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Carol Neves
Publicado em 19 de novembro de 2025 às 13:02
A passagem do cometa 3I/Atlas pelo interior do Sistema Solar chega à reta final após ele ter reaparecido do outro lado do Sol no fim de outubro. A aproximação máxima da Terra ocorrerá em 19 de dezembro, a cerca de 270 milhões de quilômetros, distância quase duas vezes maior do que a que nos separa do Sol. Telescópios espaciais e observatórios em solo devem aproveitar os últimos meses de visibilidade - amadores com equipamentos de 8 polegadas também podem tentar observá-lo. >
O interesse pelo 3I/Atlas não ocorre apenas porque ele está de visita: este é apenas o terceiro objeto interestelar já identificado, o que o torna um visitante raro de fora da nossa vizinhança cósmica. Estudos iniciais sugerem ainda que ele possa ser mais velho que o próprio Sistema Solar. Há estimativas que apontam sua formação há mais de 7 bilhões de anos, durante o nascimento de um sistema estelar distante, antes de iniciar uma jornada interestelar que levou bilhões de anos.>
Cometa interestelar 3I/Atlas
Um visitante que passa uma única vez>
A trajetória e a velocidade do 3I/Atlas indicam que ele não está preso ao nosso Sol, ao contrário dos cometas conhecidos. Ele entrou vindo da direção da constelação de Sagitário e seguirá viagem rumo a outro ponto da galáxia no início de 2026, sem retorno previsto. O telescópio Atlas, instalado no Chile e financiado pela Nasa, identificou o objeto em julho de 2025.>
As primeiras medições feitas pelo Telescópio Espacial Hubble, em agosto, apontam que o 3I/Atlas pode ter entre 440 metros e 5,6 quilômetros de diâmetro. Na época de sua descoberta, ele cruzava o espaço a aproximadamente 61 km por segundo.>
Quando a física normal vira combustível para especulações>
Esse visitante interestelar ganhou manchetes e teorias nas redes sociais após apresentar aceleração não gravitacional enquanto se aproximava do Sol. O comportamento, relatado por cometas em aquecimento, levou alguns a imaginar motores alienígenas impulsionando o objeto. O professor de Harvard Avi Loeb alimentou a discussão ao levantar a hipótese de um “motor de foguete tecnológico”.>
A repercussão cresceu quando figuras públicas entraram na conversa. Kim Kardashian escreveu no X: "Espere... qual é a fofoca sobre o 3I Atlas?!?!!!!!!!?????", e até Elon Musk comentou o assunto em entrevista ao podcast The Joe Rogan Experience, observando que uma nave feita de níquel seria tão pesada que poderia “obliterar um continente”.>
O que realmente está acontecendo>
Astrônomos afirmam que tudo o que foi registrado até agora pode ser explicado por fenômenos naturais. A aceleração extra é compatível com a desgaseificação, processo em que gelo interno se transforma em gás, expulsando jatos que funcionam como pequenos propulsores. “O brilho rápido pode nos dizer que existe muito gelo fresco ali”, explica Lintott.>
O 3I/Atlas também ficou mais luminoso de forma súbita e pode ter mudado de coloração, passando de avermelhado para azul — algo que virou alimento para teorias sobre energia extraterrestre. Os pesquisadores, contudo, dizem que existem diversos motivos naturais para o fenômeno e que ainda investigam a razão exata.>
Composição química desperta curiosidade>
Medidas mais recentes revelaram grandes quantidades de dióxido de carbono e uma presença elevada de níquel. Como o metal é usado em espaçonaves humanas, isso reacendeu especulações nas redes. Porém, cometas já observados, como o 2I/Borisov, também continham níquel.>
A abundância do elemento pode refletir as condições do ambiente onde o 3I/Atlas se formou ou ser resultado de bilhões de anos sob radiação interestelar - algo que o Telescópio James Webb já sugeriu em dados preliminares.>
Embora a internet tenha se divertido com memes e conspirações, a Nasa e praticamente toda a comunidade científica reforçam que não há evidências de origem artificial. A maioria considera o 3I/Atlas um cometa “normal” - apenas muito mais antigo e vindo de muito mais longe do que os que costumamos ver.>
Com o avanço de novos equipamentos, como o Observatório Vera Rubin, no Chile, pesquisadores esperam identificar diversas dezenas de objetos interestelares na próxima década. Só então será possível comparar esses viajantes e entender melhor como o nosso próprio Sistema Solar se encaixa no cenário mais amplo da galáxia.>