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Maysa Polcri
Publicado em 7 de setembro de 2023 às 13:54
O relógio ainda não marcava 8 horas quando o movimento na Avenida Sete de Setembro, nas proximidades da Praça Castro Alves, já dava o recado: o desfile em comemoração aos 201 anos da Independência do Brasil começaria em breve. Entre crianças, adultos e idosos, centenas de pessoas se espremeram nas grades ao longo dos 2,5 quilômetros do percurso para acompanhar a demonstração de força do Estado da Bahia. >
A chuva que caiu no início da manhã em Salvador não impediu a chegada dos primeiros civis que garantiram seus lugares na grade. Pela vista privilegiada, a aposentada Gildete Brasil, 68, chegou cedo. Vestida de verde e amarelo da cabeça aos pés, ela não perde a oportunidade de demonstrar o orgulho de ser brasileira. Seja no 7 de Setembro ou no 2 de Julho, ela está presente com as unhas do pé pintadas das cores da bandeira. “Toda vez que venho relembro meus tempos de juventude, quando desfilava. É maravilhoso demonstrar nosso amor pelo melhor país do mundo”, disse. >
O sol deu as caras a partir das 9 horas e o céu continuou limpo ao longo de todo o desfile, para alegria da professora Aline Virgínia Santos, de 46 anos. Pela primeira vez participando da celebração do 7 de Setembro, fez questão de demonstrar a empolgação com a data. “Estou bem ansiosa para ver o desfile, é uma data importante, vale a pena conhecer”, falou. Nas duas calçadas da Avenida Sete de Setembro, o público se apertava para fazer registros perfeitos com celulares e crianças subiam em grades para enxergar o desfile. Muitas pessoas usavam roupas com tons de verde e amarelo e empunhavam bandeiras do Brasil.>
Autoridades acompanharam o desfile em uma estrutura montada em frente a Praça Campo Grande, no lado oposto ao Teatro Castro Alves. Bruno Reis (UB), prefeito de Salvador, foi o primeiro a receber as honrarias militares, às 8h45. “A independência garantiu nossa soberania e permitiu que nosso país fosse uma nação autônoma. Que essa independência sirva de inspiração para todos nós baianos e soteropolitanos, para seguirmos com firmeza e autonomia”, declarou Bruno Reis. >
Em seguida, o presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), Adolfo Viana, e o governador Jerônimo Rodrigues (PT) foram saudados pelos militares. As bandeiras do Brasil, da Bahia e de Salvador foram hasteadas às 9 horas. Logo depois, o desfile teve início com a participação de membros da Marinha, Exército e Aeronáutica. Ao todo, 4 mil militares e 2,8 mil civis participaram do evento.>
A demonstração de força da segurança pública baiana vem em um momento delicado para o Governo do Estado. Os conflitos de facções têm tomado conta de localidades como Alto das Pombas, Calabar e Engenho Velho de Brotas. Jerônimo Rodrigues aproveitou a oportunidade para falar sobre o combate à violência na capital. “Estamos fazendo parceria com a Polícia Federal, tanto na inteligência, como nas operações feitas. Mas, por enquanto, não há dúvidas de que não precisamos de intervenção federal”, disse o governador. >
A interação do público com o desfile cívico-militar chegou ao seu ápice às 10h30, quando as fanfarras de alunos militares ganharam a avenida. Pelo sexto ano, a advogada Janete Meira se emociona ao ver a filha de 17 anos desfilar. "Já é uma emoção muito grande assistir ao desfile, que marca uma data tão importante. Mas ver minha filha fazendo parte é ainda mais especial", comemorou. >
O desfile militar chegava ao fim quando manifestantes começaram a se concentrar em frente ao Forte de São Pedro, na Avenida Sete, por volta das 11 horas. A 29º edição do Grito dos Excluídos contou com a participação de diversos grupos sociais e entidades sindicais. O mote da manifestação foi o pedido de justiça pelo assassinato de Mãe Bernate, ativista morta no dia 17 de agosto dentro do Quilombo Pitanga dos Palmares. Três suspeitos foram presos. >
Os gritos de justiça fizeram coro junto aos pedidos pela titulação de terras quilombolas na Bahia. O processo garante reconhecimento e é fundamental para a garantia de direitos às comunidades tradicionais. Fátima Lima vive no Quilombo Alto do Tororó, em Paripe, e revela o medo que é compartilhado entre as 350 famílias que vivem no local. >
“A titulação é o caminho para acabar com a violência contra lideranças quilombolas e indígenas. Tomaram parte do nosso território, temos a perda dos mariscos por conta de empresas que se instalaram lá, então é um momento muito delicado para nós”, afirmou.>