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Gil Santos
Publicado em 30 de outubro de 2024 às 12:18
A avó de uma das crianças que aparecem em um vídeo com conotação sexual, em Castelo Branco, afirmou que a filmagem foi "uma brincadeira sem maldade". A mulher de 60 anos disse que a filha dela fez as imagens enquanto brincava com as crianças e que um ex-namorado da moça teria divulgado de forma pejorativa. No vídeo, o menino de 10 anos está com o órgão genital exposto e uma mulher incentiva ele a fazer atos libidinosos com a prima, uma menina de 8 anos que também está no quarto.
Moradores contaram que as imagens começaram a circular nos grupos de mensagens no fim de semana. O CORREIO teve acesso ao vídeo. O menino está em pé, sendo filmado da cintura para baixo com o órgão genital exposto. A menina está deitada no chão, de bruços. É possível ouvir uma mulher incitando o menino a praticar atos com a prima, o garoto não se mexe e quando a menina começa a chorar, a mulher passa a ofender a criança com palavrões. A cena deixou os moradores indignados. Eles conseguiram reconhecer a família pelas imagens e resolveram fazer justiça com as próprias mãos.
Na terça-feira (29), por volta das 21h, um grupo invadiu a casa da família, na Rua Uirassu de Assis Batista , arrastou as mães das duas crianças e o padrasto da menina para fora do imóvel e iniciou um sessão de espancamento. Os moradores distribuíram socos, chutes e usaram pedaços de madeira para ferir os suspeitos. Um barrote usado na ação ainda está no local com marcas de sangue. A avó do menino afirma que o filho, a filha e a nora são inocentes, mas admitiu que o vídeo foi feito em casa.
"Foi uma brincadeira sem maldade. O menino é especial e minha filha estava brincando com eles. O ex-companheiro dela espalhou o vídeo e as pessoas invadiram minha casa chamando meu filho de estuprador e isso não é verdade. Arrombaram meu portão, eu tenho pressão alta e levei um susto. Nunca fizemos nada de errado", afirmou a avó das crianças.
Na manhã desta quarta-feira (30), ela esteve no imóvel para recolher roupa e documentos. A mulher contou que o menino de 10 anos, neto dela, está com familiares e que a avó da menina levou a criança para casa. Já os três adultos espancados ainda estão internados. "Eles ficaram muito machucados. Meu filho está com o nariz quebrado. Todos estão recebendo atendimento médico", contou.
Vizinhos contaram que estão indignados. Um homem que pediu para não ser identificado disse que nunca percebeu nada de estranho envolvendo as crianças, mas que a família tinha um comportamento agressivo.
"Ele tratava a mãe muito mal. Ele xingava ela e fazia muitas grosserias, mas nunca presenciei cenas de agressão física e nem nada estranho relacionado com as crianças. A gente nunca sabe com certeza o que se passa dentro das casas e das famílias, mas as imagens são revoltantes", disse.
Testemunhas contaram que a família mora na mesma casa há cerca de dez anos, mas a idosa disse que estava no imóvel há quatro anos. Outra mulher que mora na mesma região também mostrou revolta ao passar pela frente da casa, nesta quarta-feira. "O que eles fizeram Deus vai cobrar. A conta chega. É de dar dó ver a criança chorando e ela incitando outra criança a fazer aquela barbaridade. Espero que eles paguem", disse.
Investigação
Durante a confusão alguém chamou a polícia. Em nota, a Polícia Militar informou que uma equipe da 47ª Companhia Independente da PM (CIPM/ Pau da Lima) esteve no local.
"Ao chegarem, os PMs encontraram as três pessoas feridas, sendo que a motivação para as agressões teria sido o envolvimento dos três em um caso de abuso de vulnerável, tendo por vítimas duas crianças, que foram encaminhadas para a Dercca", diz a nota.
Os três adultos agredidos foram socorrido para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Marcos, onde receberam os primeiros socorros, e depois, levados para a delegacia.
Em nota, a Polícia Civil informou que a Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Dercca) instaurou inquérito por corrupção de menores, com base no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) pela produção de vídeos com conotação sexual envolvendo duas crianças, uma menina de 8 anos e um menino de 10 anos, residentes do bairro Castelo Branco.
"Populares tentaram linchar familiares das vítimas que são acusados de produzir e divulgar os vídeos nas redes sociais. Os suspeitos foram encaminhados para a delegacia especializada por uma guarnição da Polícia Militar que evitou a ação dos populares", diz a nota.