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Jimmy Cliff e o Pelourinho: a história do Bar do Reggae que mudou o cenário musical na Bahia

Albino Apolinário relembra como o bar virou templo regueiro na Bahia e referência para o ícone mundial do reggae

  • Foto do(a) author(a) Moyses Suzart
  • Moyses Suzart

Publicado em 25 de novembro de 2025 às 05:00

Albino Apolinário, fundador do Bar do Reggae e sua relíquia
Albino Apolinário, fundador do Bar do Reggae e sua relíquia Crédito: Arison Marinho

Na semana que antecedeu o show histórico de Jimmy Cliff e Gilberto Gil, em 1980, na Fonte Nova, o jovem Albino Apolinário resolveu pintar a cantina da mãe com as cores do pan africanismo (verde, amarelo, vermelho e preto) e rebatizar o local como Bar do Reggae. Mesmo antes disso, as músicas de Jimmy Cliff, que morreu ontem, aos 81 anos, já tocavam no local, graças a Albino. Mal sabia ele, mas, ao desafiar a mãe, criou um ponto de encontro para a legião regueira da Bahia, que hoje chora a partida do ícone que, não só fez história, mas também deu régua e compasso para a formação do gênero no estado.

“Aquele show foi esperado por todos, mas a gente já tocava Bob [Marley] e [Jimmy] Cliff no bar de minha mãe. Um dia, ela me deu dinheiro para comprar um disco de Martinho da Vila e eu voltei com o de Bob Marley”, lembra Albino. Na época, quando apareceu com o disco que tinha uma folha de maconha na capa, a mãe pintou e bordou com ele. Mas, foi por pouco tempo. Ela percebeu rapidamente que o bar enchia tanto quando colocava reggae pra tocar que vazava gente pra rua. “No fim, quando ela via o movimento diminuindo, dizia: ‘filho, coloca um reggae’”, lembra.

Ou seja: bem antes do show marcante na Fonte Nova, o Pelourinho já consumia Jimmy Cliff. “Todo mundo aqui do bar esperava pelo show. Eu comprei até um local que era tipo um camarote da época. Nem adiantou. Foi tanta gente, que até o portão foi derrubado. Foi lindo”, lembra Albino. “O palco estava ainda tudo escuro quando Cliff começou com a música Bongo Man. Aí pum! A luz iluminou só o cara, todo vestido com as cores do exército. Toda banda estava daquele jeito. Acho que ele nem sabia que a gente ainda estava na ditadura. Porra, velho, foi um negócio da porra. Como uma música me arrepiava todo sem nem saber inglês? Claro, também era uma maconha da desgraça [no show]”, diz.

Mal sabia ele que o Bar do Reggae acabou sendo uma referência até para o próprio Cliff, que fez questão de visitar o lugar. “O bar estava lotado, gente na rua, dentro, daquele jeito. De repente Jimmy chegou. Fui, diminuí o volume da música e anunciei sua presença. ‘Porra, eu fumo maconha e você que fica doidão?’, alguém gritou. Ninguém acreditou, foi uma loucura. Não tinha internet na época. O povo não acreditou porque achava que ele era rasta. E não era”, conta.

Depois que se mudou para Salvador, Jimmy continuou frequentando o Bar do Reggae. Visitava com outros artistas, como Gil. E vai continuar frequentando no campo astral. Hoje (25), a partir das 19h, Albino promete um tributo ao ídolo. Vai ter reggae até umas horas no Negro’s Bar. “Está tocando com Jah, neste exato momento”, garante.

Após o Bar do Reggae, outros locais temáticos transformaram o Centro Histórico no reduto do gênero que começou na Jamaica, mas que ganhou uma nova forma com as influências musicais da Bahia. Uma coisa é fato. Para Albino e outros regueiros, Jimmy Cliff foi uma influência crucial para a entrada do reggae na Bahia. Até mais que o próprio Bob Marley.

“Ele foi o primeiro a estourar no mundo e, a partir daí, conduz os outros jamaicanos para o sucesso. O reggae nasce a partir da música dele, que faz essa fusão toda que o reggae tem. Jimmy Cliff é o cara responsável por isso tudo”, completa Albino.

A Bahia também influenciou Cliff - mais do que qualquer outro lugar fora da Jamaica. Jimmy encontrou em Salvador um lar e um ponto de convergência para sua música. Por aqui, não se limitou. Conviveu intensamente com a cultura da cidade e formou família. O nascimento de sua filha Nabiyah Be é símbolo dessa imersão.

A Bahia ofereceu-lhe o terreno fértil para que o reggae, vindo da Jamaica, ganhasse novo corpo e nova voz, de Gil ao Olodum. Esse encontro talvez não tivesse tanta força se não fosse o jovem Albino a desafiar a mãe e botar o reggae pra tocar nos becos no Pelourinho.

Albino Apolinário, fundador do Bar do Reggae e sua relíquia por Arison Marinho

Tags:

Jimmy Cliff Jimmy Cliff na Bahia bar do Reggae