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Carol Neves
Publicado em 5 de novembro de 2025 às 07:14
Consolidando o favoritismo apontado nas pesquisas, o democrata Zohran Mamdani foi eleito nesta terça-feira (4) como novo prefeito de Nova York e assumirá o comando da cidade em 1º de janeiro. Aos 34 anos, o político de origem africana, muçulmano e autodeclarado socialista desafia os padrões tradicionais do Partido Democrata e da maior cidade dos Estados Unidos. >
A vitória foi construída com uma combinação de discurso progressista e habilidade nas redes sociais - foi no TikTok, durante uma maratona, que ele anunciou sua candidatura nas primárias democratas. A estratégia digital, marcada por vídeos criativos e referências à cultura pop e ao cinema de Bollywood, impulsionou sua popularidade e o ajudou a derrotar o experiente ex-governador Andrew Cuomo, que tentou voltar à cena política como candidato independente.>
Mamdani também se tornou símbolo de renovação dentro do Partido Democrata, que tenta se reerguer após a derrota nas eleições presidenciais de 2024. O escritor nova-iorquino Chris Hayes, autor do livro O Canto da Sereia, comparou o impacto do novo prefeito ao de Barack Obama. “Eu mal havia ouvido falar de Mamdani, e não sabia que ele ia concorrer à prefeitura até ele aparecer no ‘feed’ do meu Instagram e TikTok”, afirmou Hayes em entrevista ao The New York Times.>
Zohran Mamdani
Origem e trajetória>
Nascido em Kampala, Uganda, e criado em Nova York desde os sete anos, Mamdani é filho da cineasta indiana Mira Nair e de um pai ugandês. Fluente em seis idiomas - inglês, hindi, bengali, urdu, árabe e espanhol -, o novo prefeito conhece bem a realidade nova-iorquina. Durante a campanha, conquistou especialmente os eleitores da classe média, que enfrentam o alto custo de vida da cidade, em especial o preço dos aluguéis.>
Em junho, o valor médio de locação superou pela primeira vez os US$ 4 mil (cerca de R$ 21,8 mil), segundo o site StreetEasy. Diante desse cenário, Mamdani propôs congelar os aluguéis de cerca de dois milhões de inquilinos e ampliar a construção de moradias. Ele também defende transporte público e creches gratuitos, supermercados subsidiados e maior taxação sobre grandes fortunas. “Francamente, eu não acho que deveríamos ter milionários”, declarou durante a campanha.>
Fé e representatividade>
Mamdani fala abertamente sobre ser muçulmano, algo ainda sensível em Nova York desde os ataques de 11 de setembro de 2001. Em discurso recente, afirmou: “O sonho de todo muçulmano é simplesmente ser tratado da mesma forma que qualquer outro nova-iorquino. No entanto, por muito tempo, nos disseram para pedir menos do que isso e para nos contentarmos com o pouco que recebemos. Chega”.>
Críticas e ataques>
Sua ascensão provocou reações dentro e fora do Partido Democrata. O ex-prefeito Eric Adams apoiou Cuomo e o acusou de “não respeitar o Departamento de Polícia de Nova York”. Cuomo, por sua vez, foi acusado de tolerar ataques islamofóbicos feitos por aliados.>
A disputa também chamou a atenção do presidente Donald Trump, que chegou a apoiar Cuomo publicamente e a chamar Mamdani de “lunático comunista”. Em julho, o republicano escreveu: “Como presidente dos Estados Unidos, não vou deixar esse lunático comunista destruir Nova York. Fiquem tranquilos: eu tenho todos os controles e todas as cartas na mão. Vou salvar a cidade e torná-la ‘quente’ e ‘grandiosa’ novamente”.>
Em resposta aos ataques, Mamdani declarou no Centro Islâmico do Bronx, em 24 de outubro: “Ontem, Andrew Cuomo riu e concordou quando um apresentador de rádio disse que eu comemoraria outro 11 de Setembro... Independentemente do que digam, ainda existem certas formas de ódio que são aceitáveis nesta cidade”.>
Um novo capítulo para os democratas>
Descrito por analistas como um “terremoto político”, o triunfo de Mamdani representa um giro à esquerda dentro do Partido Democrata. Ao mesmo tempo em que é comparado a Obama pelo carisma e pela narrativa de superação, o novo prefeito também é visto como um desafio à velha guarda da política nova-iorquina.>