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Georgina Maynart
Publicado em 14 de junho de 2018 às 06:00
- Atualizado há 3 anos
Mais de 2 milhões de sacas de café conilon devem sair das fazendas do Sul e Extremo Sul da Bahia este ano. Não é uma super safra, mas os resultados animam os produtores rurais da região, que no ano passado produziram 1 milhão e 800 mil sacas, consolidando a Bahia como segunda maior produtora desta variedade de café no Brasil. O Espírito Santo ainda ocupa a primeira posição no ranking, com cerca de 6 milhões de sacas por ano. >
De acordo com Gilberto Borlini, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Itabela, “este ano está sendo um ano de recuperação, devido à seca que a gente passou. As lavouras estão bonitas, mas ainda estamos colhendo e não contabilizamos. Ano que vem promete ser uma boa safra, vai ser um ano ainda mais promissor”. >
Alguns produtores estão colhendo até 20% a mais do que em 2017. A alta produtividade seria resultado de bons período de chuva, que possibilitaram uma recuperação depois de quase 5 anos de seca, mas sobretudo da tecnificação aplicada no cultivo. >
Tradição>
Na fazenda Luciana, em Itabela, os pés carregados de café - com hastes que chegam a pender em direção ao chão - enchem os olhos de quem visita o cafezal mantido pela família Covre. Os frutos de um vermelho-cereja intenso dão um colorido especial nos mais de 1 milhão de pés de café conillon espalhados por 350 hectares. Um cenário de beleza e eficiência. Entre as fileiras, máquinas e 150 funcionários estão em ação na colheita de uma das maiores safras dos últimos anos. São seis dias de trabalho intensos, de segunda a sábado, para dar conta de tantos frutos. >
Ricardo Covre, que faz parte da terceira geração da família a produzir café, ainda não sabe qual o tamanho total da produção este ano, nem quanto será colhidos em toneladas, mas adianta: -“Está sendo uma ótima safra. O clima contribuiu 100%. Em 2015 e 2016 foram ruins. Em 2017 começou a recuperar e este ano está sendo muito bom em questão de produtividade. Até 70 sacas por hectare”. A colheita deve ser concluída até o fim de junho e os produtores já planejam comemorar. “Uma boa safra, um bom ano, por isso vamos realizar a Festa do Café entre os dias 24 e 26 de agosto para celebrar”, afirma Covre. >
Preços >
Os preços ainda preocupam os cafeicultores. Com maior oferta do produto no mercado, o valor da saca está bem abaixo dos R$ 550 atingidos no ano passado. A saca de 60 kg está sendo comercializada a R$ 320. O problema é que o custo de produção está girando em torno de R$ 349, o que significa um prejuízo de pelo menos R$ 29 por saca. >
“Recuperou em questão de produtividade. Mas em termos financeiros ainda não é tão rápido. Os preços ainda não estão como gostaríamos, não estão muito satisfatórios. Estamos na Linha do Equador, empatados, no limite do custo de produção”, acrescente Covre. >
Uma das principais commodities do Brasil, o café sofre as influências do mercado internacional, das bolsas de mercadorias, das exportações, das manipulações dos grandes compradores e das variações cambiais, e isto vem prejudicando o produtor brasileiro, que muitas vezes precisa comprar insumos no mercado externo. >
Segundo o presidente da Associação de Produtores de Café da Bahia, João Lopes Araújo, “o preço do café hoje está inferior ao que o produtor precisa. Não fica margem para cuidar da lavoura. O agricultor está esperando que o mercado reaja e que ele possa ter uma remuneração maior”. >
Para baratear os custos, os cafeicultores estão investindo na mecanização da lavoura. “O custo operacional do café elevou muito e os problemas com mão de obra estão dificultando demais. A gente não sabe se o mercado vai ou não melhorar. Até 2020 não tem expectativa de melhora no preço. Sorte que a gente conseguiu entrar com maquinário na colheita e isto está ajudando a estabilizar os custos. 40% dos produtores já tem máquinas colhedeiras. A gente não pode parar”, afirma Gilberto Borlini. >
"Café Atlântico" >
Ao contrário do café Arábica, mais comum no Brasil e cultivado em altitudes acima de 700 metros e em terras frias, o conilon exige temperaturas mais amenas e geralmente é cultivado em terras baixas, mais próximas do litoral. Na Bahia, os cafezais de conillon se concentram na faixa do litoral sul, margeando o oceano, a partir de Itabuna até a divisa com o Espírito Santo. >
O conillon também tem como característica ser mais resistente às pragas e doenças. A variedade mais comum é a Coffea Robusta. Com um sabor mais neutro, o conilon serve de blend (mistura) para suavizar cafés mais ativos. Adicionado ao arábica pode compor de 30% a 50% do produto final. Por apresentar maior rendimento após a torração, atualmente é o tipo de café usado em 100% dos cafés solúveis vendidos no Brasil. >
Extremo Sul>
Além do café, os produtores rurais do Extremo Sul geralmente cultivam outros alimentos na mesma propriedade. A Fazenda Luciana, por exemplo, possui 20 hectares plantados com pimenta-do-reino e 12 hectares de mamão Havaí. A produção começou com Olival Covre, um capixaba que chegou na Bahia nos anos 1940. Atualmente o trabalho no campo envolve seis pessoas da mesma família. A produção é comercializada em vários estados do Brasil, entre eles Paraná, Espírito Santo, São Paulo e Sergipe. >
A diversificação da produção da Fazenda Luciana faz parte do perfil da agricultura do Extremo Sul do Estado, que inclui ainda outros grandes municípios, como Eunápolis e Itamaraju. Há 50 anos era o extrativismo e a pecuária que se destacavam na região, mas hoje estas atividades dividem espaço e importância com a fruticultura, que se tornou carro-chefe da economia. A área também é grande produtora de eucalipto e de frutas de clima tropical, como banana, cacau e maracujá. >
“É uma região extremamente agrícola. Foi um processo natural e gradativo, como o clima é tropical, qualquer fruta se adapta na região. E como o perfil do agricultor é empreendedor, ele foi vendo o mercado e se adaptando, na questão da produtividade e na forma de investimento em outras culturas. Tudo impulsionado pelo campo”, acrescenta Ricardo Covre. >
Só em Itabela, onde existem mais de 500 produtores rurais, o agronegócio é a principal fonte de economia, responsável por 70% dos empregos gerados diretamente e por 80% dos indiretos. >
Safra >
Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola divulgado esta semana pelo IBGE, a Bahia deve produzir 117 mil toneladas de café conillon em 2018. Vão ser mais de 1,9 mil sacas de 60 kg. A produção baiana deve influenciar diretamente no bom desempenho nacional, que chegará a 822 mil toneladas deste tipo de café. >
A boa distribuição de chuva contribuiu para o desempenho positivo. Alguns produtores estão colhendo até 2.438 kg / hectare. Apesar do excelente rendimento, a produção geral ainda continuará 3,6% menor que a de 2017 porque houve redução de 2% na área plantada. >
Já a Associação de Produtores de Café da Bahia (Assocafé) é mais otimista. Segundo João Lopes Araújo, presidente da entidade, a safra de conillon deve chegar a 2 milhões e meio de sacas, “com certeza a produção deve ser bem maior do que o estimado”. >
Ainda de acordo com a Assocafé, a cafeicultura na Bahia envolve 15 mil produtores distribuídos por 113 municípios.>