Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Larissa Almeida
Publicado em 23 de novembro de 2023 às 07:30
No quadro de funcionários de uma empresa fornecedora de produtos de controle climático em Salvador, o técnico em eletrônica Manoel Pereira, 55 anos, era uma espécie de medalhão da equipe responsável pela manutenção de aparelhos. Em 2015, no entanto, ele foi demitido com a justificativa de que a medida era necessária para corte de gastos. Junto com ele, outros cerca de 65 funcionários do setor também perderam seus empregos. Enquanto alguns colegas conseguiram outro trabalho com brevidade, Manoel ainda segue na fila do desemprego. >
“Estou sem carteira assinada há oito anos. São oito anos trabalhando na informalidade. Para sobreviver, eu tenho que correr atrás. Presto serviço para uma oficina, trabalho na rua, se alguém me indica eu também vou”, relata. >
Casado, Manoel mantém a casa com sua esposa, mas por vezes tem gastos extras com os sobrinhos, que têm a casa do tio como segundo lar. Para dar conta das despesas, ele desenrola uns ‘bicos’, como chama os trabalhos extras. Entre eles, está o conserto de aparelhos eletrônicos, como televisão e micro-ondas. Demanda, segundo afirma, nunca falta. “Tem clientes que me ligam, eu faço um serviço na rua ou um extra. Não é o ideal, mas como está aí, eu me viro”, afirma. >
A única preocupação do técnico em eletrônica é em relação à aposentadoria. A dez anos de distância da idade estipulada para se aposentar, ele diz que ainda precisa contribuir com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) por mais oito anos. “Se eu arrumasse uma carteira assinada para contribuir por oito anos, seria bom. Vai que Deus ajuda. Mas também estou esperando contribuir como autônomo. Não posso é ficar sem aposentar”, ressalta.>
Desempregada desde 2018, Elexandra de Jesus, 49 anos, sobrevive com a renda que obtém dando aulas de reforço escolar e com auxílio governamental. Sem trabalho formal desde 2001, quando atuou como recepcionista de um restaurante, ela revela o desejo de voltar a ter a carteira de trabalho assinada. >
“Meu sonho é trabalhar de carteira assinada ainda, mas está muito difícil conseguir porque eu saí do mercado de trabalho. Hoje, eu também faço alguns serviços em costura para complementar a renda, mas estou parada porque minha máquina de costura quebrou e eu não tive condições de fazer o conserto. Isso e o reforço escolar são as únicas atuações profissionais que desempenho”, conta. >
Formado como bombeiro civil e atuante na área de telemarketing, Fabrício Francisco, 35 anos, está há seis meses sem carteira assinada. Nos últimos dois dias, ele tem ido até o Sine Bahia e o Simm em busca de emprego, mas volta sempre com a mesma resposta. “As justificativas têm sido as mesmas, falam que as vagas já foram preenchidas ou no momento estão indisponíveis. Isso tem pesado muito”, pontua. >
Empregado durante três anos e meio em um banco, Fabrício começou como operador de telemarketing e foi promovido diversas vezes na instituição, onde chegou a ocupar o cargo de supervisor. Mesmo numa área de promoção, ele foi demitido sem justificativas. >
Para se manter sem renda fixa e sustentar a esposa e a filha, Fabrício tem recorrido à ajuda de familiares. “Eu moro de favor com alguns familiares e não tem sido fácil conseguir alguns bicos também. Está sendo muito difícil trabalhar. Hoje, o mercado, busca mais a indicação, e mesmo assim tem sido difícil”, desabafa.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>