Fuzis e espingardas: CV usa armas de guerra em Itaparica e tem apoio da Katiara

Polícia apreendeu fuzil com traficantes há um mês, mas facções seguem com ataques

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  • Wendel de Novais

Publicado em 20 de março de 2024 às 05:45

Armas de alto calibre foram usadas em ataques do CV Crédito: Reprodução

Enquanto avançavam em ataques na Ilha de Itaparica, integrantes da facção do Comando Vermelho (CV) exibiram em vídeos que circulam nas redes sociais o armamento que possuem. Nas imagens, os criminosos mostram fuzis em mãos e até a chegada de espingardas 12mm, mais conhecidas como ‘12s’. De acordo com fonte da polícia, as armas foram usadas em tiroteios promovidos pela facção contra rivais do Bonde do Maluco (BDM) e até contra policiais em localidades na região de Jiribatuba.

O CV, porém, não age sozinho na ilha. O grupo se aliou à Katiara para reduzir o domínio histórico do BDM na região. "Esses traficantes são liderados por Tio Chico, um criminoso conhecido pela polícia e que coordena as ações do CV em Jirituba e outras localidades da área que é conhecida como Cone Sul. Eles se aproveitam das regiões de mata, onde se escondem com as armas, e ainda são aliados da Katiara. Até então, o BDM estava consolidado há anos nesses lugares, mas se enfraqueceu com 'baques' recentes da polícia e Tio Chico, como se esperava, quer se aproveitar disso", aponta a fonte, sem se identificar. 

Os baques citados pela fonte dão conta de ações policiais em resposta ao sequestro de um policial militar promovido por integrantes do BDM. Na época, policiais do 23º Batalhão da Polícia Militar receberam a denúncia sobre o rapto e iniciaram as buscas, encontrando horas depois o policial sequestrado na localidade da Divineia, em Aratuba. As investigações do caso, porém, levaram a confrontos e apreensões de armas e drogas do BDM. Com o enfraquecimento do grupo, Tio Chico, o líder do CV na ilha, passou a comandar ataques ainda no mês passado.

Prova disso é a apreensão do mesmo tipo de fuzil no dia 22 de fevereiro por agentes do 23º BPM. "[A ação ocorreu] após denúncias de populares que havia dois indivíduos na localidade supramencionada remanescentes de uma troca de tiros entre súcias rivais ocorrida nas primeiras horas da manhã na Divineia e que estavam intencionando pegar um veículo para sair do local. De imediato, esta guarnição deslocou e, ao chegar no local, foi recepcionada por cerca de sete faccionados que efetuaram disparos em desfavor dos militares", relata a PM em nota divulgada na época.

"O revide foi feito e os perpetradores evadiram- se para a mata. Em ato contínuo, esta guarnição abordou dois indivíduos que estavam em uma Sprinter e percebeu que estes faziam parte da ação delituosa. Feita a abordagem, eles confessaram que havia um fuzil no mato e que levariam a guarnição até o local onde estava o armamento", completa a polícia. De acordo com a fonte ouvida pela reportagem, a captura da arma já representa um golpe significativo no CV e na Katiara, visto que uma arma do tipo pode custar R$ 70 mil e R$ 100 mil no mercado paralelo.

Arma foi aprendida com faccionados do CV e da Katiara Crédito: Reprodução/PMBA

Apesar da apreensão, outros integrantes da facção seguiram soltos e em posse do mesmo armamento. Nos ‘acampamentos’ atuais do CV e da Katiara na ilha, é possível ver os traficantes ‘exaltando’ as armas que utilizam nos ataques. “Olha aí, velhinho, o porte de Guedes na Ilha de Itaparica”, diz um criminoso enquanto grava um vídeo de outro integrante do CV com um fuzil. “Está pensando que eu não tenho reserva não, é?”, responde o homem com a arma e o pente na mão.

Um tipo semelhante de arma já foi encontrado com integrantes do CV em Salvador, quando em dois dias de ação policial no Alto das Pombas, agentes de segurança apreenderam seis fuzis, 11 pistolas do modelo 9 mm e três granadas sem modelo informado durante confrontos protagonizados pela organização criminosa e por sua maior rival na Bahia, o Bonde do Maluco (BDM).

Na época, o comandante da PM-BA, coronel Paulo Coutinho, explicou o nível de poder de fogo que a arma representa.  "São fuzis importados que têm uma capacidade bélica grande, são armas de guerra. O alcance útil supera 2 km e, por isso, tivemos impacto na Graça. Hoje, eles são comercializados, no mercado nacional, com um valor por unidade que é de mais de R$ 70 mil", destacou em entrevista coletiva à imprensa. 

Em outros registros na Ilha de Itaparica, o mesmo grupo exibe outros três fuzis parecidos, além de mostrar a chegada de drogas e uma outra arma: a espingarda 12mm. “Chegou isso aqui: um quilo de pó, duas tampas de haxixe e quatro 12”, fala um outro criminoso, enquanto mostra as armas cobertas pelos lençóis. Com esse armamento, os integrantes do CV se estabeleceram em localidades como Jiribatuba, Aratuba, Divineia, Berlinque, Cacha Pregos e Catu, que tinham atuação anterior do BDM.

Procurada, a Polícia Militar da Bahia (PM-BA) não confirmou a ocorrência, mas ressaltou que “o policiamento na região é realizado pelo 23º BPM que, diuturnamente, realiza rondas, abordagens e operações de acordo com a mancha criminal, visando coibir ações criminosas”. A fonte da polícia ouvida pela reportagem indica que o foco das ações são para encontrar Tio Chico, o que, na visão da corporação, desarticularia o grupo e, consequentemente, os ataques que promovem na ilha.