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Veja relato de cientista que viveu depressão por saber o que as mudanças climáticas prometem

Alexandre Costa conta que chorou ao ler um artigo científico sobre a acidificação dos oceanos

  • Foto do(a) author(a) Carolina Cerqueira
  • Carolina Cerqueira

Publicado em 23 de março de 2024 às 05:00

Alexandre Costa é físico, professor e ambientalista especialista em mudanças climáticas
Alexandre Costa é físico, professor e ambientalista especialista em mudanças climáticas Crédito: Arquivo Pessoal

A bomba estourou em 2014. O climatologista Alexandre Costa, 54, professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE), chocou a plateia lotada da Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Lá acontecia um colóquio com filósofos, historiadores e cientistas sociais, mas também pesquisadores das ciências naturais. Um dos grandes nomes convidados era Bruno Latour, antropólogo francês referência nos estudos sociais, que morreu em 2022.

Alexandre começou a ministrar sua palestra sobre a crise ecológica e, de cara, já foi possível perceber que não estava ali para dar boas notícias. Com uma apresentação de slides, mostrou quão grave era a situação já em 2014 e observou as fichas das pessoas na plateia caindo. Ao final, abriu para perguntas.

Uma mulher, ao microfone, questionou: “Como você consegue dormir à noite e ser feliz todos os dias?”. Alexandre abriu a mochila, sacou duas caixas de remédio e exibiu os antidepressivos como quem saca uma arma. “Jogando dopado”, respondeu. O ocorrido não passou despercebido pelos jornalistas presentes e foi parar até na Revista Piauí.

Foi a gota d’água no copo já cheio. Todos os dias, ele recebe uma enxurrada de informações como: as concentrações de gases de efeito estufa estão nos níveis mais altos em 2 milhões de anos; a década entre 2011 e 2020 foi a mais quente já registrada na história; oceanos batem recorde de elevação; primeira região de clima semelhante ao de deserto é identificada no Brasil.

A chave virou no dia em que, após ler um artigo com provas da acidificação dos oceanos causada pela emissão de dióxido de carbono da atmosfera, chorou sozinho em seu escritório. Depois desse episódio, foi ladeira abaixo, como ele mesmo descreve. “Era muito isolamento e frustração, parecia que as coisas estavam andando para trás. Eu estava fragilizado”, lembra.

Alexandre diz ter começado a mergulhar no problema em 2007, quando estava como gerente do departamento meteorologia da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos. “Depois de um certo boom do tema, ele praticamente sumiu da pauta. Eu fui percebendo que não havia progressos e nem resultados. Vi que estávamos imersos numa guerra muito difícil de ganhar”, relata.

A coisa piorou, na opinião de Alexandre, quando surgiram as desinformações e o negacionismo. “As pessoas estavam falando que aquecimento global não existe, que CO2 é bom para as plantas, que se desmatar nasce de novo. Senti que estávamos andando para trás”, acrescenta.

Foi então que resolveu criar um blog, que mais tarde virou um canal no YouTube, com um nome providencial: “O que você faria se soubesse o que eu sei?”. Ele escrevia conteúdos compulsivamente para canalizar a angústia. “Era muito duro tocar a vida. Me senti paralisado e tirei licença após o diagnóstico de depressão profunda”, diz.

Após a ajuda profissional, Alexandre diz que os sentimentos ruins não desapareceram, mas ele aprendeu a lidar melhor com eles. A militância, o ativismo e o canal no YouTube o ajudam nessa empreitada. Mas continua convivendo com um questionamento, que diz martelar em sua cabeça e provocar uma genuína dor:

“Como pode ter gente tão má? Como pode ter gente tão mesquinha, profundamente perversa e pervertida ao ponto de sabotar ações de resolução ou minimização desse problema? Como pode ter gente defendendo o seu dinheiro e ligando o foda-se para o planeta e tudo que há nele em defesa do seu lucro pessoal?”, desabafa o climatologista.

Que sentimento é esse?

O relato de Alexandre está intimamente conectado com o conceito de ecoansiedade. “Eco-anxiety” em inglês, a palavra foi incorporada pelo dicionário de Oxford em 2021 e é definida pela American Psychological Association (APA) como "medo crônico da catástrofe ambiental". Provocando estudos desde a década de 1990, promete atingir cada vez mais pessoas nos próximos anos.

Leia a reportagem abaixo para saber mais sobre os impactos mentais que as mudanças climáticas podem causar e conferir mais relatos como o de Alexandre.