Famílias acusam PMs de executar dois jovens em Salvador

Robson, 27, foi baleado em Santa Mônica e Raí, 15, atingido em Alto de Coutos. Ambos não estariam armados

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  • Bruno Wendel

Publicado em 25 de fevereiro de 2024 às 15:41

Família de Robson acusa PMs de execução em Santa Mônica
Família de Robson acusa PMs de execução em Santa Mônica Crédito: Reprodução

Duas famílias e a mesma dor e revolta. Os parentes de Robson Ramos da Conceição, 27 anos, e do adolescente Raí Conceição Silva, 15, disseram que eles foram executados por policiais militares neste sábado (25). O primeiro foi baleado no bairro de Santa Mônica e o segundo em Alto de Coutos, subúrbio ferroviário. As famílias negam que ambos reagiram às abordagens, tampouco estavam armados. 

“Eles não podem chegar assim, atirando. Outros inocentes poderiam ser atingidos, eu por exemplo, ou um idoso ou uma criança”, declarou a irmã de Robson, Rosa Santos Conceição, 54, na manhã deste domingo (25) no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR).

Segundo ela, Robson estava sentado numa calçada, junto com amigos, numa festa de aniversário, na Rua Mário Kertesz, quando policiais chegaram atirando, por volta das 19h. “Eles falaram: ‘perdeu, perdeu’ e começaram a atirar. Todo mundo correu, meu sobrinho correu, até eu, se estivesse lá, por instinto, correria. Mas Robson foi baleado pelas costas”, contou Rosa. “Eles disseram lá que ele (Robson) trocou tiros. É mentira! Os tiros foram nas costas”, emendou o tio, o aposentado Marivaldo Manoel da Conceição, 66. Robson foi socorrido por parentes para o Hospital Ernesto Simões, mas não resistiu.

Rosa contou que Robson era usuário. “Mas não bandido. Ele nunca foi preso. Foram dados vários concelhos, mas infelizmente isso aconteceu”, disse a tia do rapaz, que era o caçula de cinco irmãos. “Até vulgo deram a ele, de ‘Negão’, sendo que ninguém o chamava assim. A família e os vizinhos chamavam meu sobrinho sempre pelo nome”, contou Rosa.

Ela disse que família vai procurar os órgãos de controle da atividade policial. “Nem todo mundo que mora num local onde tem bandido é bandido. Vamos correr atrás de providências. Se a gente não falar nada, isso continua. Tem muita gente inocente morrendo”, desabafou Rosa, que pretende procurar a Corregedoria da PM e o Ministério Público estadual (MP/BA).

O segundo caso aconteceu na localidade de Alto de Coutos conhecida como Jauá. Raí foi baleado há poucos metros de casa, pouco depois das 12h. O adolescente foi atingido duas vezes no peito. Ele estava com um amigo que, segundo parentes, também morreu. “Meu primo já chegou morto ao Hospital do Subúrbio. Já a outra vítima, morreu durante a cirurgia”, contou a prima do adolescente, no IMLNR. 

De acordo com ela, Raí e o amigo caminhavam quando uma equipe da PM chegou atirando. “Meu primo era usuário. Ele usava droga há um ano e o pai tentou alguma vezes interná-lo, mas ele não queria”, contou.

Ao contrário da família de Robson, os parentes de Raí ainda não têm certeza se irão correr atrás de providências. “O pior que não adianta nada. É a nossa palavra contra a deles. Isso só irá aumentar a nossa dor”, disse ela.

O CORREIO procurou a Polícia Militar para saber a versão da corporação, mas até o momento não há resposta.