Uma mulher foi assassinada na Bahia por questões de gênero a cada quatro dias em 2022

43% dos autores de agressão armada contra mulheres eram pessoas que tinham proximidade com a vítima

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 8 de março de 2024 às 05:00

Ato contra o feminicídio no Distrito Federal na cidade satélite de São Sebastião (DF)
Ato contra o feminicídio no Distrito Federal na cidade satélite de São Sebastião (DF) Crédito: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

No Brasil, 43% dos autores de agressão armada contra mulheres são pessoas que têm proximidade com a vítima, sejam parceiros, amigos, conhecidos ou familiares. Desse grupo, destaca-se a violência por parceiro íntimo, que alcançou sua maior expressão em 2022, quando 28% das notificações de violência envolvendo emprego de arma de fogo tiveram como autores os parceiros ou ex-parceiros das vítimas. As informações são da pesquisa O Papel da Arma de Fogo na Violência Contra a Mulher, realizada pelo Instituto Sou da Paz, com dados retirados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), ambas importantes bases de dados do Ministério da Saúde.

Apesar de o estudo não dispor de dados específicos sobre a Bahia, os casos registrados indicam que o estado segue a tendência nacional. Só em 2022, 107 casos de feminicídio foram computados em território baiano, segundo informações da edição de 2023 do estudo Feminicídios na Bahia, divulgado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) e a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). O aumento em relação a 2021 foi de 15,1%. Isso significa dizer que uma mulher foi assassinada na Bahia por questões de gênero a cada quatro dias. Ou ainda que, de cada cinco mortes violentas de mulheres na Bahia, duas foram feminicídios.

Relembre casos

No dia 8 de fevereiro de 2022, Benedita Santos Santana, de 57 anos, foi morta pelo seu vizinho após um desentendimento no bairro de Fazenda Coutos III, em Salvador. De acordo com a Polícia Militar da Bahia (PM-BA), a equipe de PMs foi acionada para averiguar a denúncia de uma mulher caída ao solo, vítima de disparos de arma de fogo, na Rua Santo Antônio. No local, a guarnição constatou o fato. 

No dia 18 de dezembro de 2022, a idosa Janice Brandão Moreira, de 64 anos, foi assassinada pelo marido no bairro de Massaranduba. Uma equipe da 17ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) foi chamada por volta das 21h30 para atender uma ocorrência na Rua Simões Sobral, afirmando que uma mulher estava sendo espancada pelo companheiro. No local, eles já encontraram a mulher caída dentro de casa, sem vida.

À TV Bahia, a vizinha Selma Santana demonstrou espanto pelo ocorrido. "Matou ela dormindo e ele mesmo chamou a polícia e avisou os filhos que tinha matado. 'Eu matei sua mãe'. Quando os policiais chegaram, ele estava sentado de junto do corpo. Eu estou aqui triste, porque era uma pessoa maravilhosa. Nunca vi os dois brigando", disse.

Outra vizinha, que era amiga da vítima, relata que ela já tinha sugerido a Janice sair de casa e afirma ainda que o suspeito tinha problemas com várias pessoas da rua. "A gente era muito amiga. Ela me contava segredos, eu contava segredos para ela. Eu mandava ela sair de dentro de casa, ela nunca queria sair por causa dele, dizia que ele era doente, que tinha mente de deixar ele", afirma Conceição Ferreira. "Nem sei (o que ele tinha), ele não se dava bem com a rua toda, tinha inimigo aqui, batia porta na cara dos outros tratava mal as pessoas", completou. 

No dia 22 de dezembro de 2022, um policial militar matou a ex-mulher a tiros em um salão de beleza dentro do Big Bompreço da Avenida ACM, em Salvador. Greice Kelly Rocha Soares, 26 anos, foi baleada oito vezes. Segundo testemunhas, Greice trabalhava no local como depiladora. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi chamado e prestou atendimento à vítima, mas ela teve a morte confirmada no local após meia hora.

De acordo com amigos e familiares, os dois tinham um relacionamento bastante conturbado e Greice chegou a ser atacada a faca pelo policial anteriormente, mas contou aos conhecidos que o ferimento no braço havia sido causado por uma queda de vidro. Uma amiga de Greice contou que ela estava "tentando se separar", mas o PM não aceitava o fim do relacionamento.

Essa amiga afirmou também que a depiladora estava no trabalho havia menos de um mês, depois de deixar o emprego antigo justamente porque o policial ia várias vezes no local atrás dela. "Ela sempre falava de várias brigas. E ele já tinha vindo em outros trabalhos dela, o último trabalho que ela saiu foi por causa dele", disse a amiga, que se identificou como Carol. "Ela mesma falava que ia se separar dele." Os dois chegaram a morar juntos, mas à época do crime estavam vivendo separados, justamente por conta dos conflitos. 

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro