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Gilberto Barbosa
Publicado em 15 de outubro de 2024 às 21:11
Pau-Brasil, Amendoeiras, Ipês e Palmeiras estão entre as mais de 130 espécies que compõem a flora do Dique do Tororó. Ao todo, a lagoa é cercada por aproximadamente 200 árvores que foram catalogadas pelo Projeto Parques Botânicos, lançado nesta terça-feira (15). >
O projeto conta com 13 integrantes, entre professores e alunos do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ibio/Ufba) e pode ser acompanhado pelo perfil (@projeto_parques_botanicos). A vegetação foi identificada através de placas, que apresentam as seguintes informações: nome popular, nome científico, família e origem. Um QR Code também foi disponibilizado para quem procura informações detalhadas sobre as plantas. >
Professora da Ufba, Maria Luiza de Carvalho é uma das responsáveis pela iniciativa e contou que o objetivo é combater um fenômeno conhecido como impercepção botânica, no qual as pessoas não notam a flora que as cercam o que afasta o público da vegetação da cidade. >
"Sabemos o nome de muitas coisas, mas não temos o conhecimento da nossa maior riqueza, que são as árvores. Não nos lembramos que o arroz e o feijão têm origem vegetal, por exemplo. Essas pequenas ações de reforço a afetividade e que mexam no cotidiano das pessoas faz com que elas olhem para essa diversidade e ajudem a preservar a flora das suas cidades”, disse. >
“Estamos levando para a população o conhecimento que produzimos na universidade e que permaneceu fechado durante muitos anos. Dessa forma, as pessoas passam a ter acesso a dados importantes para a educação ambiental, a preservação das espécies e para suas formações individuais”, afirmou Francisco Kelmo, diretor do Ibio/Ufba. >
Apesar da chuva, algumas pessoas aproveitaram o final da tarde, para passear no Dique e ler sobre as plantas. Um deles foi o agente de trânsito Novais Neto, 66 anos, que relembrou passagens da infância durante o percurso. “Eu gostei bastante dessa experiência. Estava passando mais cedo e vi uma paineira que trouxe a memória de quando eu era criança no interior e ouvia um homem contando a história dessa árvore na rádio”, falou. >
Também passaram pela região a estudante de biologia Edilene Pestana, 30, e a servidora pública Dilma Coelho, 50, que estava acompanhada de sua neta Julia Vitoria, de 10 anos. Elas descreveram o que acharam da proposta do Parque Botânico.>
“Eu acho muito importante tornar esse conhecimento acessível. Nós que estamos na área da botânica temos esse amor pelas plantas e sabemos que é importante compartilhar essas informações para o público. É necessário prestigiar esse tipo de iniciativa”, relatou Edilene. >
“Esse projeto é interessante porque ele ressalta o cuidado com o meio ambiente e divulga informações relacionadas a botânica. Muitas vezes você passa e não percebe as árvores que tem ali. Eu sou um exemplo, já que caminho por aqui há muitos anos e não sabia que tinha um pau-brasil no Dique”, explicou Dilma. >
A iniciativa surgiu em 2021 quando a então professora visitante da Ufba, Goia Lyra fez o levantamento de cerca de 80 plantas que ficavam na Praça Morro das Vivendas, no Rio Vermelho. A ideia surgiu após ela perceber que o local seria requalificado, com risco de cortes na vegetação. Em seguida, Goia apresentou a ideia ao Ibio/Ufba que aceitou e criou um programa de extensão para o tema, começando a coletar os dados da vegetação em 2023. >
“Escolhemos o Dique para começar porque é um ponto emblemático da cidade, mas a ideia é expandir para outros cinco parques de Salvador. Não marcamos todas as plantas porque algumas ainda não floriram, dificultando a identificação. As placas foram feitas visando não agredir as árvores e pretendemos monitorar se elas são retiradas e repor caso seja necessário”, continuou Maria Luiza. >
O projeto é realizado pelo Ibio/Ufba em parceria com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e contou com o apoio da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) que ajudou a custear a produção das placas. Para Francisco Kelmo, a catalogação abre uma nova possibilidade de exploração do Dique pelo público. >
“O espaço se transforma em uma grande sala de aula. Com isso, as escolas podem se planejar, trazer seus alunos e apresentar as espécies presentes nessa região. São várias formas que o professor pode explorar o tema, criando um ambiente muito mais agradável e dinâmico para o aprendizado”, exaltou. >
“Essa flora também se torna um meio de promover o bem-estar já que a pessoa vem passear no dique, aproveitar o dia e conversar próximo a uma árvore”, finalizou Maria Luiza.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>