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Maysa Polcri
Publicado em 16 de abril de 2024 às 15:57
Seis anos após o assassinato do ativista Pedro Henrique Santos Cruz, em Tucano, no interior da Bahia, ainda faltam provas para que os indiciados pelo crime sejam levados a julgamento. Foi o que disseram integrantes do Ministério Público da Bahia (MP-BA), em uma reunião para debater o caso, no final da manhã desta terça-feira (16). O encontro foi um pedido de familiares da vítima e da organização não governamental Anistia Internacional, presente em 150 países. >
“Esse é um caso de difícil resolução. Temos uma indicação de prováveis suspeitos envolvidos, decorrente do depoimento de uma testemunha que estava no local. Mas o entendimento de todos os promotores que já passaram pelo caso é que ainda há fragilidade probatória para levar isso ao judiciário”, disse o promotor Ernesto Cabral, coordenador do Grupo de Atuação Especial Operacional de Segurança Pública (Geosp). >
Pedro Henrique, que denunciava a brutalidade no município baiano, foi morto com oito tiros em dezembro de 2018. Um ano após o crime, a Polícia Civil indiciou os policiais militares Bruno de Cerqueira Montino, Sidnei Santana Costa e José Carlos dos Santos pela execução. Até hoje, no entanto, o Ministério Público não arquivou o caso e nem denunciou os suspeitos - o que também impede que eles tenham amplo direito de defesa. A reportagem não conseguiu localizar os advogados dos suspeitos.>
O Ministério Público aguarda que o Departamento de Polícia Técnica (DPT) envie laudos de exames balísticos das armas utilizadas no crime. A expectativa é que a perícia ajude no fortalecimento da denúncia. “O caso de Pedro Henrique é um dos prioritários do Geosp pela sua sensibilidade e complexidade. Ele tem sido discutido para tentarmos avançar na investigação e dar uma força probatória maior [...] Se levarmos hoje para a Justiça com o que temos [de provas] a chance de sucesso é mínima”, completou Ernesto Cabral. >
O procurador-geral de Justiça da Bahia Pedro Maia também participou da reunião e garantiu que o caso recebe atenção do MP-BA. Segundo ele, uma equipe da procuradoria-geral será deslocada para Tucano e vai acompanhar de perto as investigações e realizar oitivas. >
“Vamos levar isso até o último esforço e dar as respostas que a família e a sociedade esperam. Faremos isso com toda a segurança de que, uma vez que o caso seja judicializado, teremos condições de fazer cumprir as leis brasileiras e punir os responsáveis pela morte de Pedro Henrique”, disse Pedro Maia. >
Durante o encontro, a diretora executiva da Anistia Internacional Jurema Werneck entregou cartas da campanha Escreva Por Direitos ao procurador-geral Pedro Maia. A campanha mobilizou cerca de meio milhão de assinaturas em protesto pela impunidade do caso. >
“Pedro Henrique foi abusado pela polícia da Bahia pela primeira vez em 2012 e, desde então, recorreu ao Ministério Público, já que este é o órgão com o dever de realizar o controle externo da atividade policial. São 12 anos de uma trajetória de muitas falhas e violações gravíssimas de direitos humanos”, falou Jurema Werneck. >
A namorada da vítima na época é a principal testemunha do crime. Ela estava na casa da de Pedro Henrique quando homens invadiram a residência e mataram o ativista. Entre 2012 e 2018, ele fez cinco denúncias ao Ministério Público sobre condutas de policiais militares em Tucano, cidade onde morava. Os pais e os dois irmãos da vítima participaram da reunião. >
“Não vejo ninguém sofrer punição a não ser a nossa família. Em todos esses anos apenas nós fomos punidos com o assassinato de Pedro”, disse Davi Cruz, irmão da vítima. Ao longo dos anos, a mãe de Pedro e Davi, Ana Maria, foi denunciada pelos suspeitos da execução do filho pelos crimes de injúria e difamação. A família relata ser alvo de ameaças. A Defensoria Pública da Bahia presta assistência jurídica aos familiares. >
Não há prazo para que todas as provas sejam recolhidas para que a denúncia seja enviada à Justiça. Outra reunião está marcada para acontecer com a presença de integrantes do Governo do Estado e a Anistia Internacional, nesta terça-feira (16). Jurandir Pacífico, filho de Mãe Bernadete, liderança quilombola morta em agosto do ano passado, também esteve na reunião e lembrou a morte do irmão e da matriarca. O caso também é acompanhado pela Anistia Internacional. >
Relembre o caso >
Em 2012, Pedro Henrique foi vítima de agressão em uma abordagem policial na frente da casa de seu pai, em Tucano (BA), e, desde então, encaminhava denúncias com o mesmo teor às autoridades. No interior, passou a receber diversas denúncias de pessoas que também foram vítimas de violência da polícia. Daí surgiu a ideia de organizar a Caminhada da Paz, que reunia anualmente moradores da cidade>
No dia 27 de dezembro de 2018, segundo relatos de testemunhas, pelo menos três homens invadiram a casa do pai de Pedro Henrique no bairro de Matadouro em busca dele. Ao não encontrarem ele, exigiram que o pai de Pedro Henrique os dissesse onde o filho estava. >
Por volta das 3h da manhã, os atiradores entraram na casa de Pedro Henrique e o mataram com oito tiros. Pouco tempo após o crime, no dia 4 de janeiro de 2019, uma testemunha prestou depoimento à Corregedoria Geral da Segurança Pública do Estado da Bahia e afirmou que foram policiais militares que mataram o jovem.>
O crime foi investigado pela Polícia Civil da Bahia, que indiciou os policiais Bruno de Cerqueira Montino, Sidnei Santana Costa e José Carlos Dias dos Santos pelo crime. O inquérito policial segue com o Ministério Público da Bahia. >