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Georgina Maynart
Publicado em 23 de julho de 2018 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Os produtores de manga da Bahia e Pernambuco contam agora com uma nova opção de mercado consumidor no exterior. As autoridades sul-africanas aprovaram a Certificação Fitossanitária que permite a importação das frutas brasileiras.>
A autorização é válida para produtores de manga de todo o Brasil. Mas de imediato beneficia os agricultores do Vale do Submédio São Francisco, que inclui municípios do norte da Bahia e parte de Pernambuco. De acordo com o Ministério da Agricultura, os produtores desta região já estão aptos a atender as exigências e protocolos do processo africano de certificação.>
A primeira remessa não deve demorar. Os agricultores planejam começar a exportar as frutas ainda este ano. “Estamos ansiosos para começar a exportar. A certificação já foi aprovada, vamos aguardar apenas o plano de trabalho que deve ser enviado pelo governo sul africano. Talvez daqui a 60, 90 ou 120 dias. Mas provavelmente ainda este semestre”, afirma Tássio Lustoza, gerente executivo e de exportações da Valexport, Associação dos Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco.>
Para vender mais, os produtores nordestinos devem aproveitar a “janela” de mercado da entressafra na África do Sul, que só produz manga durante quatro meses. Graças à irrigação, a produção de manga no Nordeste dura o ano todo.>
Os produtores rurais aguardavam a decisão desde 2015, quando a Secretaria Federal de Relações Internacionais do Agronegócio iniciou as negociações para obtenção do certificado. A medida vai ao encontro dos projetos do governo federal, que pretende elevar, de 7 para 10% a participação brasileira na agropecuária mundial até 2022.>
Cerca de 25% da produção de mangas do Submédio São Francisco é direcionada para a exportação (foto: Georgina Maynart) >
Verificação>
Em março, deste ano, técnicos sul-africanos chegaram a visitar a região do Vale do São Francisco para verificar os cuidados fitossanitários das propriedades rurais. A comissão avaliou desde o monitoramento das lavouras até a embalagem das frutas.>
Uma das preocupações envolvia a limpeza dos pomares e as ações para evitar a mosca-da-fruta, presente no território brasileiro. A praga causa o apodrecimento dos frutos e é fator de restrição para as exportações.>
O escoamento da manga nordestina para a África deve ser realizado através dos portos de Natal, Fortaleza e Salvador. A África do Sul é o principal parceiro econômico do Brasil no continente africano. O país já importa dos brasileiros produtos como zinco e açúcar, além de máquinas e automóveis.>
Os produtores contam com o apoio da ABRAFRUTAS, Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados, e já exportam para vários países da Comunidade Européia, Estados Unidos e Japão.>
A variedade de manga mais comercializada é a tommy, preferida de 85% dos consumidores europeus. A segunda é a palmer, mais procurada entre os asiáticos.>
600 mil toneladas>
A produção está concentrada nos municípios baianos de Juazeiro, Casa Nova e Curaçá, e nas pernambucanas Petrolina, Lagoa Grande e Belém do São Francisco. São cerca de 3 mil fruticultores nesta área.>
Juntos, eles produziram 600 mil toneladas de mangas no ano passado. Cerca de 150 mil toneladas, 25% da safra foi direcionadas para a exportação, num volume de negócios que ultrapassou US$ 200 milhões de dólares.>
Com mais de 120 mil hectares irrigados, a região é a maior exportadora de mangas do Brasil, sendo responsável por 85% das exportações da fruta. Situação bem diferente das mangas que saem de outro grande polo de fruticultura da Bahia, entre Livramento de Nossa Senhora e Brumado. Nestes municípios do Sudoeste baiano, 100% das mangas são direcionadas para atender o mercado interno, principalmente os supermercados de São Paulo e Rio de Janeiro.>
De acordo com a Associação Comercial da Bahia, a fruticultura da região de Juazeiro e Petrolina gera cerca de 240 mil empregos.>
Selo>
Nas centrais de abastecimento da Bahia, a caixa com quatro quilos de manga custa entre R$ 8 e R$ 9. No mercado internacional, o preço da caixa, também com quatro quilos, custa em média US$ 6, o equivalente a R$ 23. Os preços citados na reportagem levam em consideração aqueles praticados no atacado, diretamente para as centrais de distribuição.>
As mangas do Vale do Submédio São Francisco possuem Selo de Indicação Geográfica, mapeado pelo IBGE, e concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 2009.>
O Selo de Procedência autentica a qualidade e a autenticidade do produto, reconhecendo alimentos únicos no mundo. Considera peculiares tanto o processo de produção quanto as condições climáticas e geográficas. A certificação representa um diferencial de valorização nos mercados nacional e internacional.>
Fruta importada>
Apesar de ser encontrada largamente em várias regiões do país, a mangueira não é uma árvore frutífera nativa do Brasil. Foi trazida pelos colonizadores portugueses de países do sul e sudoeste asiático, onde existem mais de 100 variedades de manga. A fruta tem várias propriedades nutritivas, por ser rica em fibras, vitaminas e minerais, como cálcio, potássio, magnésio. De acordo com o nutricionista Moisés Feitosa, a fruta é benéfica também para o sistema digestivo e imunológico. "A manga tem ação laxante e deve ser consumida por quem tem prisão de ventre, pois eleva o ritmo intestinal. Também fortalece o sistema de defesa do organismo combatendo células cancerígenas”, garante.>
Mas o nutricionista faz um alerta. “Embora promova muitos benefícios, tem pessoas que apresentam intolerância à manga. Então, uma pessoa que consome uma comida muito pesada, por exemplo uma feijoada, pode apresentar dificuldades de digestão". Tem ainda uma dica de receita caseira, recomendada para combater a presença de vermes na flora intestinal. "A manga combate a acidez estomacal e é considerada uma fruta indicada contra vermes. A receita é simples: basta secar o caroço, esmagar ou triturar e cozinhar. Se for consumida com casca, melhor ainda", afirma o nutricionista.>
Coreia>
Para a África o processo está apenas no início. Mas para outros países a comercialização das mangas baianas e pernambucanas está de vento em popa. Neste segundo ano de exportações para a Coreia do Sul, o Vale do São Francisco vai exportar para lá 12,35% a mais do que no ano passado. “Este ano temos uma empresa a mais exportando para a Coreia. Com ela chegamos a quatro exportadoras credenciadas. Apesar de ser um país menor, é um mercado maior do que do Japão. Ano passado nós abrimos este mercado, e este ano estamos fortalecendo esta relação”, afirma Tássio Lustoza. A expectativa é enviar 2,5 mil toneladas de mangas, consolidando a presença dos agricultores do submédio São Francisco no mercado sul coreano. O período de exportação vai aumentar de 3 para 6 meses.>
Atualmente, o Nordeste é responsável por 100% da manga enviada pelo Brasil para o país asiático. >