Vende-se ou aluga-se: Narandiba vive esvaziamento de casas e comércios por violência do CV

Ao menos 30 famílias foram expulsas de suas casas no bairro por traficantes da facção

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  • Wendel de Novais

Publicado em 14 de março de 2024 às 18:00

Anúncios são comuns nas portas de imóveis de Narandiba Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

‘Vende-se’, ‘Aluga-se’ e ‘Ótimo preço’ são anúncios até repetitivos para quem caminha por alguns metros em Narandiba observando as residências do local. Na Avenida Edgard Santos, via principal do bairro e referência comercial para os moradores, até as lojas estampam as mesmas mensagens. Por lá, o Comando Vermelho (CV) tem aumentado os episódios de violência armada e até expulsado famílias que não acatem as regras impostas pelo grupo criminoso. Por isso, quem tem condição de sair por conta própria, não hesita ao deixar o endereço no passado.

“Tenho uma tia que morava aqui, mas também tem casa em outro bairro. A casa estava alugada, mas ela esperou o contrato do aluguel acabar, não renovou e se mudou para lá. Não suportava mais os tiroteios e o tráfico aqui. É que ela morava bem para dentro de Ubatã”, conta um morador, que prefere não se identificar. A localidade de Ubatã, para fontes da polícia, é conhecida como a central do CV no bairro, onde armas e drogas são amenizadas.

O morador, ao falar sobre uma possível mudança do bairro, não titubeia ao dizer que faria o mesmo que a tia. “Não pensaria nem uma vez a mais. Aqui está sem condições, você vive com medo de acabar sendo baleado, fora que eles [CV] oprimem os moradores também. E, como a polícia não tem pena, só chega aqui levantando tudo. Ficamos no meio dessa guerra com medo até de botar o pé na rua, dependendo do dia”, completa ele.

Imóveis estão disponíveis por conta de violência no bairro por Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

A reportagem procurou uma das pessoas que tem anúncio de venda de imóvel no local para entender como tem sido para conseguir um inquilino. “Se você passou por aí, já deve imaginar. Baixei o valor em 30% e nada. Quem quer morar em um lugar onde tem essa confusão toda? Há um tempo que a residência ser perto de policlínica, delegacia e da avenida principal não vence o fato que tem bandido circulando com arma na mão toda hora”, destaca.

O último caso de violência no bairro se deu com dois idosos feitos reféns na noite de quarta-feira (13) por integrantes do CV. Segundo informações da Polícia Militar, seis criminosos invadiram a casa deles quando fugiam da polícia após uma troca de tiros. Antes mesmo do caso de cárcere, ainda na manhã do mesmo dia, cerca de 14 homens teriam atacado viaturas da 23º Companhia Independente de Polícia Militar da Bahia (CIPM), responsável pelo policiamento na região.