerca de 500 autoescolas em atuação na Bahia, sendo que 86 estão em Salvador. Juntas, elas são responsáveis por aproximadamente 10 mil empregos que incluem instrutores, diretores de ensino, recepcionistas e o pessoal do atendimento. >
O Departamento Estadual de Trânsito (Detran-BA) foi procurado, mas não se manifestou. >
O CORREIO não conseguiu contato com o Sindicato dos Instrutores e Empregados em Centros de Formação de Condutores de Veículos Automotores do Estado da Bahia (Siepae/Bahia). >
Veja a lista dos estados do Nordeste com mais CNHs: >
*Fonte: Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran)>
Veja o que mudou:>
⦁ Categoria A (motocicletas, motonetas e triciclos) passou de 5 para 8 anos;>
⦁ Categoria B (carros) passou de 8 para 12 anos;>
⦁ Categorias C (tratores e caminhões) passou de 15 para 20 anos; >
⦁ Categorias D (ônibus e microônibus) passou de 15 para 20 anos; >
⦁ Categoria E (carretas e caminhões com reboques) passou de 15 para 20 anos; >
*Usamos nome fictício, porque a fonte pediu para não ser identificada. >