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Experimento na Chapada torna solo pobre em berço de produtividade

Um solo pobre passou a produzir frutas tropicais graças a um projeto de recuperação com práticas orgânicas e sustentáveis

  • Foto do(a) author(a) Nilson Marinho
  • Nilson Marinho

Publicado em 12 de maio de 2025 às 05:00

O experimento foi feito Embrapa Mandioca e Fruticultura, sediada na cidade de Cruz das Almas, no Recôncavo baiano, em parceria com a Bioenergia Orgânicos
O experimento foi feito Embrapa Mandioca e Fruticultura em parceria com a Bioenergia Orgânicos Crédito: Divulgação

A paisagem de cachoeiras, vales e serras é deslumbrante, mas o solo avermelhado da cidade de Lençóis, na Chapada Diamantina, não colabora muito. Com baixos níveis de nutrientes, acidez elevada e uma estrutura química pouco amigável à agricultura, o solo da região é uma latossolo típico, pobre em nutrientes essenciais como fósforo, potássio, cálcio e magnésio.

Já não bastasse isso, o solo sofre com a degradação provocado pelas atividades humanas, o que contribui ainda mais para essa deficiência. Mas isso começou a mudar em 2014, ano em que pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura, sediada na cidade de Cruz das Almas, no Recôncavo baiano, em parceria com a Bioenergia Orgânicos, empresa agroindustrial com sede em Lençóis, deu início a um processo de recuperação e manejo do solo com foco na agricultura orgânica.

Em 2010 a empresa já havia buscado a Embrapa para formalizar uma parceria para produção orgânica de frutas, mas as ações efetivas de campo só foram iniciadas quatro anos depois. Mas antes da germinação de qualquer coisa que se propusessem a plantar era preciso, tratar aquela terra.

“O solo é a base para o cultivo, principalmente em sistemas orgânicos. O cultivo orgânico de fruteiras tem crescido no Brasil, também no estado da Bahia e a Chapada Diamantina é uma região promissora no Estado”, diz Ana Lúcia Borges, pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura e representante da Empresa na Comissão de Produção Orgânica da Bahia, fórum composto por membros de entidades governamentais e não governamentais.

A área escolhida para o plantio pertence à Bioenergia Orgânicos e é caracterizada por latossolos vermelhos-amarelados distróficos, tipo de solo comum na Bahia, mas sabidamente pobre. O excesso de alumínio e a baixíssima presença de cálcio, magnésio e potássio compunham um cenário desolador para quem pensasse em cultivar frutas tropicais por ali.

Além disso, o pH era abaixo de 5,0, o que classificava o solo como muito ácido e prejudicial para a maioria das culturas. A título de comparação, o pH 5,5 a 6,5 é encontrado em solos levemente ácidos, mas ainda assim esse efeito é ideal para a maioria das plantas.

A equipe, diz a pesquisadora, começou avaliando os atributos físicos, químicos e biológicos da área, já que era preciso mais que adubo para tratar aquele solo, naturalmente castigado. Era necessário entendê-lo e cuidá-lo com técnicas sustentáveis. A primeira intervenção, portanto, envolveu a aplicação de calcário e gesso, além de duas formas distintas de preparo do solo: o convencional arado, removendo camadas superficiais da terra de até 30 cm e de gradagem, etapa que acontece depois da aração, onde se nivela a terra.

Na sequência, foram incorporadas coberturas vegetais com um coquetel de leguminosas e gramíneas: feijão-de-porco, mucuna-preta, milheto e sorgo. Espécies que são fundamentais por enriquecerem o solo com matéria orgânica e aumentarem sua capacidade de retenção de nutrientes. As plantas de cobertura foram plantadas, roçadas, replantadas, e novamente roçadas.

Foram sando técnicas como calagem, cobertura vegetal e manejo agroecológico.
Foram sando técnicas como calagem, cobertura vegetal e manejo agroecológico. Crédito: Divulgação

“Após, aproximadamente, 100 dias as coberturas vegetais foram roçadas e a fitomassa mantida no solo. Houve uma rebrota, novo plantio das espécies vegetais, rebrota e roçagens das coberturas vegetais. Após 24 meses deste preparo do solo foi realizado o plantio das bananeiras”, conta a pesquisadora.

A matéria seca ficou no solo, agindo como adubo natural. Essa diversidade de espécies e a decomposição gradual delas fizeram a diferença. O resultado foi quase imediato: em apenas sete meses, os teores de cálcio e magnésio aumentaram em mais de 1.000%, e o potássio teve crescimento de 71%. O solo passou a respirar.

“As plantas de cobertura são fontes de matéria orgânica e a matéria orgânica proporciona melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo, bem como dá garantia de produtividade e qualidade dos produtos agrícolas nos sistemas orgânicos de produção. O manejo solo com espécies vegetais é fundamental no sistema orgânico e a melhoria dos seus atributos químicos, físicos e biológicos é a base para o sucesso da produção”, explica Ana Lúcia.

Com o solo recuperado, a etapa seguinte foi o plantio da banana “BRS Princesa”, variedade desenvolvida pela própria Embrapa e adaptada ao cultivo orgânico. Essa variedade se parece com a banana-maçã, porém menor e com um sabor mais suave. Além disso, é resistente a doenças como a sigatoka-negra, que ataca as folhas de bananeiras, e a murcha de Fusarium, ou Mal-do-Panamá, que afeta as raízes e o caule da planta.

No primeiro ciclo, diz a pesquisadora, a produtividade surpreendeu. O resultado foram bananeiras com mais folhas, pseudocaules mais robustos e cachos mais pesados. No segundo ciclo, por sua vez, os ganhos se acentuaram. “Além do número de frutos, notadamente no segundo ciclo. A dose de gesso mineral que aplicamos também aumentou o número de folhas e a área foliar no florescimento, a massa do cacho e a produtividade estimada, no primeiro ciclo”, explica a pesquisadora.

A variedade de banana “BRS Princesa”, desenvolvida pela Embrapa e adaptada ao cultivo orgânico, surpreendeu pela produtividade
A variedade de banana “BRS Princesa” surpreendeu pela produtividade Crédito: Divulgação

Ana Lúcia ressalta que a banana ‘BRS Princesa’ se mostrou ideal para a região não apenas pela produtividade, mas pela resistência natural às principais pragas, o que elimina a necessidade do uso de defensivos químicos. Em sistemas orgânicos, diz ela, isso representa uma economia importante e uma garantia de qualidade para o consumidor.

“Uma das recomendações para o sistema orgânico é que a variedade da cultura a ser plantada deve ser adaptada às condições locais e resistentes à pragas e doenças. Por isto considera-se que a BRS Princesa é adequada, por ser resistente às principais doenças da bananeira”, explica.

A ideia é que o experimento, que também foi Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) não beneficie apenas a empresa parceira, mas que essas práticas sejam também replicadas por produtores vizinhos, fazendo com que a experiência de Lençóis vire modelo em cursos e palestras sobre agricultura regenerativa na Bahia.

“Os resultados foram apresentados em eventos e continuam sendo divulgados em palestras e cursos ministrados. Na empresa parceira as práticas recomendadas estão sendo adotadas e os produtores vizinhos e outros da região podem conhecer os resultados positivos da prática. Geramos publicações sobre a forma correta de amostragem de solo e as características de espécies de plantas de cobertura do solo, para poderem melhorar os atributos físicos, químicos e biológicos do solo e com isso a sua qualidade”, destaca a pesquisadora.

 Ana Lúcia Borges, pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura
Ana Lúcia Borges, pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura Crédito: Divulgação

Os resultados do experimento, continua ela, também servem como base para políticas de conversão agroecológica em outras regiões, especialmente nas áreas onde predominam os latossolos distróficos, comuns em diversas partes da Bahia e do Nordeste.

"As práticas empregadas, como preparo mínimo do solo e uso de plantas melhoradoras, reduzem os riscos de erosão e poluição por nitrato. Ao substituir a adubação nitrogenada mineral pela orgânica, promovemos uma agricultura mais limpa e resiliente”, conclui a pesquisadora.