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Maria Raquel Brito
Publicado em 25 de setembro de 2025 às 06:00
A Bahia é o segundo estado com maior índice de abandono escolar no Ensino Médio no Brasil. A informação foi divulgada nesta quinta-feira (25) no Anuário Brasileiro da Educação Básica, elaborado pelo Todos Pela Educação a partir de microdados do Censo Escolar da Educação Básica, do Ministério da Educação (MEC). >
O relatório aponta que 5,8% dos estudantes baianos do nível médio abandonaram os estudos em 2024. A taxa de abandono, empatada com a da Paraíba, fica atrás apenas do Rio Grande do Norte e é também superior à média nacional, que é 3,2%.>
Educação na Bahia em 2024
Para Manoela Miranda, gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, essa alta taxa de abandono pode estar relacionada a fatores como a transição do ensino fundamental para o ensino médio, que para muitos jovens vem acompanhada da necessidade de começar a trabalhar. >
Outro motivo mencionado pela especialista é a distorção idade-série na Bahia, ou seja, o número de alunos do Ensino Médio com dois ou mais anos de atraso na trajetória escolar. Neste campo, o estado ocupa o quarto lugar no país, com 27,1% de estudantes atrasados – nove pontos percentuais acima da média nacional. Aqui, apenas 56,8% dos jovens de 19 anos já finalizaram o ensino médio, o pior número do Nordeste e terceiro pior do Brasil, atrás apenas do Amapá (52,4%) e do Acre (55%). >
“Esse atraso, essas dificuldades na aprendizagem e essas constantes reprovações são também, muitas vezes, associadas ao abandono escolar. Portanto, é muito importante ter um diagnóstico aprofundado, entender as particularidades desses estudantes e se é possível recuperá-los. Mas, principalmente investir na recomposição da aprendizagem, para que esses estudantes possam continuar sua trajetória escolar sem maiores interrupções e evitar que essa distorção da idade acabe em novos abandonos na Bahia”, pontua.>
Sandra (nome fictício), coordenadora de um colégio estadual em Salvador, aponta ainda outros motivos que percebe no dia-a-dia, sobretudo lecionando à noite. “Todas as escolas do noturno estão com problema de baixa frequência, porque os alunos têm problemas com as questões de facção. Eles ficam com dificuldade de se deslocar até a escola, que, às vezes, é de uma rua para outra. Alguns estão cansados, desestimulados e têm outras propostas de trabalho”, diz.>
Melhora com ressalvas >
Em relação aos dados de 2013, os números da educação baiana em 2023 apresentaram melhora em quase todas as categorias consideradas pelo anuário. Ainda assim, a Bahia figura entre as piores colocações na maioria dessas categorias, o que demanda atenção nos próximos anos, de acordo com Manoela Miranda. >
“Os dados de aprendizagem, por exemplo, de 2023, mostram que como país nós não voltamos aos níveis de aprendizagem pré-pandêmicos. Na Bahia, um destaque que merece atenção é que os jovens concluem o ensino médio com níveis de aprendizagem ainda muito baixos. Apesar de algum avanço em língua portuguesa na última década, hoje, apenas 22,2% dos estudantes que concluem o Ensino Médio têm aprendizagem adequada em língua portuguesa. Mais preocupante é o dado de matemática: apenas 2,5% dos estudantes concluem o ensino médio na Bahia com aprendizagem adequada em matemática”, diz.>
As informações mencionadas pela gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação dizem respeito à quantidade de estudantes de escola pública com aprendizagem adequada da Bahia. Em relação ao que é aprendido por aqueles que estudaram em colégios privados, a discrepância chama atenção: enquanto 2,2% de alunos do ensino público aprendem adequadamente língua portuguesa e matemática, a porcentagem em colégios particulares é 26%. >
De acordo com Miranda, a melhoria exige um conjunto de medidas, que passa pela formação inicial e continuada dos professores, investimento em políticas de recomposição de aprendizagem e políticas desde a base, ainda no ensino fundamental e na alfabetização. “[Também] na garantia da trajetória escolar regular dos estudantes, com uma especial atenção para redução das desigualdades regionais, socioeconômicas e raciais, e um olhar muito atento para esses estudantes que hoje estão em distorção idade-série, para garantir que possam não só continuar na escola, como concluir os ensinos fundamental e médio com aprendizagem continuada”, enumera.>
Na mesma linha, Sandra, que convive de perto com essa diferença, acredita que é preciso que medidas venham de cima para incentivar os jovens de escolas públicas a permanecerem nos estudos. “No dia que a gente tiver uma elite que pensa que a educação é o caminho, aí sim as coisas mudam”, defende a coordenadora da escola estadual.>