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Yan Inácio
Publicado em 29 de julho de 2025 às 05:00
A cada ano, mais vidas são perdidas para acidentes de trânsito na Bahia. Segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), o número de mortes causadas por ocorrências no trânsito saltou de 2.319 em 2020 para 2.887 em 2024, um salto de 24,5%. Para se ter uma ideia, no ano passado, quatro pessoas morreram a cada hora por incidentes na pista. >
Isso se reflete nos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) na Bahia, R$ 23,8 milhões foram despendidos para o tratamento de vítimas do trânsito em 2024, de acordo com dados do Ipea com base em dados do Datasus, divulgados pelo g1. A Sesab registrou 17.452 internações por acidentes de trânsito nesse período, um aumento de 10% em relação a 2023.>
Pessoas que sofreram acidentes com motocicletas representam 75% das internações por acidentes em estradas na rede hospitalar da Bahia, que supera as vítimas em veículos de quatro rodas ou mais, bem como pedestres e ciclistas atropelados. No estado, cerca de 60% das UTIs gerais estão ocupadas por vítimas de acidentes de trânsito.>
“A ortopedia representa, hoje, uma das maiores demandas por atendimento no estado da Bahia, cujas principais causas são acidentes de trânsito, sobretudo de motociclistas, e quedas de idosos”, analisa a Sesab, em nota. Os R$ 24 milhões gastos com tratamentos no estado em 2024 poderiam servir para custear, por exemplo, cerca de 67 ambulâncias do SAMU. >
Esse valor seria bem menor caso não houvesse a interrupção dos repasses do seguro DPVAT, extinto em 2021. Até então, 45% da arrecadação do seguro, cobrado no licenciamento de veículos, era destinada a cobrir atendimentos médico-hospitalares de vítimas de trânsito em todo o país. Entre 2011 e 2020, esse valor somou R$ 5,8 bilhões ao sistema público de saúde em todo o Brasil.>
Em escala nacional, a curva de gastos hospitalares do SUS com vítimas do trânsito é crescente há 27 anos. Em 1998, o valor foi de R$ 301,7 milhões; hoje, soma quase 50% a mais em termos reais. O maior salto foi registrado entre 2008 e 2009, quando os custos passaram de R$ 280 milhões para R$ 386 milhões em apenas um ano. Nem mesmo a pandemia de Covid-19 freou a escalada: em 2020, com o trânsito reduzido, os custos foram de R$ 404,9 milhões.>
O orçamento do SUS também seria menos impactado se, por outro lado, a prevenção estivesse em voga. Segundo o policial rodoviário Fábio Rocha, as principais infrações têm em comum o desrespeito às normas de trânsito e a imprudência. “Muitas vezes, os condutores assumem riscos desnecessários ao ultrapassarem em locais proibidos, transitarem em alta velocidade ou invadir a contramão, o que pode resultar em colisões frontais de grande gravidade”, afirma.>
Fábio defende que os condutores devem manter uma postura defensiva, antecipando possíveis riscos e reagindo de forma segura.“A principal variável no trânsito continua sendo o comportamento humano. Muitos condutores ignoram as normas de segurança, dirigem de forma imprudente ou desconsideram as condições da via. Além disso, a tecnologia não substitui a atenção e o bom senso do motorista. A conscientização e o respeito às leis de trânsito ainda são as melhores formas de reduzir acidentes”, destaca.>
Foi pedido um posicionamento ao Ministério da Saúde sobre os gastos do SUS com vítimas de trânsito em 2024, que não foi respondido até o fechamento desta edição. A Secretaria de Saúde de Salvador foi procurada para informar sobre o impacto das ocorrências no trânsito para a demanda de atendimentos na capital e informou que não conseguiria responder até o fechamento. Já as polícias Rodoviária Federal (PRF) e Rodoviária Estadual (PRE), não responderam à solicitação de dados sobre os principais acidentes atendidos nas rodovias baianas. O espaço segue aberto.>