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Gilberto Barbosa
Publicado em 29 de maio de 2024 às 05:40
No mirante da praia do Jardim de Alah, em Salvador, um conjunto de pinturas de casas se destaca, acrescentando mais vida à paisagem do litorânea. As pinturas foram feitas pela artista Mirian Aragão, 68 anos, que estava caminhando pela região quando viu a possibilidade de transformar o cenário idílico em uma tela urbana. >
Mais que emprestar um caráter artístico à beleza natural, a iniciativa também serviu de estímulo para a manutenção da limpeza na área de praia.>
“Eu estava caminhando pela praia quando vi as pedras e tive a ideia de criar uma cidade. Passava quase todos os dias na região, até que saí com a tinta e comecei o projeto. Tinha muito lixo naquele local, então eu limpei e comecei a pintar. Espero que com as casas, as pessoas parassem de jogar os dejetos ali”, explica. >
Foram necessários quatro dias para Mirian finalizar o projeto. Ela conta que levava os materiais numa bolsa e, durante a caminhada, sentava-se no mirante, onde passava cerca de duas horas, produzindo as casas a partir da tinta acrílica, material usado em pinturas de telas.>
“Conversei com um amigo ambientalista e ele disse que a pintura não agredia a natureza. Tem chovido muito aqui na cidade, mas as casas ainda estão lá. Se começar a apagar a tinta, eu farei o retoque. A maior dificuldade durante esses dias era me levantar, depois que terminava de pintar porque aquele é um terreno complicado, escorregadio e o mirante era alto, o que me deixava com medo de cair”, diz. >
O resultado foi compartilhado nos grupos do bairro, recebendo diversos elogios dos moradores. Mirian também exibe sua rotina de artista plástica na rede social, onde é possível constatar a diversidade das suas telas, que possuem temas variados, que vão desde vestuário, como chapéus, camisetas, mesas, até violões. >
Uma característica, no entanto, norteia o trabalho de Miriam: a pintura de casas, que são uma lembrança de sua origem no munícipio de Ipiaú, no sul baiano. >
“Eu nasci no povoado de Rio do Peixe e fui para Ipiaú muito cedo, onde passei minha infância. Eu amava ver as casas, as paisagens, os palhaços e o circo. Eu crio muitas coisas a partir dessas lembranças da minha época de criança no interior”. >
A relação de Mirian com a arte começou ainda criança, através da irmã, que fazia cursos de pinturas no município de Jequié. A irmã se desencantou e desistiu das produções artísticas, mas isso não reduziu o gosto de Miriam em criar as obras. Apesar disso, mudanças de endereços e a necessidade de cuidar dos três filhos a afastaram da arte. >
“Com o tempo, as crianças foram crescendo e saindo de casa e eu passei a me sentir muito sozinha, então decidi procurar alguma coisa para passar o tempo e me animar. Meu marido me incentivou, dizendo que esse era o meu estilo. Ele também pinta e quando comprava os materiais dele, sempre trazia uma tela para mim”, conta.>
Os amigos também são grandes incentivadores de Mirian na arte. Ela relata que, além do apoio, eles encomendam os materiais feitos por ela, que cobra entre R$ 70 e R$ 500 por produção, variando de acordo com o tamanho e a complexidade do projeto. >
“Hoje, eu estava fazendo uma tela numa parede da casa de uma amiga e fiquei mais de dez horas na produção. Eles falam que eu cobro um preço muito baixo, mas eu não sei cobrar mais caro. Eu gosto de fazer isso e não tenho a intenção de enriquecer com esse trabalho”, finalizou. >
A reportagem procurou a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) para obter esclarecimentos sobre o impacto ambiental e a necessidade de autorização da prefeitura para intervenções artísticas na praia, mas não conseguiu retorno até a publicação desta matéria.>
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela>