Obras interrompidas e desistências: o impacto das ações policiais no Morar Melhor da Gamboa

Moradores do bairro denunciam três tiroteios em ações no último mês

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  • Wendel de Novais

Publicado em 10 de maio de 2024 às 06:10

Casa foi alvo de tiros, de acordo com moradores Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Obras temporariamente interrompidas, áreas de medo para trabalhadores e até desistências de pedreiros. As ações policiais denunciadas por moradores da Gamboa, durante a revitalização de residências pelo programa Morar Melhor, têm impactos na condução do projeto no local. Quem diz isso são os próprios funcionários, que relatam que viveram momentos de desespero enquanto trabalhavam. Segundo eles, a obra acontecia normalmente quando, de repente, ouviram barulhos de tiros disparados em direção à entrada da comunidade, que fica à beira da Avenida Contorno.

O primeiro conta que já viu colegas deixarem a atividade. “Todo mundo aqui ainda está trabalhando porque precisa, mas dois colegas meus foram embora no primeiro dia que teve tiro, para nunca mais voltar. Quando perguntei, falaram que não iam voltar por medo de morrer. Eles [policiais] descem com tudo e não diferenciam quem é morador, quem está trabalhando e quem é envolvido [criminosos]”, reclama o homem que preferiu não se identificar.

A Polícia Militar da Bahia (PM-BA) foi procurada pela reportagem para confirmar a ocorrência. Em resposta, a corporação afirmou que, de acordo com informações do Comando de Policiamento Regional da Capital (CPRC) Baía de Todos-os-Santos, não há qualquer registro de ocorrência desta natureza.

O caso mais recente foi o denunciado por moradores, onde policiais teriam atirado para dentro da comunidade. Não há confirmação oficial do caso pela polícia, mas funcionários informaram que, por conta da ocorrência, uma residência teve as obras paradas. A reportagem foi levada por moradores ao local que, de fato, está com o trabalho parado.

Cápsula de projétil 5.56 foi coletada por moradores Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Outro trabalhador aponta que toda a área onde está a residência dá medo por conta das ações recentes. “Da balaustrada, onde eles atiraram, dá para ver aquela casa e outras vizinhas, além das vielas. Eles, certamente, viram alguma movimentação e começaram a atirar. Porém, nisso, quem trabalha está ali e corre risco. Todo mundo aqui tem medo de levar tiro”, revela, sem dizer o nome.

O Morar Melhor é um programa de revitalização de casas em condições precárias. As obras são de responsabilidade da Secretaria de Infraestrutura de Salvador (Seinfra), que conta com empresas terceirizadas para realizá-las. Procurada para se posicionar sobre o caso, a Seinfra não respondeu até o fechamento desta reportagem.

Luciene de Jesus, 37 anos, mora em uma casa próxima ao local onde houve os tiros na quarta-feira. De acordo com ela, os trabalhadores do Morar Melhor saíram correndo para não acabarem baleados. “Eu estava lavando roupa na hora. Ouvi os tiros e, logo depois, um trabalhador do Morar Melhor, que estava colocando uma janela na casa onde o tiro pegou, saiu correndo. Ele veio em minha direção, passando mal, porque a polícia chegou dando tiro. Eu tentei acalmar ele, dei um copo de água”, fala.

Em 2023, o Instituto Fogo Cruzado contabilizou dois tiroteios e dois mortos na região. Neste ano, até a quarta-feira, foram registrados um tiroteio e uma morte pelo instituto. O deste ano, aconteceu em 3 de abril e não ocorreu em ação policial.