Cérebro da Katiara: como Pablo Escobar construiu um complexo da facção em Valéria

Traficante orquestrou ataques na Palestina, em Simões Filho e outras localidades

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  • Wendel de Novais

Publicado em 5 de março de 2024 às 16:00

Traficante comandou Katiara por anos Crédito: Reprodução/SSP

A área de vegetação do Penacho Verde, onde foi morto ‘Pablo Escobar’, traficante líder da Katiara, era a principal região de atuação do criminoso, mas está longe de ser a única. Com anos de liderança na facção, Escobar fez de Valéria - e suas localidades – um ‘complexo’ da Katiara. Antes mesmo que o Comando Vermelho (CV) ocupasse os bairros que formam o Complexo do Nordeste de Amaralina, o comandante do grupo armado baiano fez o mesmo nas imediações da Estrada do Derba. Por lá, ele atacou e tomou localidades como Lavrador, Sossego e até a Palestina, que fica do outro lado da BR-324.

Os moradores do bairro não sabem dizer ao certo quando começa a liderança de Escobar, mas descrevem o passo a passo dele na região. “A Katiara é velha aqui e domina o tráfico há anos. Não começou ontem e Escobar não é o primeiro. Ele, com certeza, é o mais famoso porque saiu atacando várias localidades de Valéria e fazendo a facção crescer. Antes, o núcleo era a região do Penacho Verde e não tinha muito mais além disso”, conta a fonte, que é nascida no bairro, mas prefere não se identificar por temer represálias.

Uma fonte da polícia ouvida pela reportagem cita algumas das localidades que foram ‘conquistadas’ pela Katiara sob o comando de Escobar. “Entre os líderes da Katiara, foi o mais inteligente, se é que podemos chamar assim. Foi Pablo Escobar que ajudou a dominar o bairro da Palestina. Foi ele que atacou e estabeleceu a Katiara nas localidades do Sossego e do Lavrador. É ele o responsável por retomar as localidades da Favelinha e da região da fábrica de colchões, em Valéria. Além disso, conseguiu anexar o bairro Santo Antônio do Rio das Pedras, na cidade de Simões Filho”, conta.

Pablo foi alcançado durante Operação Responsio Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Entre o Penacho Verde e o Santo Antônio do Rio das Pedras, há 5,8 quilômetros de distância. A atuação do líder da Katiara na Região Metropolitana (RMS) é confirmada por Marcelo Werner, titular da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA). “Era a principal liderança da facção em Valéria e responsável por diversos crimes violentos, não só naquela região, mas no estado da Bahia. A liderança alcançada orquestrou diversos ataques também a outras facções, acirrando disputas por domínio de território em Salvador. Então, era um indivíduo de alta periculosidade que estava à mercê da justiça”, disse Werner, em coletiva sobre a operação que alcançou o traficante.

Além de homicídios, Escobar tinha mandados de prisão em aberto por organização criminosa e tráfico de drogas. No fim de 2022, o traficante foi incluído no Baralho do Crime da SSP-BA, onde estão listados os criminosos mais perigosos do estado. Até então, ele figurava como o ‘Quatro de Copas’ do baralho. Quem o descreve, a inclusão dele na lista dos maiores procurados pela Justiça.

“Se a gente pode definir ele de alguma forma, é como um invasor de áreas dominadas por outras facções. Principalmente, a do Bonde do Maluco (BDM), que é muito maior do que a Katiara e, mesmo assim foi expulsa de várias localidades de Valéria com o comando dele. E, uma vez que estava dentro dessas regiões, era muito difícil alcançá-lo”, completa a fonte da polícia.

Na operação que culminou na morte do policial federal Lucas Caribé, inclusive, integrantes do Bonde do Maluco (BDM) tentavam invadir Valéria pela área de vegetação onde fica a Katiara quando entraram em confronto com a polícia. Ainda que na frente da Katiara por anos, não se viu no bairro menções a morte de Escobar nem nos muros do bairro onde a marca da facção está pichada.