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Larissa Almeida
Publicado em 8 de janeiro de 2024 às 05:30
Enquanto o governo ainda estuda implementar o uso das bodycams, as câmeras corporais para fardas de policiais, o Grupo Carrefour Brasil, rede varejista de hipermercados, concluiu em novembro a implementação de 365 câmeras corporais nas unidades da empresa na Bahia. A ação faz parte de uma estratégia que tem como intuito proporcionar maior transparência, com foco em aumentar a segurança dos clientes e reduzir a possibilidade de conflitos em seus estabelecimentos, após casos de violência e racismo. Até o momento, as bodycams foram implementadas em todas as lojas do estado.
Segundo Maria Alícia Lima, vice-Presidente de Relações Institucionais, ESG e Comunicação do Grupo Carrefour, a iniciativa de uso das câmeras nas fardas dos seguranças se deu em conjunto com outros esforços, que englobam treinamento de funcionários e revisão de empresas fornecedoras, tendo como objetivo o aumento da segurança nas unidades da rede.
A primeira câmera corporal foi implementada em 2021, no Rio Grande do Sul, após um homem negro ser espancado e morto por dois homens brancos no Carrefour em Porto Alegre. Agora, Maria Alícia Lima aponta que o que houve foi uma mudança de escopo e maior abrangência da medida, uma vez que quatro mil bodycams serão implementadas em todo o país, com investimento de R$ 16 milhões. “Hoje, as lojas que têm uma equipe de prevenção, tem bodycams. Quando nós pensamos essa função de fiscal, tem uma coisa que é diferente do passado, que é a implementação dessas câmeras. Elas não usavam e nós passamos a exigir contratualmente”, destaca.
“Quando pensamos em termos de resultado que queremos alcançar, sentimos que o que tínhamos na loja [no que diz respeito] ao protocolo, as pessoas estavam treinadas para executar, mas não tínhamos como ter certeza de como isso estava funcionando na prática. Então, precisávamos desse elemento formal. A gente fica com as imagens e com os áudios que são captados”, afirma, referindo-se às câmeras corporais.
Com uso recente, ela afirma que ainda não há resultados sobre os impactos do recurso nas unidades do Grupo Carrefour na Bahia. A expectativa é de que, daqui a três ou seis meses, após o fim da implementação a nível nacional, seja divulgado um estudo com a análise dos efeitos da medida adotada.
Resistência
Ainda segundo Maria Alícia Lima, do Grupo Carrefour, houve resistência de algumas empresas e funcionários quanto ao uso das câmeras nos seus uniformes de trabalho, mas a questão já foi superada. Ela pontua, inclusive, que o uso desse recurso já conseguiu esclarecer, recentemente, uma situação que poderia ter prejudicado um segurança em uma unidade em São Paulo. Na ocasião, um homem que estava pichando o muro do lado de fora do hipermercado foi perseguido e agredido por um grupo de pessoas.
“Ele se escondeu no banheiro que ficava do lado de fora e foi agredido. O nosso segurança, que estava com a câmera corporal, pôde chegar naquele momento, avaliar o que tinha acontecido, prestar socorro para vítima. Demos o socorro que precisávamos dar e foi importante porque poderia ter a presunção de que esse funcionário teria participado [da agressão]. E, pela imagem das câmeras, fica comprovado que isso não aconteceu”, ressalta.
A decisão pelo uso das câmeras de segurança corporais nas lojas do Carrefour também se baseou em pesquisas. Um estudo recente da Fundação Getúlio Vargas, sobre o uso das bodycams pela Polícia Militar de São Paulo, apontou que, nas unidades que receberam as câmeras, o número total de ocorrências com mortes caiu 80% em comparação aos 12 meses anteriores. Na Bahia, a discussão sobre o uso das câmeras no fardamento de policiais se arrasta há mais de um ano em meio à escalada da violência no estado.
O Governo da Bahia prevê que 1.100 unidades das bodycams sejam entregues até o fim de fevereiro. “Fizemos uma avaliação do ano, projetamos 2024 e eu vou trabalhar para que no Carnaval a gente já possa ter [as câmeras]. Eu tenho fé em Deus que a gente possa ter as câmeras nas fardas dos policiais ainda em fevereiro”, disse o governador Jerônimo Rodrigues, em entrevista no final de dezembro.
No dia 6 de dezembro, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) divulgou o resultado da licitação para a contratação das câmeras. Após a formalização e assinatura do contrato, a empresa vencedora - quinta selecionada, após reprovações em prova de conceito -, a paulista Advanta Sistema de Telecomunicações e Serviços de Informática, terá 60 dias para fornecer as primeiras 1.100 câmeras, totalizando 3.300 em um ano. A informação é do major Jurandilson Nascimento, diretor de Videomonitoramento da Superintendência de Gestão Tecnológica e Organizacional (SGTO) da SSP.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo