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Maysa Polcri
Publicado em 5 de agosto de 2025 às 18:38
Seis meses após o desabamento do teto da Igreja de São Francisco de Assis, no Pelourinho, um dos templos mais tradicionais de Salvador segue fechado e sem previsão de reabertura. O teto da chamada 'igreja de ouro' desabou no dia 5 de fevereiro deste ano, o que provocou a morte de uma turista de 26 anos e deixou outros cinco feridos. Há duas semanas, uma reportagem do CORREIO revelou que os pagamentos de obras emergenciais estavam em atraso. >
Em julho, o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na Bahia, Hermano Guanais, enviou um ofício ao presidente do órgão relatando o atraso de pagamentos de parcelas no valor de R$ 400 mil. No documento, Guanais cita o risco de interrupção das obras. >
"Diante da urgência da situação e para evitar a ocorrência de situações adversas ao Iphan, até mesmo a interrupção da execução da obra emergencial, reforço a necessidade do envio do recurso para o pagamento das Notas Fiscais à empresa contratada", afirmou. Após o caso ser divulgado, o Iphan transferiu o valor para a empresa Mehlen Construções, responsável pelo serviço. Antes mesmo do desabamento em fevereiro, havia um projeto de restauração da igreja, no valor de R$ 1,2 milhão. >
Agora, o Iphan trabalha no processo de estabilização do forro da igreja. Ainda não há prazo especificado para o fim das obras e nem reabertura do templo para visitação. O aporte de R$ 1,3 milhão para a reconstrução do templo foi anunciado dois dias após o desabamento. “Estamos contratando uma obra emergencial para o escoramento da igreja, para a estabilização do imóvel, a limpeza do local e a retirada de todos os materiais que desabaram para que sejam também analisados e possam subsidiar as intervenções futuras”, disse o presidente do Iphan, Leandro Grass, na ocasião. >
O valor pode ser inferior ao necessário para o reparo completo. Estimativas iniciais feitas por especialistas apontaram que a reestruturação do templo poderia ultrapassar os R$ 10 milhões, como mostrou o CORREIO, e demorar até cinco anos. De acordo com o frei Lorrane Clementino, da Ordem Primeira de São Francisco, áreas do convento localizado ao lado da igreja seguem isoladas por risco de desabamento.
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Desabamento da Igreja São Francisco de Assis, no Pelourinho
Os frades foram realocados para uma parte segura do complexo. Enquanto isso, as celebrações religiosas são realizadas na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, localizada ao lado do local onde o desabamento ocorreu, no Pelourinho. “É importante destacar que os frades franciscanos estão buscando novas iniciativas para a captação de recursos, com o objetivo de acelerar a restauração deste que é um dos maiores patrimônios do Brasil”, diz, em nota, a igreja. >
O desabamento aconteceu entre 14h30 e 15h do dia 5 de fevereiro, deixando uma pessoa morta e outras cinco feridas. A igreja era aberta para visitação e interesse de muitos turistas. Segundo guias que estavam no local, no momento do acidente, houve um estrondo que assustou quem passava pela região. Ao todo, seis pessoas foram feridas. Uma delas, a turista paulista Giulia Panchoni Righetto, de 26 anos, morreu no local. A Polícia Federal não descarta responsabilização criminal pela morte da jovem.>
Antes do desabamento, as observações de turistas brasileiros e estrangeiros sobre problemas estruturais da Igreja de São Francisco de Assis eram comuns. Guias de turismo que atuam na região consideram o episódio uma "tragédia anunciada". "Todos os turistas questionavam sobre os riscos de desabamento quando viam as rachaduras no teto. Pediam explicações sobre o porquê não era restaurado", contou um guia ao CORREIO.>
Imagens registradas por turistas na semana passada antes da tragédia mostram que o teto do templo apresentava dilatações em diversos pontos. Um outro guia de turismo, autorizado a acompanhar viajantes dentro da Igreja, revela que chegou a perder clientes por medo de desabamento.>
Em setembro de 2021, o Iphan foi condenado a realizar obras de recuperação, conservação e manutenção da Igreja e Convento de São Francisco, no Centro Histórico de Salvador. A autarquia federal se tornou ré de ação após a Comunidade Franciscana da Bahia, dona do imóvel, alegar não ter recursos para realizar obras emergenciais.>
A decisão, a qual o CORREIO teve acesso, aponta que perícia realizada em 2018 apontou problemas no "pavimento superior, na clausura, no depósito, na biblioteca, no elevador, na varanda superior do imóvel, nas peças e madeiras e elétrica com fiação aparente, na cobertura, na varanda do pavimento superior, na rede pluvial, na fachada e na estrutura do imóvel".>