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Larissa Almeida
Publicado em 17 de julho de 2024 às 07:30
Duas expressões inovadoras da Bahia, já habituadas a marcar presença em passarelas paulistas e em eventos internacionais de moda, experimentaram traçar a rota contrária àquelas que estão acostumados: em vez de se deslocarem até as grandes referências da moda, a Dendezeiro e a Meninos Rei receberam, na tarde desta terça-feira (16), a Vogue Brasil em seus respectivos ateliês em Salvador. Por uma tarde inteira, as duas marcas baianas foram a atração principal da revista, que buscou, através de ambas, captar a essência cultural do estado para um episódio da websérie “Nova Geração da Moda Brasileira”, produzida pelo próprio magazine. >
A apresentadora e modelo catarinense Maria Klaumann, que está redescobrindo o Brasil através da moda apresentada em cada estado, mergulhou nas propostas das duas marcas e aprovou o que viu. “Eu já tinha vindo uma vez para Salvador, mas eu não tinha conhecido tão a fundo. Fiquei impactada com as cores, alegria e essa vibração típica do axé que é possível de ver nas estampas das roupas”, disse. >
O primeiro local de visitação foi o ateliê localizado no Rio Vermelho, onde estão as mais de 200 peças criadas pela Dendezeiro desde o início da sua história, em 2019. Ao abrir as portas do espaço, os estilistas da marca Hilsan Silva e Pedro Batalha admitiram que o local – que mais se assemelha a um lar – nunca havia sido fonte de interesse até hoje. >
“Eu acho que é muito massa esse momento da Dendezeiro em que estamos falando tanto sobre a gente, nossa brasilidade, nosso significado, vendo esse Brasil tão plural e fazendo parte disso. O que nós sempre esperamos sobre a moda é exatamente isso: conseguir ter diversos pontos de atenção, diversos lugares que podemos analisar e ver enquanto potência, criação e direcionamento”, destacou Hisan. >
Durante os bastidores para o programa da Vogue, os estilistas falaram sobre o início e a sua jornada. Nascida de um incômodo com a falta de pertencimento gerada pela desvalorização de corpos plurais e da identidade negra na moda, a Dendezeiro aferventou a demanda por maior inclusão nesse segmento. O que começou com a proposta de macacões estampados, que vestiam pessoas de todos os gêneros, evoluiu para peças ainda mais sofisticadas, que já vestiram personalidades como as artistas Anitta, Majur, Larissa Luz e Linn da Qebrada. Todo o percurso, segundo os estilistas, foi marcado pelo constante autoconhecimento. >
“Foi um processo de muita autodescoberta e trouxemos isso de maneira muito individual e pessoal no começo, mas a Dendezeiro ganhou uma proporção que nós conseguimos tocar os sonhos de outras pessoas, então acabamos percebendo que nossos incômodos, anseios e desejos não eram só nossos, mas sim compartilhados. Isso fez com que a marca ganhasse outro tipo de proporções e propostas, o que fortaleceu ainda mais nossa identidade”, ressaltou Pedro Batalha. >
Ao transformar o incômodo em solução, a marca se tornou ainda mais livre para brincar entre o glamour das passarelas e a leveza do cotidiano. Prova disso é que no ateliê é possível encontrar, no mesmo metro quadrado, uma camiseta básica e uma peça de tapeçaria que pesa 45kg. “O mais legal da Dendezeiro é que conseguimos brincar dentro dos dois mundos. Falamos sobre o local da técnica, das peças que são mais trabalhadas e como gostamos de trabalhar com a criatividade ao nos inspirarmos em coisas diversas, mas também falamos do dia a dia, da roupa que a pessoa sai para comprar um pão se sentindo a mais gostosa, linda e maravilhosa possível”, apontou Hisan, aos risos. >
A segunda parada da Vogue foi em um conjunto residencial situado no bairro de Itapuã. Lá, os irmãos e sócios Céu Rocha e Júnior Rocha mostraram toda a coleção da Meninos Rei, que em dezembro completa 10 anos de história permeada por cores e estampas típicas das nações africanas, que tem a premissa de vestir todos os tipos de corpos. “Quando se fala nos dez anos de história, passa aquele filme pela nossa cabeça. Nós somos apaixonados por moda e quando eu chamei Céu para criar a marca, eu disse que queria uma marca que falasse para além da roupa”, pontuou Júnior. >
“Nosso trabalho é para resgatar e protagonizar nosso povo preto sempre e eu sinto muito orgulho de ter sido a Meninos Rei a primeira marca a colocar um paraplégico na passarela do São Paulo Fashion Week (SPFW). Isso é muito importante. Quando terminou o desfile, uma coisa que me marcou muito foi quando veio uma mãe chorando porque, pela primeira vez, a filha dela conseguiu se ver na passarela enquanto uma mulher gorda. Esse é nosso trabalho”, reiterou, orgulhoso. >
Quanto ao reconhecimento da Vogue a Meninos Rei, Céu e Júnior não esconderam a felicidade. “Quem trabalha com moda sempre tem o sonho de estar no Baile da Vogue. Nós assistíamos na televisão e agora já participamos mais de duas vezes. Hoje, eu pensei ‘nossa, a Vogue está dentro da minha casa’, então isso serve de motivação para que as pessoas acreditem nos seus sonhos”, disseram.>
Para comemorar a primeira década de vida, a marca pretende trazer novidades até o final do ano. A primeira delas é a confirmação no SPFW, no dia 16 de outubro. Ficou em aberto ainda mais uma participação no Afro Fashion Day (AFD), projeto de moda produzido pelo Jornal Correio. “O Afro Fashion Day foi uma escola muito grande. Eu tenho o maior carinho e a maior vontade de participar. As marcas baianas precisam de mais visibilidade e a nossa começou no Afro Fashion Day. Eu espero que o projeto continue e também surjam outros projetos fortes e potentes”, finalizou Céu Rocha.>