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Maysa Polcri
Publicado em 3 de outubro de 2024 às 12:59
A licença-prêmio do delegado Antônio Carlos Magalhães Santos, alvo de seis denúncias de assédio sexual, foi concedida quatro dias após os primeiros relatos contra ele serem feitos à Corregedoria de Polícia Civil. Quatro investigadoras denunciaram o delegado no dia 20 de setembro e, no dia 24, o benefício passou a valer, como consta no Diário Oficial do Estado da Bahia, publicado em 28 de setembro. A licença permite que Antônio Carlos fique três meses afastado do trabalho enquanto recebe o salário integralmente. >
Após as denúncias de assédio sexual feitas pelas colegas de trabalho, caso que foi revelado com exclusividade pelo CORREIO, o delegado, que estava à frente da 28º Delegacia Territorial, no Nordeste de Amaralina, pediu para ser exonerado do cargo. O pedido de Antônio Carlos Magalhães Santos foi aceito, assim como a licença-prêmio, que está em vigor até o dia 22 de dezembro. >
O benefício é garantido aos servidores públicos efetivos do Estado a cada período de cinco anos de trabalho ininterrupto. A notícia de que o delegado foi exonerado após solicitação própria surpreendeu a diretoria do Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindpoc), que recebeu as denúncias das investigadoras e fornece apoio jurídico e emocional às vítimas. >
“Para nossa surpresa, ele foi exonerado a pedido. E, no mesmo dia, saiu a publicação da licença-prêmio dele retroativa ao dia 24. Ressaltando que as ocorrências foram registradas na corregedoria no último dia 20. Então, em pouco menos de quatro dias, saiu a licença e isso, para a gente, não é muito confortável. Mas, pelo menos, ele foi afastado”, afirma Luciene Rodrigues, secretária-geral do sindicato. >
Para Luciene Rodrigues, o delegado ficou sabendo que as quatro mulheres o denunciaram e, por isso, entrou com o pedido de exoneração. “Não foi como se a administração tivesse solicitado a exoneração dele. Ele, certamente, ficou sabendo, foi avisado do que estava acontecendo na corregedoria, e, por isso, se antecipou”, completa. >
Denúncias>
Até esta quinta-feira (3), ao menos seis denúncias contra o delegado foram recebidas pelo Sindicato dos Policiais Civis da Bahia. As quatro primeiras foram das investigadoras que contam terem sido assediadas na 28º Delegacia Territorial, no Nordeste de Amaralina. >
As outras duas supostas vítimas denunciaram que foram assediadas por Antônio Carlos quando foram registrar ocorrências. Nesses dois casos, apesar de as mulheres terem procurado o sindicato, ainda não fizeram boletim de ocorrência na polícia. >
Ao CORREIO, o delegado negou todas as acusações, que considera que foram “armadas” pelas colegas que estavam insatisfeitas com o trabalho na localidade de Salvador. “Ninguém, nem o pessoal da Polícia Civil, quer ir lá no Nordeste de Amaralina. É uma área conflagrada pelo tráfico, perigosa. A secretaria [Secretaria de Segurança Pública da Bahia] colocou essas quatro meninas para trabalhar lá. Elas arrumaram um meio, junto com o pessoal do Sindicato [dos Policiais Civis da Bahia], fizeram essa armação, para sair de lá”, disse.>
Depoimento >
O depoimento de Antônio Carlos Magalhães Santos na Corregedoria da Polícia Civil foi remarcado para a tarde desta quinta-feira (3), na Casa da Mulher Brasileira, no Caminho das Árvores. A informação é do Sindicato dos Policiais Civis da Bahia. Questionado, o delegado não confirmou se vai depor. Ele diz que aguarda o posicionamento dos seus advogados. >
Ainda de acordo com o Sindpoc, o depoimento estava marcado para acontecer ontem (2), mas o delegado não compareceu. Antônio Carlos deve negar todas as acusações de assédio que, segundo ele, não são embasadas com provas. >
“Não existe, nas declarações delas, nenhuma prova concreta que comprove que houve assédio sexual ou constrangimento ilegal. É uma dizendo que viu a outra, mas sem prova de nada. Estou com as peças na mão para ser ouvido na corregedoria para poder finalizar isso”, afirma. O delegado já foi réu em processo de estupro contra uma adolescente de 17 anos.>
A reportagem apurou que um processo administrativo disciplinar (PAD) para investigar as denúncias de assédio só deve ser aberto depois que a Polícia Civil finalizar o inquérito policial. Ao menos uma das quatro investigadoras que acusam o delegado deverá ser ouvida novamente na semana que vem. >
Ela dará novos detalhes sobre episódios envolvendo o delegado que poderão fundamentar uma denúncia de importunação sexual e não somente assédio. A pena para o crime de importunação é de reclusão de um a cinco anos, enquanto que a de assédio é de um a dois anos. A importunação prevê toque físico não consentidoA importunação prevê toque físico não consentido entre o agressor e a vítima. >