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Alô Alô Bahia
Publicado em 4 de dezembro de 2023 às 11:35
Uma nova espécie de pererequinha-de-bromélia foi descoberta na cidade de Wenceslau Guimarães, no Sul da Bahia, por cientistas do Laboratório de Herpetologia Tropical da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). O animal foi batizado de Phyllodytes iuna, nome que presta homenagem à capoeira. Na roda de capoeira regional, o toque de “Iúna” é executado para a formatura de alunos graduados ou é reservado para o jogo de mestres. >
Esta é a quinta espécie do grupo Phyllodytes que a equipe de pesquisadores do Departamento de Ciências Biológicas (DCB) da UESC descreve ao longo de dez anos de pesquisa de campo. Um dos cientistas, o professor Iuri Ribeiro Dias, é o capoeirista da equipe e justifica: “Faço capoeira desde criança e sempre tive vontade de homenagear essa expressão cultural afro-brasileira em alguma das espécies que encontramos aqui no Sul da Bahia”.>
Historicamente, novas espécies de anfíbios eram coletadas por pesquisadores dos grandes centros de pesquisa do sudeste do Brasil, como o Museu Nacional ou o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. >
No entanto, quando esses cientistas se aventuravam pelas matas da Bahia, costumavam coletar anfíbios nos lugares onde eles esperavam encontrar muitas espécies, ou seja, em brejos e poças. Isso fez com que um grupo de pererequinhas que passam toda a vida em bromélias, e não em poças, fosse raramente documentado nessas expedições.>
"As pererequinhas-de-bromélia são animaizinhos espetaculares", comenta o professor Mirco Solé, do DCB da UESC. "Elas passam todo o seu ciclo de vida em bromélias. Os girinos de algumas espécies prestam um serviço ecossistêmico importante: eles se alimentam de larvas de mosquito que são potenciais transmissores de doenças como dengue, zika e chikungunya. Protegendo as pererequinhas-de-bromélias estaremos também protegendo a nossa própria saúde", completa. >
A Phyllodytes iuna é a décima sexta espécie do gênero Phyllodytes no Brasil e a sétima endêmica da Bahia. Os primeiros indivíduos foram registrados em 2015, mas sua descrição formal só foi possível após o encontro de exemplares adicionais, em 2018. >
“Apesar dos esforços de coleta em diversas localidades na Mata Atlântica do Sul da Bahia, a espécie ainda não foi registrada em nenhum outro local além da Estação Ecológica de Wenceslau Guimarães", revela Laisa Santos, membro da equipe e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Zoologia da UESC.>
Embora a equipe do Laboratório de Herpetologia Tropical já conheça a maioria dos cantos dessas espécies no Sul da Bahia, ainda há muito trabalho a ser feito. “Estimamos que, apenas nessa região, ainda temos mais cinco espécies novas de pererequinhas-de-bromélias para descrever”, destaca o professor Iuri.>
A pesquisa, que contou com auxílio financeiro do Programa PROTAX do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, culminou em um artigo publicado na Zootaxa, revista especializada na descrição de espécies novas para a ciência. Leia o artigo na íntegra aqui.>