Família de Sara Mariano não tem acesso à filha da cantora há 21 dias

A menor será ouvida durante audiência para definição da guarda

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  • Yasmin Oliveira

Publicado em 16 de novembro de 2023 às 23:25

Mãe de Sara Mariano, Dolores Correia
Mãe de Sara Mariano, Dolores Correia Crédito: Ana Lúcia Albuquerque/CORREIO

O último contato da família materna com a filha de Sara Mariano, pastora e cantora gospel, foi por meio de um áudio da criança de 11 anos, no dia 26 de outubro, quando Ederlan Mariano registrou o desaparecimento da esposa que, no dia seguinte, foi encontrada morta às margens da BA 093, em Dias D’Ávila, Região Metropolitana de Salvador (RMS). A informação foi confirmada pela advogada da família, Sarah Barros, na tarde desta quinta-feira (16).

Segundo a advogada da família, foi concedida uma decisão liminar que regulamenta a convivência e suspende o poder familiar de Ederlan. A guarda será definida em audiência com a menor presente para ser ouvida pelo juiz do caso.

O caso está parado devido a um estudo psicossocial do Serviço de Apoio e Orientação Familiar (SAOF) do Tribunal de Justiça da Bahia. “O SAOF é um órgão responsável por fazer os estudos psicossociais. Então, tem assistente social e psicólogo para irem à casa da pessoa para fazer um estudo sobre as condições em que a criança moraria, dormiria, como seria a rotina e os cuidados que ela teria”, relatou a advogada.

Tribunal de Justiça da Bahia foi procurado, mas recomendou contato com o Ministério Público da Bahia por ser um caso que está tramitando em segredo de justiça. O Ministério Público da Bahia informou que está apurando a solicitação e, na sexta-feira (17), retornará com as informações.

Em relação a prisão preventiva dos suspeitos de cometerem o crime, o bispo Zadoque e o ministro Gideão, Sarah Barros confirma a felicidade da família. “Estamos confiantes no trabalho do Delegado e da polícia”, relata a advogada.

Relembre o caso

Os familiares da cantora gospel Sara Mariano pediram que a filha da pastora, de 11 anos, participasse do velório da mãe, no dia 30 de outubro. No entanto, o pedido teria sido negado pela família de Ederlan Mariano, marido da vítima e principal suspeito do crime.

De acordo com a advogada Sarah Barros, representante da família materna, o pastor de uma igreja frequentada por ambas as famílias teria tentado fazer a intermediação no dia do enterro da cantora. "Nós não tivemos retorno da família, tentamos até por volta das 15h", afirma a advogada.

A família materna entrou com um pedido de convivência no plantão judiciário do dia 2 de novembro. Inicialmente, o plantão declinou a competência e o pedido foi encaminhado à 6º Vara da Família do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA).

No dia 3 de novembro, a defesa da família de Sara Mariano teria tentado viabilizar o encontro por meio de contato com o advogado da família paterna, mas não obteve sucesso. "Infelizmente, a família paterna não permitiu. Por isso, não restou outra alternativa a não judicializar a situação, para que todas as medidas adequadas sejam tomadas", pontua.

No dia 7 de novembro, a defesa entrou com pedido de guarda unilateral, destinada exclusivamente a um dos genitores ou a quem o substitui. "A maior preocupação da família materna é o bem-estar dessa criança. O que essa menina presenciou na casa dos pais? Qual é o real motivo da família paterna não permitir que membros da família materna tenha acesso a essa criança?", questiona Sarah Barros.

Na única vez em que Soraya, irmã de Sara Mariano, conseguiu conversar com a avó paterna da menina, por telefone, a mulher alegou que a garota não poderia falar porque estava alimentando cachorros com o avô. As tentativas de contato frustradas e informações de vizinhos e funcionários da escola onde a menina estuda têm levado a família materna a crer que a criança está sendo escondida porque pode revelar o quanto o pai era perigoso.

De acordo com a advogada Sarah Barros, representante da família materna da criança, de 11 anos, a pastora enviava áudios aos familiares constantemente, relatando que vivia em um relacionamento abusivo.

Em um desses áudios, Mariano teria informado que a própria filha teria pedido para a mãe se separar do pai, por causa do comportamento que ele teria apresentado nos últimos tempos. "Ultimamente, ele [Ederlan] estava bebendo muito, chegava embriagado em casa e teria forçado Sarah a ter relações sexuais", disse a advogada.

Nem a filha de 11 anos do casal era poupada de presenciar as agressões, segundo Dolores. "Minha filha contou para mim que, quando ela chegava da igreja, ele estava bêbado. Teve um dia que ela precisou abraçar a filha dela porque ele estava nu dentro de casa querendo fazer sexo e a filha vendo tudo. Ela pediu respeito e disse que ia contar para um amigo policial das atitudes dele. Na hora, ele respondeu que, se ela contasse, acabava com a raça dela", relembrou.

Por isso também a mãe de Sara quer a guarda da criança, que está sob os cuidados da família de Ederlan. "Eu não confio e não aceito esse homem com a filha deles. Ele mandou matar a mãe dela e, do jeito que está, pode fazer o mal a filha também. Eu quero a guarda dela. Não por conta da família dele, mas porque não quero ela perto dele. Minha neta vai ser criada como a mãe, dentro dos ensinamentos de Deus", disse.

Crime

Segundo a polícia, a morte da pastora Sara Mariano começou a ser planejada em 24 de setembro. O marido dela, o produtor musical e também pastor, Ederlan Mariano, está preso suspeito de ser o mandante do crime. A motivação foi problemas conjugais. A polícia não forneceu detalhes, mas a suspeita é de que a vítima tenha tido uma relação extraconjugal.

Um mês depois, na noite de 24 de outubro, Sara Mariano saiu do bairro de Valéria, em Salvador, para participar de um suposto evento religioso em Dias D'Ávila, e nunca mais foi vista. O marido prestou queixa na delegacia relatando o desaparecimento, e três dias após o sumiço o corpo da pastora foi encontrado carbonizado às margens da BA-093, na altura de Dias D’Ávila.

A polícia descobriu que Gideão foi o motorista por aplicativo que buscou Sara Mariano em casa naquela noite. Ele já havia dirigido para a pastora em outros momentos. O veículo fez uma parada no meio do caminho, a vítima desceu e entrou em outro veículo. É o que alega Gideão.

Os investigadores apuraram que o bispo Zadoque estava no carro em que Sara entrou. A polícia investiga a participação dos dois e de Ederlan no desaparecimento e na morte da cantora gospel.

Nesta manhã (16), o bispo Zadoque e o ministro Gideão foram presos e os dois suspeitos estão na carceragem da Delegacia de Dias D´Ávila. Ambos serão transferidos para o Centro de Observação Penal, no Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador. A data para essa mudança não foi confirmada. A prisão é temporária, o que significa que a polícia tem 30 dias para apresentar provas e concluir o inquérito.

*Orientado pela subeditora Monique Lôbo