Bahia de cabelos brancos: índice de envelhecimento da Bahia sobe do 12º para o 10º mais alto do país

Total de pessoas na casa dos 60 anos ou mais cresceu 48,9% nos últimos 12 anos, aponta IBGE

  • M
  • Millena Marques

Publicado em 27 de outubro de 2023 às 19:37

Pessoas idosas representam 15,3% da população baiana
Pessoas idosas representam 15,3% da população baiana Crédito: Reprodução

Já olhou a sua volta e percebeu que o número de pessoas idosas, gente que está com 60 anos ou acima disso, é maior do que em anos atrás? Essa observação pode ter sido feita pelos curiosos, que agora recebem uma comprovação oficial: nos últimos 12 anos, o total de pessoas na casa dos 60 ou mais de idade cresceu 48,9% na Bahia, de acordo com um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre 2010 e 2022, foi registrado um aumento de 709.272 idosos nos estados, o que configura um total de 2.159.279 - cerca de 15,3% da população.

Essa nova configuração demográfica faz a Bahia sair da 12ª posição do ranking de estados com maiores índices de envelhecimento do país, ultrapassando Pernambuco e Ceará. Com um indicador de 52,6 idosos para 100 crianças de até 14 anos, o estado baiano figura na 10ª colocação. Os estados com maiores índices são Rio Grande do Sul (80,4/100), Rio de Janeiro (73,6/100) e Minas Gerais (68,6/100).

Conforme o levantamento, o aumento significativo do índice de envelhecimento baiano é resultado da evolução das faixas etárias: o grupo das pessoas com mais de 40 anos de idade foi o único que cresceu nos últimos 12 anos. Foram reduzidos os totais de crianças de até 12 anos (-19,9% do que em 2010), adolescentes de 13 a 19 anos (-20,4%, ficando em 1.479.324) e adultos e 20 a 39 anos (-10,1%, sendo de 4.287.818 pessoas).

Em contrapartida, o percentual de adultos entre 40 e 59 anos aumentou em 2022: um acréscimo de 30,6% do que foi registrado em 2010, registrando um total de 3.762.499. De 60 a 79 anos, foram contabilizadas 1.814.374 pessoas. O crescimento de idosos com 80 anos ou mais também foi significativo, um aumento de 49,6% em comparação de pessoas idosas de 60 a 79 anos (+48,8%, chegando a 1.814.374,) e daquelas com 80 anos ou mais(+49,6%, indo a 344.905).

O envelhecimento mais acelerado da população baiana possui relação direta com a diminuição do número de nascimentos no estado, é o que pontua a supervisora de disseminação de informações do IBGE na Bahia, Mariana Viveiros. "Em uma população que nascem menos crianças, o movimento de redução nas faixas etárias mais jovens é percebido", explica, pontuando que também há influência da longevidade maior.

"As pessoas também estão vivendo mais. Isso é um fato importante, mas é menos importante do que a redução da taxa de natalidade. O índice de crescimento do envelhecimento ainda não é um problema para a Bahia, estamos muito longe disso", destaca

De acordo com a Pesquisa Estatísticas do Registro Civil, também do IBGE, uma diferença de 12.538 nascimentos foi registrada em um período de 18 anos. Em 2003, o estado contabilizou 41.275 nascimentos, entre meninos e meninas. Em 2021, ano no qual foi realizada a última pesquisa do tipo, o número era de 28.737.

Geógrafo e professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Clímaco Dias aponta implicações do efeito demográfico acelerado vivido pela Bahia nos últimos 12 anos. "É um peso maior em questões de previdência social, aposentadoria, preocupação com número de hospitais e mobilidade urbana. Nesse contexto, é necessário analisar esses pontos, que são urgentes para o grupo de pessoas acima de 60 anos", explica.

Segundo o especialista, caso esses dados permaneçam ou aumentem em um futuro não tão distante, podem refletir em um problema que já é enfretado pela Europa: como resolver a queda demográfica com a redução de nascimentos. "Eu vejo uma estabilidade desse crescimento, com tendência a aumentar o número de idosos e a diminuição dos contingentes de crianças".

Isso é explicado pela concentração da urbanização nas grandes cidades, que possuem problemas sérios de moradias, segurança pública, taxas de desemprego elevadas e custo de vida alto. "As crianças possuem despesas exigentes, a insegurança de empregabilidade e a falta de segurança pública são fatores que desaceleram o crescimento da população de forma abrupta, não só no na Bahia, mas em todo o Brasil", pontua Dias.

Autonomia e envelhecimento

À beira dos 63 anos, a educadora física Gracia Garib sempre manteve uma rotina de exercícios físicos e alimentação saudável. Quando é questionada sobre seu primeiro contato com práticas esportivas, a paulista, que mora há mais de 20 anos em Salvador, não sabe responder ao certo. O que ela tem em mente é o hábito de movimentar o corpo desde pequena, quando ainda morava na grande São Paulo.

As práticas sempre fizeram parte da rotina de Garib. No entanto, no auge de seus 25 anos, quando já ministrava aulas de dança, alongamento e ioga para idosos em um projeto do governo paulista, ela não imaginava a importância da criação de uma rotina saudável para o processo de envelhecimento. Isso só foi pensado pela educadora física quando se mudou para Lauro de Freitas, na Região Metropolitana, aos 40 anos.

"Eu não me imaginava velha. A maioria dos jovens não pensam na velhice, porque não temos essa cultura, não nos preparamos para envelhecer. Tive o privilégio de ser muito ativa desde muito jovem e hoje me sinto bem, saudável, sem tomar medicações", diz a educadora, que é especialista em práticas corporais terapêuticas.

Aos 25 anos, Gracia Gabib ministrava aula de ioga para i
Aos 25 anos, Gracia Gabib ministrava aula de ioga para i Crédito: Reprodução

Gracia Gabib pontua que envelhecer bem requer uma cadeia de fatores, que vão de questões ambientais, estruturais e emocionais. No seu caso, ela admite o privilégio de encarar essa etapa da vida com condições que possibilitam um processo mais saudável. "A Bahia tem muitos contrastes sociais. É muito difícil falar sobre envelhecer bem, por causa dos inúmeros recortes. Como as pessoas em situação de vulnerabilidade lidam com isso, por exemplo?"

Atualmente, Gracia faz ioga todos os dias da semana, pratica exercícios de resistência em três dos cinco dias, rema oito vezes no mês e ainda ministra aulas de ioga para idosos. "A gente tenta se cuidar. Uma alimentação e uma rotina de exercícios proporciona uma rotina sem estresse. É um processo de autoconhecimento também. A pessoa tem que se conhecer, saber os seus limites para se cuidar", pontua.