‘Eterno jovem’: veja histórias de quem nasceu em 29/2 e só faz aniversário a cada quatro anos

Baianos contam como é ter nascido em anos bissextos

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  • Maysa Polcri

Publicado em 28 de fevereiro de 2024 às 06:30

Baianos que nasceram em anos bissextos
Baianos que nasceram em anos bissextos Crédito: Reprodução

Para eles, o dia do nascimento nem sempre significa o dia em que o aniversário é comemorado. Na realidade, a condição é raridade e as datas só coincidem uma vez a cada quatro anos. É o caso de 2024, que é ano bissexto e tem, no calendário, o dia 29 de fevereiro. Quando isso não acontece, o que vale é a criatividade dos piscianos. Há quem aproveite para comemorar em duas datas, enquanto outros aniversariantes não fazem questão de celebrar.

Ter no calendário o dia 29 de fevereiro costuma ser uma alegria para os nascidos em anos bissextos. É a oportunidade de celebrar a chegada ao mundo no seu dia original. Por isso, o sentimento de decepção do advogado Hermes Hilarião talvez seja uma raridade entre aqueles que dividem a mesma data de aniversário. Filho único de pais separados, Hermes foi acostumado desde criança a comemorar nos dias 28 e 1º de março, cada dia com um dos genitores.

“É comum as pessoas perguntarem se eu não fico triste por fazer aniversário a cada quatro anos. Mas para mim é ao contrário. Sempre foi bom porque meus pais se separaram quando eu era muito jovem. Prefiro quando não tem dia 29 e eu celebro nos dois dias”, conta o advogado. O benefício de ter dois aniversários durante a maior parte da vida quase não recaiu sobre ele. Era 28 de fevereiro de 1988 quando a mãe de Hermes começou a ter as primeiras contrações, na cidade Pindobaçu, no centro-norte baiano.

“Meu parto demorou muito. Foi um parto normal complicado, que teve uma duração longa, começou no dia 28 e só terminou na madrugada do dia 29”, conta. A coincidência do destino gera piadas com colegas e desconhecidos até hoje. Nada que chateia Hermes, que acompanha o bom humor dos amigos. “Desse jeito é bom porque eu sou um eterno jovem. Vou fazer 9 anos neste ano”, brinca, fazendo referência aos anos bissextos que comemorou o aniversário.

Nem sempre a data inusitada é motivo de brincadeiras. Para alguns, o dia pode até representar certo tipo de frustração. É o caso da professora Paula Shirley Souza, de 43 anos. Quando nasceu na década de 80, Amargosa era uma cidade sem grande expressividade no centro-sul da Bahia. Como boa parte dos municípios pouco povoados, os habitantes eram conhecidos. Assim, com amigos que trabalhavam no cartório da cidade, foi fácil para os pais de Paula registrarem o nascimento da filha no dia 1º de março.

“Sempre faço questão de dizer que nasci no dia 29 de fevereiro. Todo mundo que me conhece sabe disso. Mas, naquela época, minha mãe ouviu que ter nascido nesse dia não era certo e que me daria azar ao longo da vida”, relembra a professora. A superstição falou mais alto e as regras do cartório foram burladas. Nos anos bissextos, Paula Shirley faz questão de comemorar na data correta. É a afirmação do dia do seu nascimento. “Fico lisonjeada de ter nascido nesse dia especial”, garante.

Em 2020, último ano bissexto, foram registrados 484 nascimentos de baianos no dia 29 de fevereiro, número superior aos 411 nascidos em 2016. Em Salvador foram 282 registros entre 2008 e 2020. O recorde brasileiro de registros aconteceu em 2016, com 6.640 nascimentos.

Além de dúvidas e estranheza, ter nascido no dia 29/2 gera situações inusitadas. Yasmine Perez, de 28 anos, comemorou um dos seus aniversários com uma ida ao cinema. O que era para ser só um passeio para assistir um filme estrelado por Leonardo DiCaprio, rendeu uma história engraçada que até hoje é contada para as pessoas mais próximas.

“No meu aniversário de 20 anos eu fui ao cinema assistir ao filme O Lobo de Wall Street, que é para maiores de 18 anos. Eu sempre tive cara de mais nova e a funcionária do cinema pediu minha identidade. Quando eu entreguei, ela achou que o documento fosse falso porque, na cabeça dela, o dia 29 não existia”, conta Yasmine aos risos. O gerente do cinema precisou ser chamado para resolver o imbróglio.

Ter nascido em um dia incomum, que só aparece no calendário de quatro em quatro anos, sempre fez a professora se sentir especial. “Nunca conheci ninguém que fizesse aniversário no mesmo dia que eu e sempre me senti diferente, num bom sentido”, conta. A saída encontrada por Yasmine fora dos anos bissextos é a mesma de Hermes. “Quando tem o dia 29 é muito mais animado, é como se a comemoração fosse em dobro. Mas, quando não tem, eu comemoro no dia anterior e no seguinte”, diz. As felicitações de conhecidos também surgem em ambos os dias.

Para Paulo Henrique Júnior, outro “eterno jovem” que nasceu no dia raro, a comemoração nunca é feita no dia anterior. “Quando não tem dia 29, a festa sempre é no dia 1º de março, ouvi a vida inteira comemorar antes dá azar”, diz. Nos anos bissextos, a festa de aniversário é em dose dupla. A filha de Paulo completará 20 anos na sexta-feira (1º).

“Na verdade, era para ela ter nascido dia 29 também porque 2004 foi ano bissexto. Mas minha esposa estava brigada comigo e segurou o parto até o outro dia, só de raiva”, conta Paulo rindo. Neste ano, ele vai viajar à trabalho e não vai comemorar a data. Para quem pode, a tradição de comemorar o aniversário no dia em que de fato nasceu, terá um gosto especial na quinta-feira (29).