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Carol Neves
Publicado em 20 de janeiro de 2025 às 11:21
Centenas de idosas com dificuldades de locomoção vivem na maior prisão feminina do Japão, em Tochigi, ao norte de Tóquio. Algumas delas precisam de ajuda para realizar tarefas simples. A crescente população carcerária idosa expõe problemas mais amplos do Japão, como o envelhecimento da sociedade e a solidão que afeta essa parcela da população, conforme relatado pela CNN. Guardas e funcionários explicam que muitas prisioneiras idosas preferem continuar presas devido a esses fatores.>
Takayoshi Shiranaga, oficial da prisão, comentou que algumas detentas chegam a afirmar que pagariam para morar ali permanentemente, caso tivessem condições financeiras. >
Yoko, uma detenta de 51 anos, que foi presa diversas vezes ao longo dos últimos 25 anos por tráfico de drogas, observou que, a cada retorno à prisão, a população carcerária se torna mais envelhecida. Ela acredita que algumas pessoas cometem crimes intencionais para garantir sua volta ao sistema prisional, especialmente quando enfrentam dificuldades financeiras.>
Em Tochigi, cerca de 20% das detentas são idosas, e a prisão adaptou seus serviços para atender a essa nova realidade. De 2003 a 2022, o número de prisioneiros com 65 anos ou mais no Japão quase quadruplicou, o que também alterou a dinâmica do sistema carcerário no país.>
Shiranaga explicou que, agora, além de questões de segurança, a prisão também lida com necessidades de cuidados básicos, como troca de fraldas e ajuda nas atividades cotidianas. Ele comparou a prisão mais a uma casa de repouso do que a uma instituição penal tradicional.>
Entre os crimes mais comuns cometidos por prisioneiras idosas, o furto se destaca, principalmente entre as mulheres. Em 2022, mais de 80% das mulheres idosas presas no Japão foram encarceradas por roubo, segundo dados do governo japonês. Muitas delas, como Akiyo, de 81 anos, cometem furtos para sobreviver, uma vez que 20% da população idosa no Japão vive na pobreza, um índice significativamente superior à média dos 38 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).>
Akiyo, que já havia sido presa anteriormente por roubo de alimentos, afirmou que a prisão oferece a ela uma vida mais estável e que, caso estivesse financeiramente bem, não teria cometido o crime. Ela explicou que seu último furto foi motivado pela extrema pobreza e pela falta de apoio familiar, uma realidade enfrentada por muitos idosos no Japão, que após cumprirem suas penas, não têm para onde voltar. "Talvez esta vida seja a mais estável para mim", avaliou. >
Abandono>
O abandono familiar é outro grande desafio, com muitos ex-detentos idosos sendo deixados à própria sorte após cumprirem suas penas. Megumi, uma agente penitenciária de Tochigi, relatou que muitos idosos, ao serem libertados, não têm ninguém para cuidar deles, o que contribui para sua reincidência.>
As autoridades japonesas reconhecem o problema e, desde 2021, o Ministério do Bem-Estar Social tem implementado programas de apoio para evitar a reincidência entre os idosos. Esses programas incluem orientação para uma vida independente, recuperação de dependência de substâncias e apoio em questões familiares. O governo também está considerando medidas para tornar os benefícios de moradia mais acessíveis para idosos, com algumas cidades já implementando iniciativas nesse sentido.>
Apesar dessas tentativas, o Japão enfrenta um grande desafio: a população idosa cresce rapidamente, e o país precisará de milhões de profissionais de saúde até 2040 para atender a essa demanda. As prisões, como a de Tochigi, continuam a lidar com um número crescente de detentos idosos, e o sistema carcerário tem se adaptado para prestar os cuidados necessários.>
Akiyo, que terminou sua sentença em outubro, confessou estar cheia de vergonha e com medo de se reconectar com seu filho. Ela planejava pedir desculpas, mas estava temerosa de como ele poderia reagir, refletindo o peso do isolamento e da vergonha que muitos idosos enfrentam, tanto dentro quanto fora das prisões.>