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Retorno do X ocorreu nesta quarta-feira (18)
Gilberto Barbosa
Publicado em 19 de setembro de 2024 às 05:00
Usuários do X (antigo Twitter) tiveram uma surpresa na manhã desta quarta-feira (18): o acesso a rede social estava liberado, mesmo com o bloqueio imposto pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, no último dia 30 de agosto. A volta ocorreu após a rede trocar o IP para outra empresa, liberando o acesso para os usuários, e foi o tema mais comentado durante o dia na plataforma.
Um levantamento feito pelo jornal Folha de São Paulo apontou que 200 mil postagens contavam com o termo ‘voltou’. Além disso, assuntos como 'Twitter is Back' e 'A liberdade cantou' ficaram entre os mais comentados durante o dia. Contas estrangeiras também comentaram sobre a volta dos brasileiros, que compõem o quarto maior público da plataforma.
A analista de marketing Vitória Costa, 25 anos, é usuária assídua do X. Ela soube da liberação em um grupo de amigos no Whatsapp e contou que não desinstalou o aplicativo do celular no período do bloqueio, com esperança de que ele fosse retornar.
“O X é como uma espécie de diário, tanto que eu só adicionei as pessoas mais próximas. É onde eu consigo colocar pensamentos e as coisas do meu dia a dia que eu não me sinto confortável para compartilhar em outro local. Por mais que houvesse substitutas, eu já tinha criado uma relação com a rede. Não é só postar por postar, você cria uma comunidade, você cria um senso de coletividade”, afirmou.
Os primeiros dias sem usar o X foram tranquilos para Vitória, que pretendia reduzir a quantidade de redes sociais que faziam parte da sua rotina. No entanto, conforme o tempo passou, ela identificou situações no seu dia a dia que poderiam ser relatadas aos seus amigos.
“Eu não tinha onde postar, só que eu também não queria colocar em outra rede social. Com isso, eu criei um grupo no Instagram, em que eu era a única integrante, e nomeei de Twitter, para colocar os meus pensamentos. Agora que o acesso ao X está liberado, eu já retornei e deixei o Instagram”, completou, antes de saber do novo bloqueio à rede social.
Nem todos conseguiram acesso imediato a plataforma. Um deles foi o supervisor de marketing Marcos Flávio Nascimento, 23, que tem a rede como uma parte importante da sua rotina, dedicando entre cinco e seis horas por dia ao site.
“Eu tentei pelos dados móveis, mas só consegui usar quando encontrei uma rede wi-fi. Foi muito complicado ficar sem o X, porque era a rede mais eficaz para se atualizar sobre o que acontecia durante o dia. Eu estou muito feliz já que agora eu posso desabafar e reclamar dos meus problemas em paz. No X, eu posso usar o pseudônimo e adicionar apenas quem eu quero, o que me dá mais liberdade e conforto para usar o aplicativo”, disse, também antes da nova suspensão do acesso à plataforma.
Quem também usa a rede social como um hub de notícias é produtor cultural Kaurel Pinho, 28, que voltou para o aplicativo no momento que soube da liberação. “Eu pesquisava tudo e sabia das principais notícias por lá. Nesse tempo de bloqueio, eu fiquei bem perdido porque eu não uso outras redes sociais. Além disso, essa é a única rede social em que eu fico próximo dos meus amigos, já que é o local onde eu conto a minha vida e fico sabendo da vida deles”, relatou.
Apesar da volta momentânea, o X ainda segue proibido no país. O retorno da rede ocorreu após uma mudança no registro de servidores da rede social, liberando o acesso do site para os usuários e descumprindo a decisão do ministro Alexandre de Moraes. A afirmação é de provedores de internet, que são os responsáveis na prática pelo bloqueio. A mudança dificulta restringir o acesso ao site, dizem eles. A informação é do jornal O Globo.
Segundo a Associação Brasileira dos Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), o X trocou seu IP de provedores próprios para o de outra empresa e está usando um sistema que serve como “escudo” para proteger esses servidores. A Cloudflare, que oferece serviços para grandes empresas do país, incluindo bancos, foi contratada para prestar esse serviço para o X. O que o serviço faz é distribuir o tráfego da rede por novas rotas, dificultando o bloqueio.
"O X passou a funcionar com um novo software, que não está mais usando os IPs da rede social, mas da Cloudflare. Não é uma coisa simples de bloquear. Eles fizeram uma modificação para tornar o bloqueio muito mais difícil", disse Basílio Rodríguez Perez, em entrevista ao O Globo. Para ele, os provedores "não têm o que fazer". Bloquear a Cloudflare colocaria em risco o acesso a centenas de serviços legítimos, acrescentou, já que até bancos usam os recursos da empresa no país.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro