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O que a Lavagem do Bonfim tem para arrastar multidão?

Milhares de pessoas marcaram presença na procissão entre o Comércio e a Colina Sagrada

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 16 de janeiro de 2025 às 16:06

Imagem do Senhor do Bonfim é reverenciada pelos devotos na Colina Sagrada
Imagem do Senhor do Bonfim é reverenciada pelos devotos na Colina Sagrada Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Entre a multidão, aqueles que batem ponto todo ano. Para outros, ver a imagem do Senhor do Bonfim de pertinho foi como reencontrar um parente que vive longe. Apenas uma coisa é garantida: enfrentar o percurso ao lado da imagem santa, da Basílica da Conceição da Praia até a Colina Sagrada, exige coragem, paciência e - muita - fé.

Quem se comprometeu a chegar cedo ao Comércio, com a missão de ficar colado na imagem, não escapou do empurra-empurra. É ali, naquele miolo apertadinho, que os devotos mais arraigados se reúnem para pagar promessas e pedir bênçãos. Falar com eles ao longo do percurso de quase sete quilômetros não é fácil. O passo precisa ser apressado. Ninguém quer perder seu lugar.

São pessoas como a professora Alice Castro, de 68 anos, que mantém a tradição todos os anos. Dessa vez, com um gostinho ainda mais especial. Escolheu a procissão para agradecer a aprovação da neta no vestibular. "Aos 17 anos, ela passou no vestibular da Universidade do Estado da Bahia para o curso de Nutrição", disse orgulhosa.

A professora sequer lembra a primeira vez que participou da celebração, quando era criança. Alice Castro garante que a emoção é a mesma todos os anos. "O que move tantas pessoas é a fé em Senhor do Bonfim, isso é igual sempre. Percebo um aumento do número de pessoas todos os anos", falou. Dois milhões de pessoas eram esperadas na festa deste ano. Ao lado dos colegas de fé, a devota se emocionou, cantou o Hino ao Senhor do Bonfim e agradeceu.

Neste ciclo de fé, os devotos não bebem cerveja e nem cantam as marchinhas de Carnaval. É como se o caminho fosse trilhado dentro de uma igreja e, por isso, os dogmas devem ser respeitados. Próximo a Associação Comercial da Bahia, por volta das 9 horas da manhã, o choro de Rita Nascimento, 54, chamava atenção. Ela se tremia e sequer reparava no que estava ao redor. Apenas a imagem do Senhor do Bonfim importava.

Desde a pandemia a cozinheira não participava da festa. Quando enfim reencontrou a imagem santa, não conteve as lágrimas. “Quando meu filho tinha 13 anos, foi diagnosticado com meningite bacteriana. Ficou 20 dias internado no hospital. Eu entrei na Igreja do Bonfim e prometi que se ele fosse curado, entraria lá de joelhos”, contou. A graça foi alcançada, e ela é devota desde então.

Lavagem do Bonfim mistura devoção e festa
Lavagem do Bonfim mistura devoção e festa Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Nesta quinta-feira (16), a procissão foi iniciada às 7h40, logo após a realização do tradicional culto ecumênico, na Basílica da Conceição da Praia. As baianas carregaram suas flores e quartinhas até a Colina Sagrada, onde fizeram a lavagem da escadaria do Bonfim. O cortejo também contou com as comitiva do prefeito de Salvador, Bruno Reis, e do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues.

Chame gente

Conforme a caminhada avançava, o fluxo de pessoas crescia. A impressão era de que um grande rio se encontrava com um novo afluente a cada esquina. Vindos do Santo Antônio, Saúde, Barbalho, Liberdade e outros bairros, os fiéis faziam cada vez mais volume na procissão. Por volta das 11 horas, a sensação térmica já era de 33°.

O aposentado Erivaldo Oliveira, de 72 anos, reclamou. “O problema é só o calor. O cansaço a gente nem sente de tanta emoção”, comentou o devoto, que participa da festa desde menino. A manhã até começou nublada, e pingos de chuva foram sentidos em pontos do caminho, mas quem reinou no dia da Lavagem foi o sol. 

Militares do Corpo de Bombeiros tentavam refrescar a multidão que passava pela Avenida Jequitaia, na altura da Calçada, com jatos de mangueira. Um caminhão de cinco mil litros foi utilizado na ação. Copos de água mineral foram distribuídos em três pontos do percurso. Foram 40 mil unidades ao longo do dia.

À medida que a imagem santa se afastava, o clima mudava. Mini trios e fanfarras tocavam músicas de Carnaval e até pagodão. Ao longo do percurso, nem o “hit do tigrinho” ficou de fora. Quem acompanhava a folia antecipada, não se preocupava em estar perto da imagem, mas não deixava de fazer uma selfie. “Olha, tá ali passando! Tira foto”, comentou uma mulher enquanto comprava cerveja.

São vários os motivos que levam alguém a percorrer tantos quilômetros sob o sol quente. Há quem pague promessa, faça pedidos ou vá pela festa. O importante é ir. Se nunca foi, não deixe de ver o que dá nessa procissão que mistura devoção e festa.