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Perla Ribeiro
Publicado em 15 de outubro de 2025 às 18:13
Astrônomos confirmaram a presença de um raro cometa originário de fora do Sistema Solar, oficialmente denominado 3I/Atlas. Este é o terceiro objeto interestelar já registrado. No momento, ele está a cerca de 670 milhões de quilômetros do sol. Sua maior aproximação ocorrerá em 30 de outubro de 2025, quando passará próximo à órbita de Marte, a aproximadamente 1,4 unidade astronômica (210 milhões de quilômetros) de distância do sol. Não há risco de colisão com a Terra.>
Antes do 3I/Atlas foram identificado o 1I/ʻOumuamua, em 2017, e o 2I/Borisov, em 2019. Detectado pela primeira vez em 1º de julho de 2025, por meio do telescópio Atlas (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System), localizado em Río Hurtado, no Chile, o 3I/Atlas segue uma órbita hiperbólica. Ou seja, ele não está preso gravitacionalmente ao sol. Após análises, os astrônomos concluíram que o 3I/Atlas veio do espaço interestelar e que, após cruzar o sistema solar, continuará sua trajetória rumo ao espaço profundo, sem retornar. >
As observações indicam que o 3I/Atlas é um cometa ativo, com núcleo gelado e envolto por uma coma — a nuvem brilhante de gás e poeira característica desse tipo de objeto. Por conta disto, o objeto também recebeu uma denominação de cometa: C/2025 N1. Imagens obtidas pelo Telescópio Espacial Hubble da Nasa em 21 de julho de 2025 mostram detalhes que permitem estimar o tamanho do núcleo. Estimar o tamanho de um cometa ativo é difícil, pois a presença da coma de poeira impede a observação direta do núcleo, mas a partir destas imagens é possível estimar que o objeto pode ter diâmetros entre 320 metros e 5,6 quilômetros. >
Sua trajetória incomum levantou rapidamente a suspeita de origem interestelar, hipótese confirmada por observações de diferentes equipes ao redor do mundo. O número “3” na designação oficial indica que este é o terceiro objeto desse tipo já identificado, enquanto a letra “I” significa “interestelar”. O nome “Atlas” faz referência à equipe responsável pela descoberta.>
À medida que se aproxima do sol, é esperado que o cometa 3I/Atlas fique cada vez mais ativo, uma vez que a atividade de cometas está ligada à sublimação de voláteis que existem em seu interior, que por sua vez é causada pelo aumento na temperatura superficial devida ao aumento no fluxo solar sobre o objeto, que fica mais intenso conforme ele chega mais perto do sol. Astrônomos explicam que objetos como o 3I/Atlas são fragmentos remanescentes de outros sistemas planetários, formados a partir de materiais que não compartilham a mesma origem do nosso Sistema Solar. Seu estudo pode fornecer pistas valiosas sobre a formação de mundos distantes.>
Conforme destacou o astrônomo do ON, Dr. Márcio Carvano, este é apenas o terceiro objeto interestelar já observado, e a descoberta desta nova categoria de objeto é consequência do aumento no número de campanhas dedicadas ao mapeamento do céu e à melhoria das técnicas de análise de dados. “Ainda são muito poucos objetos, mas cada um é único e, à medida que mais objetos são descobertos, eles podem permitir entender um pouco melhor o processo de formação de outros sistemas planetários”, completou.>
Sobre a diferença entre um cometa interestelar de um cometa comum do nosso sistema solar, Carvano pontuou que a composição dos corpos que se formam em torno de cada estrela reflete em boa parte a composição da nuvem proto-estelar a partir da qual essa estrela se formou. 1I/’Oumuamua não foi observado com atividade cometária. O único outro cometa interestelar observado, 2/I Borisov, era consideravelmente mais rico em monóxido de carbono que os cometas típicos do nosso sistema solar, o que deve ser indicativo da composição do disco proto-planetário onde ele se formou. >
Fundado em 1827, o Observatório Nacional (ON) é uma Unidade de Pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) que desempenha um papel fundamental na construção e desenvolvimento dos campos científicos da Astronomia, Geofísica e Metrologia em Tempo e Frequência no Brasil, nas quais realiza pesquisa, desenvolvimento e inovação, com reconhecimento nacional e projeção internacional. Suas atividades incluem a formação de pesquisadores em cursos de pós-graduação, geração, conservação e disseminação da Hora Legal Brasileira e a divulgação e popularização do conhecimento científico produzido. >