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Fernanda Santana
Publicado em 15 de setembro de 2018 às 18:10
- Atualizado há 3 anos
A capoeira é do mundo. E mestre Bimba (1899-1974), criador da Capoeira Regional, sabia disso. Sempre que o perguntavam sobre a criação, respondia: "Mas a capoeira não é minha, nem para mim, é do mundo". Todos os capoeiristas presentes neste sábado, no Farol da Barra, também sabiam. O sexto encontro promovido pela escola Abadá Capoeira, que aconteceu neste sábado (15) reverenciou o centenário da Capoeira Regional, Mestre Bimba e a ancestralidade. >
Na época de aluno, Mestre Camisa, 63 anos, criador do Abadá Capoeira e um dos organizadores do evento, começou a conhecer a capoeira do mundo. Hoje, um caminho sem volta:"A capoeira já está no mundo. Capoeira se tornou patrimônio imaterial, qual outro esporte conseguiu isso?" Mestre Camisa, um dos organizadores do evento, saudou a ancestralidade de Mestre Bimba (foto/Almiro Lopes) De esporte a patrimônio imaterial, um caminho de lutas simbólicas. Se a capoeira é do mundo, ainda assim, precisa ganhar espaço em Salvador, um dos seus berços. A professora de capoeira Moema Ribas,45, comenta:"Infelizmente, na nossa terra, onde deveria ser mais valorizada, não é. Ainda existe um pouco de descriminação".Ela, capoeirista desde os 16, acredita, no entanto, numa valorização da capoeira."O nosso mestre Bimba está aqui sendo homenageado. O nosso mestre Camisa [natural da Chapada Diamantina] vai receber o título de cidadão soteropolitano... A ancestralidade continua".Continua também com ajuda dos pequenos capoeiristas. Aos 3 anos, os primos Benjamim e Zaian já são da capoeira. Jogam a Capoeira Regional, menos lenta que a de Angola, incentivados pelos pais. Neste sábado, entre jovens e mais velhos, pelo menos, 360 capoeiristas comparecem à homenagem.>
Próxima a uma das rodas de crianças, a professora Mariana Santos, 40, revelou o porquê do filho, tão pequeno, já ser da capoeira. “A família é da capoeira. A gente acha importante ter esse encontro desde o primeiro momento. Envolve nossa história, nossa ancestralidade”, acredita a mãe de Benjamim. Os primos Benjamim e Zaian, ambos com 3 anos, já estão na capoeira (foto/Almiro Lopes) O professor Osso Duro, 43, é uma das forças por trás da homenagem. O nome de Capoeira de Ulisses Lima já mostra a sua missão. “Sempre foi a superação e enfrentar os obstáculos. Com um ano de capoeira, eu já tinha esse apelido”, conta. A valorização da própria identidade, ele acredita, será a mola da própria valorização nacional.“O Brasil precisa se reconhecer e se valorizar”, acredita Ulisses.Já ao fim do evento, por volta das 17h30, as rodas de capoeira começavam a ser desfeitas. O batuque tocava baixo. Ao lado do professor Weslei Nascimento, 22, Pedro, 8, se despedia da homenagem ao centenário da Capoeira Regional. Quando perguntam a Pedro o motivo de fazer capoeira, ele responde apenas: “Eu adoro, é muito divertido”. A história da luta ele ainda aprenderá ao longo dos anos. Para que o legado continue ecoando no mundo inteiro. >
*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier. >