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Carol Neves
Publicado em 14 de novembro de 2025 às 10:06
O Tribunal Superior de Londres decidiu nesta sexta-feira (14) que a mineradora australiana BHP é “parcialmente culpada” pelo rompimento da barragem de Fundão, desastre que devastou Mariana (MG) em 2015. O reconhecimento da responsabilidade pela corte britânica pode abrir caminho para indenizações bilionárias: os atingidos pedem 36 bilhões de libras - mais de R$ 251 bilhões.>
A decisão encerra a primeira fase do processo no High Court, iniciado em outubro de 2024 e concluído em março deste ano com depoimentos de especialistas e sobreviventes. Agora, mais de 600 mil afetados seguem na expectativa do segundo julgamento, previsto para outubro de 2026, quando serão definidos os valores de reparação.>
O caso chegou ao Reino Unido porque a BHP mantinha uma de suas sedes em Londres. Os autores da ação - entre eles 31 municípios, empresas e comunidades indígenas - recorreram à Justiça britânica após considerarem insuficientes as medidas adotadas no Brasil.>
Barragem rompida em Mariana
Tragédia de Mariana>
A tragédia ocorreu em 5 de novembro de 2015, quando o colapso da barragem da Samarco, controlada pela BHP e pela Vale, liberou 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos. A lama percorreu 650 quilômetros pelo Rio Doce até o oceano Atlântico, deixou 19 mortos, destruiu comunidades, matou animais e devastou áreas de floresta protegida.>
A BHP afirma que não era “poluidora direta” e diz ter prestado assistência a 432 mil pessoas, empresas locais e comunidades indígenas. Os advogados das vítimas, porém, argumentam que menos de 40% dos afetados foram alcançados pelos acordos firmados. “As empresas simplesmente tentam pagar o mínimo possível para prolongar a situação e o sofrimento das vítimas”, afirmou em março o advogado Tom Goodhead, que representa os autores da ação. “Estamos tentando obter mais dinheiro para mais pessoas. Para as vítimas, mais importante que o dinheiro é a responsabilização.”>
A frustração com desdobramentos no Brasil impulsionou a busca por justiça no exterior. Em novembro, a Justiça brasileira absolveu as empresas ao considerar que as provas não foram “determinantes” para atribuir responsabilidade. Pouco antes, autoridades haviam fechado com as mineradoras um acordo de R$ 132 bilhões. >
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) divulgou nota celebrando a decisão, que classificou de "vitória histórica". Leia abaixo:>
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) considera uma vitória histórica dos atingidos e atingidas em todos os continentes a decisão na corte inglesa que responsabiliza a BHP Billiton pelo rompimento da barragem de Fundão, que rompeu em 5 de novembro de 2015 e matou 19 pessoas, provocou um aborto forçado pela lama, além de poluir, pelo menos, 800 km de cursos d'agua.>
Essa decisão reafirma as denúncias feitas pelo movimento nos últimos 10 anos, sobretudo, sobre a atuação da justiça brasileira que ainda não foi capaz de responsabilizar a Vale, alegando falta de provas.>
O MAB segue suas lutas em busca de justiça no Brasil para que a Vale não fique impune e continuará fortalecendo a mobilização internacional contra grandes corporações para que novos crimes como Mariana e Brumadinho não se repitam.>