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Carol Neves
Publicado em 11 de dezembro de 2025 às 13:17
Um novo pacote de exigências preparado pelo governo Donald Trump prevê que estrangeiros que viajam aos Estados Unidos terão de entregar às autoridades americanas um histórico completo de suas redes sociais dos últimos cinco anos. A proposta, apresentada pela Agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP, na sigla em inglês), também solicita números de telefone utilizados no mesmo período, endereços de e-mail dos últimos dez anos e uma série de informações biométricas, como rosto, impressões digitais e leitura da íris. As informações foram divulgadas pelo jornal The Guardian.>
Segundo o aviso publicado na terça-feira, as mudanças seriam incorporadas ao formulário do Sistema Eletrônico de Autorização de Viagem (Esta) e respondem a uma ordem executiva assinada por Trump no primeiro dia do novo mandato. Na ordem, o presidente determina medidas que garantam que visitantes “não tenham atitudes hostis em relação aos seus cidadãos, cultura, governo, instituições ou princípios fundadores”.>
A ampliação das exigências inclui ainda dados detalhados de familiares - nomes, endereços, datas e locais de nascimento - inclusive de crianças.>
O plano alcança cidadãos de 42 países atualmente liberados de solicitar visto para entrar nos EUA, entre eles aliados históricos como Reino Unido, França, Alemanha, Austrália e Japão.>
A CBP sustenta que tem autoridade para revistar aparelhos eletrônicos de qualquer viajante que tenta entrar no país. A recusa não é proibida, mas pode resultar em barramento. Em 2024, a agência informou ter examinado cerca de 47 mil dispositivos entre os 420 milhões de viajantes que cruzaram a fronteira.>
Impacto na Copa do Mundo>
As novas regras podem complicar a movimentação de turistas durante a Copa do Mundo do ano que vem, torneio que será sediado conjuntamente por Estados Unidos, Canadá e México. A Fifa estima a presença de 5 milhões de torcedores apenas nos estádios, além de milhões de visitantes circulando pelos três países.>
A indústria do turismo já sofre retração desde o início do segundo mandato de Trump, marcado por políticas rígidas contra migração, como a proibição de qualquer pedido de asilo e o bloqueio de entrada de viajantes de mais de 30 países.>
A Califórnia prevê uma queda de 9% nas visitas internacionais em 2025. Em Los Angeles, a Hollywood Boulevard registrou redução de 50% no fluxo de pedestres no verão, enquanto Las Vegas também enfrenta forte baixa alimentada pela popularização dos apps de apostas.>
Mesmo antes dessas propostas, os EUA já haviam encarecido o turismo internacional com uma taxa extra de US$ 100 por visitante estrangeiro por dia em parques nacionais como Yosemite e Grand Canyon - além dos ingressos tradicionais. A entrada gratuita nesses parques no feriado de Martin Luther King Jr. foi cancelada, mas seguirá disponível no aniversário de Trump, restrita a cidadãos americanos.>
Ofensiva>
As medidas surgem após uma ofensiva mais ampla contra vistos para residência e trabalho. Em agosto, o Serviço de Cidadania e Imigração (USCIS) anunciou que passará a verificar “opiniões antiamericanas”, inclusive em redes sociais, ao analisar pedidos de pessoas que desejam morar no país.>
Estudantes estrangeiros têm sido pressionados a liberar acesso às suas contas; quem se recusa é visto com suspeita. Alguns alunos já foram detidos após demonstrarem apoio a palestinos. A política também alcança candidatos ao visto H1-B, voltado a profissionais qualificados, que agora enfrentam uma taxa de US$ 100 mil.>
Na semana passada, o governo orientou consulados a negar vistos a pessoas que já trabalharam com verificação de fatos ou moderação de conteúdo em plataformas digitais, alegando que seriam “responsáveis por, ou cúmplices em, censura ou tentativa de censura de expressão protegida nos EUA”.>
Há ainda uma proposta para reduzir de cinco anos para oito meses o período de validade dos vistos de jornalistas estrangeiros e uma cobrança de US$ 250 para todos os visitantes que não pertencem aos 42 países isentos de visto.>