Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Maysa Polcri
Publicado em 28 de julho de 2025 às 19:13
Tudo parecia ir contra a tartaruga Jorge. Encontrado em 1984 por pescadores, o animal passou mais de quatro décadas em um cativeiro na Argentina, longe dos instintos treinados pelos riscos do alto-mar. Com cerca de 60 anos e pesando 130 quilos, sua vida poderia estar próxima do fim. Mas como em um plot twist de filme de Hollywood, o destino da tartaruga-cabeçuda teve uma reviravolta inédita. Jorge reaprendeu a viver na natureza e foi libertado em abril. Nos últimos três meses, tem nadado em direção à Bahia, sua terra natal. >
Foram mais de 3,5 mil quilômetros percorridos desde o dia 11 de abril, quando a tartaruga foi liberada ao mar na cidade de Mar del Plata, na Argentina. A soltura faz parte de um projeto de reabilitação e reintrodução que envolve uma equipe multidisciplinar composta por profissionais e pesquisadores. Jorge tem sido monitorado desde então e foi visto pela última vez na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. >
Em águas cariocas, o animal passou a ser monitorado pelo Projeto Aruanã, que colabora com uma rede de cientistas do Brasil, Argentina e Uruguai, dedicados à conservação de tartarugas marinhas no Atlântico. A equipe recebe diariamente dados da localização enviados por um aparelho acoplado ao caso do animal. A tartaruga entrou na Baía no dia 16 deste mês. Os pesquisadores se preocupam com as condições do local, que enfrenta problemas de poluição por esgoto e agentes químicos. >
"A torcida agora é para que Jorge siga rumo à Bahia, seu local de nascimento identificado por estudos genéticos — e quem sabe, em breve, volte a se reproduzir por lá", afirma o instituto. O animal viveu durante 37 anos em uma piscina de 20 mil litros de capacidade e 1,5 metro de profundidade, no aquário de Mendoza. Nos últimos três anos, esteve no Aquário de Mar del Plata, em Buenos Aires, com três metros de profundidade e 150 mil litros de água.>
Tartaruga que viveu mais de 40 anos em cativeiro chega ao Brasil
A decisão de soltar o animal na natureza foi tomada em 2021. Até que voltasse ao mar, Jorge passou por três anos de treinamento e readaptação para sobreviver sozinho. A velocidade e a consistência do trajeto percorrido pela tartaruga chamou atenção dos pesquisadores. São quase 40 quilômetros percorridos diariamente. >
"Em pouco mais de dois meses, cruzou águas argentinas e uruguaias e agora está explorando o oceano ao largo do Brasil, em direção a áreas quentes e ricas em biodiversidade que poderiam lhe oferecer alimento e abrigo", diz o Projeto Tamar. Apesar de a expectativa ser grande para que a tartaruga retorne ao litoral baiano, onde nasceu, ainda não dá para ter certeza que este será o destino do animal. >
É o que explica Nathalia Berchieri, coordenadora de pesquisa e conservação do Tamar Bahia. Ao contrário das tartarugas fêmeas, que retornam às praias onde nasceram para depositar seus ovos, o mesmo não costuma acontecer com os machos. "Existem poucos estudos sobre machos porque eles ficam majoritariamente no mar e em áreas de reprodução", explica a bióloga. As fêmeas se guiam pelo campo magnético do planeta. >
Segundo Nathalia Berchieri ainda não se sabe para onde Jorge está voltando. "Essa espécie se reproduz aqui no Brasil, desde o norte do Rio de Janeiro até o Rio Grande do Norte. Também temos importantes áreas de alimentação no litoral", completa. Apesar de a ciência não cravar, se depender da torcida brasileira, Jorge em breve retornará ao litoral baiano. >