Corais da Ilha de Maré são restaurados por jovens da região

O grupo Corais de Maré utiliza materiais recicláveis para dar vida a novos organismos

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  • Yasmin Oliveira

Publicado em 15 de maio de 2024 às 05:25

O grupo restaura os recifes de corais da Baía de Todos-os-Santos
O grupo restaura os recifes de corais da Baía de Todos-os-Santos Crédito: Divulgação

Os corais da Ilha de Maré estão sendo restaurados por meio da iniciativa Corais de Maré, onde jovens moradores da região são capacitados para atuar na criação e restauração do coral nativo da Baía de Todos-os-Santos.

Patrocinada pela Braskem, a proposta consiste em cultivar corais por meio de uma tecnologia inédita, utilizando o plástico e outros materiais recicláveis para potencializar o crescimento da espécie Millepora alcicornis. A ação é realizada pela Carbono 14, em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e o Instituto de Pesca Artesanal da Ilha de Maré (IPA).

“É um projeto que utiliza a ciência cidadã para diminuir a distância e complementar os saberes do pescador, da marisqueira, do filho do pescador, que também é pescador. Foi uma troca intensa de aprendizado. O que nos traz mais felicidade é ver, a cada participação nas atividades, no mergulho, no monitoramento, na manutenção dos berçários, a empolgação, a alegria que os jovens demonstram”, explica o CEO da Carbono 14 José Roberto Caldas, mais conhecido como Zé Pescador.

A iniciativa usa suportes de plástico para fixar as mudas em sementeiras, que são feitas com esqueletos do Coral-sol, espécie considerada invasora na região. Essas sementeiras são colocadas em berçários no fundo do mar para o desenvolvimento do coral nativo Millepora alcicornis. No primeiro ano do experimento, o uso do poliacetal, um tipo de plástico conhecido por sua resistência, fez o coral nativo dobrar sua taxa de crescimento.

Para Talita Rego Maciel, uma das jovens bolsistas do projeto que moram na Ilha de Maré, a curiosidade foi a principal motivadora para participar do Corais de Maré. Naquela época, ela ainda não sabia que poderia ajudar o meio-ambiente com a restauração dos recifes, mas a experiência a convenceu.

“Acredito que nós contribuímos de alguma forma com o meio ambiente e o projeto deu a possibilidade para que pudesse fazer alguma coisa,  colaborar de alguma forma. Eu nunca tinha mergulhado com cilindro e, a princípio, estava receosa, mas depois que peguei o jeito, me senti parte daquele lugar”, relata.

Além do propósito educacional do projeto, Talita acredita que, com a restauração dos recifes, o ambiente será favorecido, possibilitando o aparecimento de animais marinhos. “A maioria das pessoas da Ilha de Maré vive da pesca, estamos causando um impacto proveitoso na vida de cada um deles, pelo exemplo da importância de preservar o meio ambiente, uma vez que é de lá que vem o sustento dessas famílias”, afirma.

A também participante da iniciativa Alessandra Silva das Neves acredita que o Corais de Maré desperta para questões de urgência climática que são enfrentadas, além de alertar sobre como o mar precisa ser preservado para manter o sustento das famílias na Ilha de Maré. Outra situação que encantou Alessandra foi a experiência de mergulhar.“A experiência do mergulho é maravilhosa, a gente se projeta para um outro mundo, é quase indescritível, mas a experiência de restaurar é surreal, é simplesmente maravilhoso”, disse.

Com o projeto, Zé Pescador acredita que novas oportunidades de negócios e da criação de políticas públicas possam surgir, fortalecendo a restauração dos recifes de coral. Apenas neste ano, foram implementadas 1750 mudas de coral nos recifes e, em 2025, existe o plano de acrescentar mais 500 mudas e ampliar a área de restauração, além da continuidade da manutenção da área.

“Os corais levam, em média, quatro a seis meses nos berçários, para então ser transferido para os recifes e a maior parte deles já está no habitat definitivo”, conta.

Segundo ele, durante o mês de maio, é possível observar o branqueamento dos corais. Algo que se iniciou em março, mas, na Baía de Todos os Santos, esse evento foi moderado, sem que houvesse o branqueamento total. Muitas das colônias implantadas se mantiveram saudáveis e as que foram branqueadas estão se recuperando.

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela