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Conheça a nova Deusa do Ébano, Jéssica Nascimento: "Somos todas capazes"

Confira como foi a Noite da Beleza Negra do Ilê Aiyê

  • Foto do(a) author(a) Vanessa Brunt
  • Vanessa Brunt

Publicado em 21 de janeiro de 2018 às 08:50

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Vanessa Brunt/CORREIO

Não é somente sobre a lindeza da casca, porque é sabido por todos que, neste aspecto, todas elas empatariam de alguma maneira. As belezas externas, tão diferenciadas entre si, faziam parte somente de um pedacinho do que dominava a Senzala do Barro Preto, Associação Cultural Ilê Aiyê, no Curuzu, nesse sábado (20). Veja no nosso Instagram:As deusas da Noite da Beleza Negra já estão no palco do 39° concurso da Deusa do Ébano! Fortes, empoderadas e lindas de tantas formas, elas (e)levam, junto com as maravilhosas do público, os formatos - de dentro e fora - que balançam a sede do Ilê nesta noite de sabadão. Corre no nosso Stories para conferir mais com a repórter @vanessabrunt!

Uma publicação partilhada por Jornal Correio (@correio24horas) a 20 de Jan, 2018 às 5:17 PSTAs deusas da Noite da Beleza Negra chegaram, assim como tantas das maravilhosas espalhadas pelo público, enchendo olhos no 39° concurso da Deusa do Ébano. Fortes, empoderadas e lindas de tantas formas, elas (e)levaram a Noite da Beleza Negra com formatos - de dentro e fora - que não pareciam competir entre si. Bom, competição não era mesmo a palavra principal. "Vamos concorrer no ano que vem, mas somos todas vencedoras, porque é um momento sobre força e união de todas as mulheres, sobre a importância de quebra de preconceitos", ponderou Cleice Silva, 19, que aguardava na plateia com uma amiga, ansiosamente, as novas deusas. Izaiana Goes, 29, e Cleice Silva, 19, vão concorrer no ano que vem, mas sabem que já são vencedoras (Foto: Vanessa Brunt/CORREIO) A Deusa 2018 Muitas belezas, muitos discursos de fé, axé e capacidade. Elas dominaram o palco, cada uma à sua forma, reunindo vibrações de todos os cantos. Mas houve um momento em que tudo pareceu mudar. Uma energia totalmente diferente tomou o local. A plateia parecia brincar entre se calar para contemplar e ir aos berros segundos após. Era ela. Ela, que mexeu com todos os corações, mãos (que aplaudiam com força) e vozes (que bradavam!). Jéssica Nascimento, 19, sambou, literalmente - e no sentido mais lindo e gratificante. A estudante trouxe uma dança poética e reverenciou todos os tipos de belezas. Ela brincou entre o corpo fazendo movimentos mais lentos e trazendo, em outras vezes, pés acelerados em um remelexo inconfundível. Os movimentos formulavam significados que contavam uma história. A história era de alegria e garra, em meio à tristezas e preconceitos vencidos pelo povo negro: no Brasil e no mundo.  O público estava estonteado perante a arte da jovem, que parecia ecoar a frase “Você pode se queixar porque a rosa tem espinhos ou se alegrar porque os espinhos têm rosas" (Zig Ziglar). A menina, com um punho fechado em cima da cabeça, vestia uma roupa em homenagem à Nelson Mandela, que foi citado e saudado na noite. Ela representava, como todas as outras, mas como nenhuma outra, todas as negras, as mulheres, as diferenças e igualdades. Confira mais declarações e uma parte da dança da jovem no nosso Instagram e no nosso Facebook:

Desde sempre E nessa mistura de tanto em uma só, o júri também não se conteve. Vovô, o fundador e presidente do bloco, Antônio Carlos dos Santos, também balançava a cabeça positivamente. A menina, que faz aula de dança há mais de cinco anos através de um projeto social que leva arte para jovens da periferia, deixou claro no projeto do Ilê: "Somos todas deusas! Somos todos. É um ganho para a sociedade ter o reconhecimento de que nada define mais a beleza do que a força de vontade e a bondade no que se faz.". É o segundo ano consecutivo que uma participante que chega na competição pela primeira vez, ganha."É um ganho para os homens, para as mulheres, para todos. Tudo o que é respeitoso é ganho para todos os lados"Desde os 11 anos, Jéssica esperava até as madrugadas para conferir na televisão a vencedora de cada ano da Deusa do Ébano. Os olhinhos poderiam envermelhar no sofá do bairro do Cabula, mas não caiam no sono. "Minha mãe não me deixava dormir tão tarde, mas nesses dias ela compreendia. Era o nosso momento de autoestima, como deve sempre ser. São poucas as iniciativas que passam nas grandes mídias e fazem as mulheres se reconhecerem, principalmente nós, negras. Então eu sabia dessa importância", disse a nova Rainha do Ilê para o CORREIO.

O sonho de criança se tornou realidade graças à necessidade de passar mensagens. "A dança sempre tem algo dizer, nós sempre temos. É aí que está. Sei da responsabilidade e sei que vou acordar amanhã sem acreditar, mas estou aqui para lembrar que todos somos responsáveis pelo que plantamos. E nunca plantamos somente pra nós mesmos, é sempre além", disse Jéssica."É triste que ainda tenhamos pouca representatividade e tantos padrões sociais fora de alcances e repletos, muitas vezes, de desrespeitos. Se lembrarmos que cada coisinha tem um significado que podemos ressignificar, tudo fica mais fácil. Cada conchinha dessa aqui, no meu rosto, traz essa noção: podemos catar, ter e transformar tudo"Gisele Santos Soares, moradora do bairro de Itapuã, foi a ganhadora do título de Deusa do Ébano em 2017. Passando a bola para Jéssica, ela demonstrou alegria e satisfação pelo resultado. "Ela foi incrível! Mereceu muito. Agora ela tem uma grande responsabilidade, não podemos fraquejar. O meu ano como Deusa foi maravilhoso, mas bem puxado; nada pode ser vazio. Um passo não pode ser dado sem consequências. Temos que ter cuidado com o que dizemos com o corpo, com a voz, com cada escolha. E como seria linda a vida se todas as pessoas pensassem assim em todos os anos, agindo ao se colocar no lugar do outro...", disse Gisele com sua filhota de 2 anos nos braços, para a qual já passa as noções de empoderamento negro e feminino.

As quebras O projeto, que nos situa sobre a realidade que existe na capital baiana, marcada pelo racismo e pela profunda desigualdade social, chega para fortificar o espaço da mulher negra. A proposta é de afirmação e orgulho da negritude e também das raízes com a cultura e a religiosidade de matriz africana. É dentro do candomblé que o bloco Ilê Aiyê nasceu e isso fica nítido na proposta refletida em seu rico patrimônio simbólico, que chega para quebrar tantos outros preconceitos, com a bondade que emana em respeito a cada um. Mafoane Odara, representante da Rede Pela Diversidade da Avon, patrocinadora do evento, falou sobre 'a beleza que faz sentido' para o CORREIO. "A beleza que faz sentido é aquela que une o externo e o interno, que tem charme, verdade e autoaceitação. A nossa escolhida vai ter tudo isso". E, teve! 

Artistas respirando respeito Conhecida como a eterna rainha do Muzenza, Cláudia Mattos, 37, foi um dos nomes reconhecidos pelos camarotes. "É um evento tão importante, é sobre a garra de todas as mulheres do mundo. E é gratificante demais observar o quanto tantos cantos do mundo tem percebido isso, apesar da luta ainda ser longa", contou, ao lembrar que, neste ano, o evento teve candidata até dos EUA.

Caetano Veloso, Regina Casé e Giovanna Ewbank eram apenas alguns dos outros destaques que exalavam diferentes artes pelas mesas e cadeiras.   Cláudia Mattos, 37, foi um dos nomes reconhecidos pelos camarotes, que lotaram de artistas (Foto: Vanessa Brunt/CORREIO) Giovana estava com a sua filha, Titi, no colo, enquanto ocupava seu lugar de jurada no evento. Titi, por sua vez, segurava uma boneca negra, enquanto aplaudia cada apresentação."Estou muito emocionada. Que honra é estar aqui! São mulheres lindas e apresentações que exalam o que precisamos ver: uma mistura de carisma, gingado, caráter... a beleza em seus tantos níveis", exclamou a modelo, atriz e youtuber para o CORREIO. Gio aproveitou Salvador nos últimos dias, com a filha Titi, antes de ser jurada da Noite da Beleza Negra (Foto: Reprodução do Instagram Stories) E se é sobre consciência e desejo de levantar bandeiras, tornando todas as respeitosas, então Jéssica já chegou colorindo seu papel. Como disse a jornalista Tia Má no palco do Ilê: "Lugar de mulher negra é no comando dos tribunais, é onde ela quiser. Lugar de mulher é onde ela desejar. Lugar de ser humano é de respeito, é no lugar onde você também gostaria de se ver".  Nenhuma é somente uma. Ela, a Jéssica, todas são mais do que os olhos podem ver, são os gingados que mostram quando tem espaço para brilhar. A Deusa do Ébano é a que reconhece suas qualidades únicas e as valoriza, enquanto lembra que ninguém é tão diferente assim. As deusas são todas. Ninguém é só. Desde sempre e, ainda mais agora. Ainda, bem!