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Moyses Suzart
Publicado em 16 de outubro de 2025 às 15:37
Enquanto tem gente que ainda acredita que a terra é plana e que a ida do homem à Lua é baratino, a Nasa inventa arte. Em 1972, durante a missão Apollo 17, a última que pisou no satélite natural, os astronautas Gene Cernan e Harrison Schmitt coletaram diversas amostras de rochas e solo lunar. Ao chegarem na terra, elas foram cuidadosamente seladas, sem contato com a atmosfera terrestre. Foram guardadas em cilindros hermeticamente fechados, para serem investigadas apenas no futuro, quando novas tecnologias estivessem disponíveis. E este futuro chegou. >
Mais de meio século depois, cientistas conseguiram abrir uma dessas amostras lacradas e aplicar métodos analíticos modernos altamente sensíveis, o que permitiu descobrir algo inesperado: a composição isotópica do enxofre dentro daquele fragmento lunar não se parece com nada já observado na Terra. Olha a arte…>
O estudo revela que a proporção de isótopos do enxofre (particularmente o enxofre-33) é significativamente diferente da Terra. Isso desafia algumas das idéias mais aceitas sobre como a Lua se formou e evoluiu. E solta um novo elemento químico que não estava em solo terrestre. >
Agora, uma explicação nerd: até agora, muitos modelos postulavam que, após o impacto entre um corpo do porte de Marte (chamado Theia) e a Terra primitiva, detritos teriam se agregado para formar a Lua. Essa hipótese ganha força porque os isótopos de oxigênio lunar são praticamente iguais aos daqui. O que sugere uma origem compartilhada ou forte mistura entre Lua e Terra. >
Mas o novo achado com o enxofre complica essa narrativa: ou o material original de Theia já continha essa assinatura isotópica distinta, ou a Lua passou por processos alteradores com outras reações fotoquímicas que modificaram a distribuição de enxofre ao longo do tempo. >
Outra hipótese fascinante é que, no passado lunar, alguma forma de mecanismo químico ou físico permitiu migração do enxofre entre camadas internas e a superfície, como uma “reciclagem” de material terrestre, mesmo sem placas tectônicas atuando como na Terra. >
O desafio agora é validar essas interpretações: comparar a assinatura de enxofre lunar com a de outros corpos do Sistema Solar , como asteroides e materiais que chegarem de Marte, justamente para ver se há semelhanças ou padrões comuns. Se outras amostras mostrarem assinaturas parecidas, pode haver um elo direto com a composição original de Theia e, logicamente, do big bang, a origem de tudo (sem a parte do Adão e Eva). Se ao contrário forem únicas da Lua, isso reforça a noção de que processos internos após a formação lunar alteraram sua química, produzindo materiais inéditos aqui. >
Além disso, essa investigação abre novas janelas para a compreensão de como planetas e seus satélites evoluem quimicamente. Só torcemos para que não apareça um simbionte querendo comer todo mundo, como o Venom. >
Nasa abre material trazido da Lua que estava lacrado há 50 anos