Sem metrô e ônibus lotados: apagão gera caos no transporte de Salvador

Sistema metroviário ficou 9 horas sem funcionar

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  • Maysa Polcri

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Publicado em 15 de agosto de 2023 às 19:14

Passageiros precisaram pegar ônibus lotados após paralisação do metrô
Passageiros precisaram pegar ônibus lotados após paralisação do metrô Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Atraso para o trabalho, ônibus e pontos lotados, compromissos desmarcados e dificuldade para pedir carro através de aplicativos. Se você precisou sair de casa na manhã de terça-feira (14), em Salvador, é provável que tenha enfrentado pelo menos uma dessas situações. O apagão de energia elétrica, que afetou as cinco regiões do Brasil e todos os municípios da Bahia, gerou caos e transtorno para quem trafegava pela capital baiana.

Os passageiros do metrô foram surpreendidos pela suspensão do serviço por volta das 8h30. Quem estava dentro dos vagões precisou caminhar pelos trilhos até chegar nas plataformas. Mas antes do sistema ser completamente interrompido, apresentou sinais de que havia problemas. “O trem ficou mais devagar e parou pelo menos três vezes da Lapa até o Acesso Norte. Ninguém entendeu nada, foi um desespero”, contou a técnica de enfermagem Linaete Monteiro, 52. 

Alguns vagões não chegaram até as plataformas e ficaram parados no meio dos trilhos. Às 17h17, a Linha 2, que vai do Acesso Norte até Lauro de Freitas, voltou a funcionar, de acordo com a CCR Metrô Bahia. O serviço só foi restabelecido completamente às 17h46, mais de nove horas depois da paralisação. A demora foi decorrente de reparos no sistema depois da  desenergização repentina, explicou a concessionária. Enquanto o sistema de bilhetagem ainda não era normalizado, os passageiros não precisaram pagar as passagens. 

Sem metrô, os ônibus viraram alternativa para a maioria. Uma multidão saiu em direção aos pontos e houve tumulto, especialmente da Avenida Paralela. Os ônibus ficaram lotados devido ao efeito cascata. Vitor Andrade, de 21 anos, mora em São Rafael e leva poucos minutos da Estação Pituaçu até o trabalho, no Shopping Paralela. Na manhã de terça-feira, no entanto, teve que recorrer ao ônibus. “Eu sempre pego o metrô, mas hoje não teve jeito”, reclamou.

Quem também esperava um ônibus por volta das 10h, dessa vez na Estação CAB, era Jeferson Alcantara, 21. Quando saiu do Subúrbio Ferroviário nas primeiras horas da manhã, o estudante não tinha ideia do transtorno que iria enfrentar ao longo do dia. Soube do apagão assim que chegou na faculdade, localizada na Av. Paralela. A professora suspendeu as aulas diante da falta de energia.

O estudante faz parte do grupo de pessoas que, sem o metrô, enfrentaram uma jornada mais demorada para chegar ao seu destino. Em um dia normal, Jeferson demora duas horas no trajeto entre a casa e a faculdade mas, com o apagão, não tinha ideia de quando conseguiria voltar para o Subúrbio. “Consegui uma carona até a estação e vou ter que pegar três ônibus já que o metrô não funciona”, disse.

Vagões ficam parados fora das plataformas durante apagão
Vagões ficam parados fora das plataformas durante apagão Crédito: Marina Silva/CORREIO

Judith Monteiro, de 79 anos, estava no Comércio quando soube da queda de energia. Ela tinha uma consulta marcada, mas, com receio dos impactos da falta de energia, decidiu voltar para casa, em Cajazeiras VII. “Eu fiquei morrendo de medo porque a violência hoje em dia está demais, imagina sem luz o que pode acontecer”, disse. Enquanto aguardava o segundo ônibus para voltar para casa, na Estação Pirajá, conversou com a reportagem. “Esse apagão deixou tudo um caos. O ônibus estava lotado, não tinha nem lugar para pôr o pé no chão”, reclamou.

Em cada estação, não faltou gente para ficar de cara para o portão esperando o retorno. Em Brotas, Fátima Silva, 45, ficou por uma hora esperando antes desistir de pegar o metrô até Pirajá. "Vou voltar para casa e ver como eu faço para resolver no trabalho. Daqui, não consigo fazer nada e, se não tem energia como dizem, lá também não conseguiria trabalhar", conta ela, que é recepcionista.

Fátima chegou a questionar funcionários da CCR Metrô, que opera o modal, porque viu luzes ligadas dentro da estação. "Daqui dá pra ver o quiosque com energia e as luzes acesas lá dentro. Então, por que não tem metrô? Perguntei à moça e ela respondeu que não tem energia o suficiente que suporte para voltar tudo ao normal", afirma ela.

Em nota, a CCR Metrô Bahia informou que os acessos às estações ficariam fechados até o restabelecimento da energia elétrica, o que não havia acontecido até às 17 horas. “Todos os clientes que estavam nas Estações foram orientados a evacuar as plataformas no momento da ocorrência, assim como os que estavam dentro dos vagões, que foram encaminhados com segurança para as plataformas mais próximas”, pontua.

Transalvador faz operação especial após semáforos ficarem sem funcionar

A falta de energia trouxe um grande problema nas ruas da capital. Semáforos pararam de funcionar em todos os bairros e agentes de trânsito deram início a uma operação especial. A Transalvador informou que os funcionários ficaram espalhados nas principais vias e cruzamentos da cidade, mas não detalhou quais foram os pontos e nem quantos semáforos deixaram de funcionar. Por volta das 11h, quando o fornecimento de energia começou a ser retomado, o funcionamento foi retomado gradativamente. Às 16h, todos os equipamentos estavam normalizados, de acordo com a Transalvador.

Gilson Bôuças, supervisor da Transalvador, explicou que o trabalho realizado pelos agentes durante a manhã teve foco nos cruzamentos mais movimentados da cidade, como nas proximidades da Praça Dr. João Mangabeira, nos Barris. “A grande preocupação são os cruzamentos, então nós canalizamos as vias com prismas plásticos para evitar acidentes”, disse. A canalização de tráfego é um sistema complementar de sinalização, que indica as direções a serem seguidas pelos motoristas.

Semáforos só voltaram a funcionar por completamente por volta das 16 horas
Semáforos só voltaram a funcionar por completamente por volta das 16 horas Crédito: Marina Silva/CORREIO

Pelo menos um acidente foi registrado durante o apagão, na Baixa dos Sapateiros, próximo ao Corpo de Bombeiros. A colisão entre um carro e um ônibus coletivo aconteceu às 11h15 e deixou uma pessoa ferida. A vítima foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e a via foi liberada cerca de uma hora depois.

Ainda de acordo com a Transalvador, não houve pontos de retenção anormal no trânsito pela manhã. Quem ficou sem a opção do metrô e tentou fugir dos ônibus lotados solicitando carros por aplicativos, também enfrentou dificuldades. Motoristas relataram que o serviço ficou instável durante a manhã. Procurada, a 99 informou que a queda de energia aumentou a demanda de solicitações de corridas em Salvador, mas negou que o serviço tenha sido interrompido. A Uber foi procurada, mas não se manifestou até a finalização desta matéria.

Passageiros enfrentam filas na rodoviária durante apagão

O apagão também afetou o dia na Rodoviária de Salvador. Enquanto as lojas, apesar de abertas, ficaram sem luz, os passageiros enfrentaram filas no início da manhã em frente às agências na hora de comprar passagens. Caso de Manoel Barreto, que só conseguiu viajar para Itabuna após uma hora de espera.

"Vou para Itabuna e deixei para comprar a passagem aqui mesmo no terminal. Só que está sem cartão e pix por conta da queda de energia e a fila está enorme já que eles estão fazendo tudo manualmente. Sorte que estou com um dinheiro físico em mãos e vou comprar para não perder", relata.

Procurada para responder sobre a situação, a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba) informou que 'não houve maiores problemas na rodoviária' e explicou que as concessionárias que não tinham um serviço integrado para emissão de passagens, retirando-as fisicamente.

Um funcionário da agência, que preferiu não se identificar, explicou como foi o processo. "O nosso sistema caiu desde às 8h15 mais ou menos. Não estamos tendo acesso, o que não deixa vender pelo sistema. Está sendo o processo manual mesmo, recebendo dinheiro físico e preenchendo fichas para que os ônibus continuem saindo e que ninguém fique prejudicado", garantiu.

Mesmo assim, os passageiros que compraram no local precisaram ter paciência para encarar filas, assim como os que já estavam de passagem comprada e tiveram que lidar com atrasos na saída.

No Aeroporto de Salvador, por outro lado, os geradores garantiram o funcionamento normal e não houve impactos nas operações de pousos e decolagens, de acordo com a concessionária Vinci Airports.

Elevador Lacerda fica cinco hora sem funcionar e usuários reclamam

O enfermeiro Ângelo dos Santos chegou no Elevador Lacerda por volta das 10h, quando foi surpreendido com o serviço suspenso. Ele programou o dia para resolver problemas na Cidade Alta, mas teve a programação impactada pela interrupção do fornecimento de energia, que não havia acontecido quando saiu de casa, às 7h. De acordo com a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob), o equipamento oparou de funcionar às 9 horas e o o serviço só foi retomado às 14h, cinco horas depois. 

Elevador Lacerda só teve o funcionamento restabelecido às 14 horas
Elevador Lacerda só teve o funcionamento restabelecido às 14 horas Crédito: Marina Silva/CORREIO

“Dar de cara com elevador fechado foi horrível, mas eu não entendi isso. Se existe um gerador, por que não ativaram ele?”, questionou Ângelo enquanto aguardava o retorno do funcionamento, às 11h30.

Já Rafael Luís dos Santos, 40, saiu de casa sabendo da ocorrência do apagão, no entanto, acreditava que a interrupção não iria durar mais de duas horas. “Pensei que seria uma coisa momentânea, que iria retornar logo”, afirmou ele, que também aguardava a ativação do equipamento, sem possibilidade de mudar o roteiro e subir pela Ladeira da Conceição. “Se não voltar, vou para casa. Não vou me arriscar indo pela ladeira, por causa da segurança”, pontuou Rafael.

*Colabooração de Millena Marques.