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Cantora anunciou retorno agravado da doença nas redes sociais, no último domingo (25)
Larissa Almeida
Publicado em 27 de agosto de 2024 às 05:15
A cantora Preta Gil veio à público, no último domingo (25), comunicar aos seguidores que o câncer com o qual havia lutado contra e conseguido a cura há oito meses retornou com maior gravidade. No vídeo publicado no Instagram, ela detalhou que o diagnóstico recente agora inclui dois linfonodos, um nódulo no ureter e uma metástase no peritônio. Dentre todas as condições, a menção à metástase foi a que chamou maior atenção e preocupou mais os internautas, visto que se trata da fase mais agravada do câncer. Mas afinal, o que configura a metástase?
Para explicar o conceito da doença, o oncologista Vinicius Carrera aponta a necessidade de esclarecer a definição de câncer, que nada mais é do que a penetração e proliferação de células malignas em uma parte do corpo. Quando essas células migram do lugar de origem para outros órgãos, ou seja, quando há disseminação das células cancerígenas, o quadro configura metástase. “Por exemplo, um tumor maligno pode iniciar no intestino e, se essas células migram para outros órgãos, como fígado, pulmão, ossos e até mesmo o cérebro, são chamadas de metástase”, elucida.
Em janeiro de 2023, Preta Gil foi diagnosticada com câncer colorretal e iniciou o tratamento com quimioterapia, que resultou no desaparecimento da doença em janeiro deste ano. Em fase de remissão – período de cinco anos em que o paciente precisa se submeter a exames frequentemente para checar se há vestígios do câncer –, ela contou que a descoberta da metástase no peritônio se deu em um exame de rotina. Segundo Vinicius Carrera, tal diagnóstico é sempre possível, já que todo tumor maligno carrega o risco de desenvolver metástase.
“O que leva ao desenvolvimento da metástase é o comportamento biológico do câncer. Existe alguns tumores que adquirem a capacidade de invadir os tecidos, entrar na corrente sanguínea, circular pelo sangue, alcançar algum órgão à distância e se estabelecer. Depois disso, o tumor também tem capacidade de produzir novos vasos sanguíneos, que são do organismo, para que eles sejam alimentados. [...] No caso de Preta, a gordura que envolve as nossas vísceras, que é chamada de peritônio, foi o alvo. É muito comum tumor de intestino dar metástase nessa região, até pela proximidade”, diz o oncologista.
A também oncologista Lívia Andrade afirma que a metástase do peritônio, geralmente, ocorre por disseminação direta. “As células cancerígenas do tumor primário entram na cavidade abdominal e implantam-se na superfície do peritônio. O fluido peritoneal, que está em constante movimento na cavidade abdominal, pode ajudar a disseminar as células tumorais por toda a cavidade, facilitando a implantação em múltiplos locais”, pontua.
Não fossem os exames médicos, a cantora provavelmente não saberia da metástase com antecedência, mas nem sempre a condição é silenciosa. De acordo com Marcos Lyra, oncologista clínico do Hospital da Mulher e Oncologia D’Or, o silêncio se dá mais no início do processo, mas os sintomas dependem de fatores variados, incluindo o tamanho das metástases, o órgão afetado, e a rapidez com que as células cancerosas estão se espalhando.
“Quando os sintomas ocorrem, eles geralmente estão relacionados ao local onde as metástases se desenvolveram. Por exemplo, metástases nos ossos podem causar dor nos ossos e fraturas. Metástases no cérebro podem levar a dores de cabeça, convulsões ou alterações na visão e no comportamento. Metástases pulmonares podem causar falta de ar, dor no peito ou tosse persistente. Já metástases hepáticas podem causar dor abdominal, amarelamento da pele e olhos ou perda de apetite”, cita.
No caso da metástase do peritônio, os sintomas podem incluir dor abdominal ou desconforto, acúmulo de líquido na cavidade abdominal, que pode causar inchaço e distensão abdominal, perda de apetite e sensação de saciedade rápida, além de alterações nos hábitos intestinais, com risco de obstrução.
Os tratamentos da doença também variam conforme o tipo e o caso clínico de cada paciente. Uma metástase no colo do fêmur, que geralmente causa muita dor e dificuldade para andar, demanda tratamento local com radioterapia, cirurgia da lesão ou tratamento medicamentoso injetável, como a quimioterapia, terapia-alvo ou imunoterapia. No caso da metástase que acometeu Preta Gil, Lívia Andrade cita quatro tipos comuns de tratamentos.
“Tem a cirurgia citorredutora, que remove o máximo possível de tecido tumoral, a quimioterapia intraperitoneal (HIPEC), que é uma forma concentrada de quimioterapia, aplicada diretamente na cavidade abdominal durante a cirurgia, visando matar células cancerígenas residuais. Outras opções são a quimioterapia sistêmica, que consiste em medicamentos quimioterápicos administrados por via intravenosa para tratar células cancerígenas em todo o corpo, e a terapia alvo e imunoterapia, que é para tipos específicos de câncer e mutações genéticas”, descreve a oncologista.
A principal forma de evitar a condição, no entanto, é através do diagnóstico precoce. “O tratamento precoce é fundamental para reduzir o risco de metástase e melhorar as chances de controle ou cura da doença”, garante Marcos Lyra.
*Com orientação da subeditora Monique Lôbo