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Risco de intoxicação por metanol divide o consumo de bebidas em festa tradicional de cidade baiana

Temor mudou hábitos dos foliões e afetou vendas de bebidas na Festa de Outubro de Ribeira do Pombal, que aconteceu entre os dias 10 e 12

  • Foto do(a) author(a) Maria Raquel Brito
  • Maria Raquel Brito

Publicado em 16 de outubro de 2025 às 06:00

Consumidores se dividiram entre levar suas próprias bebidas ou arriscar drinks à base de destilados
Consumidores se dividiram entre levar suas próprias bebidas ou arriscar drinks à base de destilados Crédito: Maria Raquel Brito/CORREIO

Artistas de todos os ritmos, parque de diversão e muita bebida. A Festa de Outubro, parte profana das celebrações em homenagem à padroeira Santa Teresa de Jesus, já é tradicional em Ribeira do Pombal, no semiárido baiano. Foram três dias de shows no Estádio Domingos Ferreira Brito – o Ferreirão –, que tiveram início na última sexta-feira (10). Este ano, subiram ao palco artistas como João Gomes, Vanessa da Mata e a banda Ira!.

Nesse período, as barracas de drink sempre reinam, cercando o campo onde acontecem as apresentações. Este ano, de acordo com a prefeitura, foram 54, além dos 125 ambulantes com caixas térmicas espalhadas pelo campo. Outras figuras, geralmente tímidas, marcaram presença forte nesta edição: os coolers com cervejas e outras bebidas trazidas de casa. O motivo é o receio de consumir bebidas adulteradas com metanol, após casos de intoxicação virarem notícia Brasil afora.

“Confiar no supermercado da cidade e comprar um uísque ou curtir a festa sem beber?” foi a questão que Fábia Karyna, professora de 45 anos, e a irmã se fizeram repetidamente até decidirem uma terceira opção. “No fim das contas, não levamos nada e ficamos perto de uma barraca já conhecida, mas comprando só cerveja, nada de destilados”, contou.

Ao se deparar com a mesma dúvida, Thiago Marques preferiu depositar sua confiança no maior supermercado da cidade, que pertence a uma rede que opera em todo o Nordeste. Questionado se sente-se seguro, a resposta do autônomo de 29 anos veio sem hesitação: “seguro na mão de Deus e vou”.

Este ano, foram 52 barracas de drinks na Festa de Outubro por Maria Raquel Brito/CORREIO

O mecânico Wilson Ferreira, de 42 anos, mora em São Paulo, mas faz questão de voltar para Ribeira do Pombal todos os anos para descansar e curtir a Festa de Outubro. Nesta edição, mesmo com o risco de adulteração por metanol, ele não abriu mão de seus coquetéis.

“Lá em São Paulo eu não confio não, mas aqui, como está um pouco distante, eu não estou com medo. Geralmente as falsificações são concentradas mais lá, né? Lá eu estava com medo porque está meio complicado, já teve muita gente próxima a mim que passou por essa situação”, contou.

São Paulo concentra a maior parte das notificações. Na terça-feira (14), mais uma morte por intoxicação por metanol foi registrada em Jundiaí, no interior do estado, e, na última sexta-feira (10), uma fábrica clandestina de bebidas alcoólicas foi fechada na capital paulista.

Apesar da ideia inicial de que as notificações estão distantes, porém, é preciso manter o alerta ligado. Até o momento, 32 casos foram confirmados e 181 seguem em investigação em 13 estados de todas as regiões do país, de acordo com o balanço mais recente do Ministério da Saúde, divulgado nesta quarta-feira (15). No vizinho Pernambuco, as notificações são crescentes: o estado é atualmente o segundo maior em registros, com três confirmados, 31 suspeitos e cinco óbitos. Na Bahia, uma morte foi registrada até o momento.

Daniela Santos, autônoma de 34 anos, preferiu se precaver. Pela primeira vez na festa e ansiosa pelas atrações e para curtir ao lado dos amigos, ela não quis arriscar consumir bebidas adulteradas, mas buscou uma alternativa: quatro coolers com cervejas. “Eu vim para beber todas, mas depois desse negócio, melhor ficar na cerveja zero”, disse.

Vendedores contabilizam prejuízo

Em eventos de porte similar à Festa de Outubro, Vitor Gabriel vende 500 caipirinhas apenas nas primeiras horas. Este ano, a abertura foi um balde de água fria, com cerca de 50 bebidas vendidas no primeiro dia de shows. Natural do Mato Grosso, Vitor participa de festas país afora com sua barraca de drinks. Agora, em seu primeiro ano em Ribeira do Pombal, diz ter dado azar com o timing.

“Infelizmente aconteceu, mas é o que a gente fala, a gente toma um gole primeiro, se preciso. Se morrer, morre todo mundo junto”, brincou, antes de adicionar rapidamente: “mas não vai morrer ninguém, não, porque é tudo de fornecedores autorizados. Inclusive a fiscalização passou aqui hoje, pediu todas as notas fiscais e nós apresentamos tudo bonitinho”.

Kelly Santos, que trabalha numa barraca já tradicional na Festa de Outubro, esperava mais movimento, mas o medo da intoxicação fez com que menos bebidas saíssem nos dias de festejo. Tem gente preocupada, gente brincando... “E tem uns que bebem, o bom é isso”, disse. “Chegam perguntando se tem metanol, se é tudo falso, como é que está, se vai morrer. Eu digo: ‘só você bebendo para saber’”.

A situação era semelhante na barraca João Paulo Drinks. Por lá, o vendedor Wilson garantiu que todas as bebidas têm autorização e que as notas fiscais estão guardadas, para prevenir. Inicialmente, ficou receoso com a possibilidade das vendas caírem muito, mas disse confiar no povo e na fiscalização da festa. E se pedirem para ele beber primeiro? “Eu bebo na hora! Quer uma também?”, disparou.